quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Um homem honrado


Pierre Mendès France nasceu há cem anos. E a França celebra o facto. Também editorialmente.
Vale a pena lembrar e, para tanto, vale a pena ler. Pierre Mendès France foi uma grande personalidade da vida pública francesa, durante uma boa parte do século XX. Governou a França pouco mais de sete meses, mas a sua influência política foi imensa e perene. Em rigor, Mendès France foi um mito.
Mais do que tudo, constituiu uma extraordinária referência moral. Guiava-o a preocupação do bem comum, radicava a sua acção no respeito pelo adversário, assentava o seu discurso no escrúpulo de dizer sempre a verdade.
Foi um homem de carácter, incómodo como todos os que o são. Culto, competente, corajoso, capaz de autoridade. Nascido na esquerda, perseguido pelo regime de Vichy, desafiou todas as qualificações ideológicas para incarnar uma ideia de República que deixou lastro bem para lá da sua família política de origem.
Permaneceu toda a vida fiel às suas ideias, num registo inquebrantável da mais alta exigência democrática. Sem medo, foi ele que disse: “Gouverner, c’est choisir”.
Pierre Mendès France fica na história como um homem de bem, um homem maior e, incontestavelmente, um homem de honra…
Entre nós, quando falham exemplos e tudo parece degradar-se dia a dia, importa lembrar que a política permite gente assim. Ou melhor, que a exige!

1 comentários:

Anónimo disse...

Mendès France era, com Raymond Aron, as referências francesas da maior dignidade e rectidão ideológica.

Vindos ambos da esquerda, ambos tiveram dificuldades em fazer passar as suas ideias num meio intelectual do pós-guerra completamente dominado pela esquerda, encimada pela figura mediática de Sartre.

Ainda hoje a França, que por duas vezes no século XX não passou a falar alemão devido a ter sido salva disso pelos americanos, tem um ódio profundo aos seus salvadores e às politicas mais liberais - como bem explica Jean Francois Revel na "Obsessão Antiamericana", e Bernard Henry-Levy, na "Vertingem Americana".

Mendès France, pela lucidez das análises e pelo brilhantismo das ideias no meio da teia esquerdista dominante, ainda hoje faz falta à democracia francesa e a todos nós.

Digo eu...

Saloio