terça-feira, 18 de setembro de 2007

VII. Hodiernos cristãos: conclusões

O pano de fundo destas consequências é o que igualmente antes indicámos. O cristão aceita como natural não confrontar a vida com o absoluto, o eterno e o infinito. O cristianismo para ele torna-se idiossincrasia, quase folclore. Interiorizou que a vida é amputação e que apenas no seu caso concreto existe uma necessidade quase afectiva de Cristo. Esquece a dimensão objectiva do Cristo.

Bento XVI, mais que qualquer outro papa é o papa do ecumenismo, mais ainda que do diálogo das religiões (tema vasto e bem mal tratado que mereceria muito a dizer). Por isso é um papa do dogma, da teologia, do recentramento. Por isso é um papa europeu por excelência; embora a sua mensagem seja universal percebe que ainda hoje em dia o coração da intelectualidade cristã está na Europa e só por via do ecumenismo pode ser íntima (e não apenas funcionalmente) sarado[1].

Com cristãos que se julgam modernos, mas vivendo uma espiritualidade dos anos sessenta, precisamente por não viverem no seu século, não conseguem com ele comunicar. Com cristãos que acham que o cristianismo é derrota e estreitamento sob a capa da doçura e do cordeiro que é levado ao abate temos criaturas simpáticas, mas não expansivas. Esquecem-se que o cristianismo é expansão e não retraimento, e que se não se fez o cristianismo pela espada é igualmente religião de guerreiros.



Alexandre Brandão da Veiga


[1] Os apressados dizem que o papa se tornou favorável à adesão da Turquia, mas o leitor mais atento perceberá que foi Erdogan, o primeiro-ministro turco quem disse isso e não o papa nem nenhum seu porta-voz. A pobreza e a desonestidade intelectuais são tão grandes hoje em dia que até um Recepp qualquer se torna porta-voz oficial do papa para os olhares menos ilustres.

2 comentários:

Anónimo disse...

Espero que continue a escrever neste blog. As suas entradas são muito interessantes e verdadeiramente iluminantes.

Anónimo disse...

Faço também eco do anterior comentador anónimo para com os seus pertinentes, profundos e muito interessantes posts.
Muito obrigado,
Carlos Catroga Inez