Desabafos de Verão (II)
Estive de férias uns dias e regressei bem disposta. Voltei pacificada, tolerante, sereníssima. Mas, diz o povo, que de boas intenções está o inferno cheio e logo eu me vi a arder às mãos de Belzebu…
Tudo isto a pretexto de uma noite televisiva – ontem, 3 de Setembro de 2007, na RTP1. Com o ar sério de quem discute coisas sérias, algumas personalidades da nossa praça (num ramalhete que incluía Medeiros Ferreira e Jorge Coelho!), moderadas pela tristemente irreconhecível Maria Elisa Domingues, aprofundaram o tema da vida e morte da princesa Diana de Gales. Foram quase duas horas de conversa. Lamentável e irrelevante conversa.
O que importa, aliás, não é recordar o momento. O bom senso antes manda esquecer. Mas é imperativo que me indigne e, diria, que nos indignemos. Não é possível tolerar como natural um debate de noite inteira, na televisão pública, sobre os amores e desamores de Lady Di, sobre as suas frustrações, fragilidades ou equívocos. O registo, note-se, era estritamente o de uma conversa de cabeleireiro, em torno de uma qualquer edição da Hola! – uma coisa deplorável. Sem pudor. Com aquele ar pretensioso de quem arrisca verdades teoréticas a propósito de detalhes que deleitariam criadas de servir… De chorar!
Será que alguém pode aceitar que falemos de serviço público? Será que podemos demitir-nos de questionar a televisão que temos? Ou de reivindicar a televisão que não temos?!
Tudo isto a pretexto de uma noite televisiva – ontem, 3 de Setembro de 2007, na RTP1. Com o ar sério de quem discute coisas sérias, algumas personalidades da nossa praça (num ramalhete que incluía Medeiros Ferreira e Jorge Coelho!), moderadas pela tristemente irreconhecível Maria Elisa Domingues, aprofundaram o tema da vida e morte da princesa Diana de Gales. Foram quase duas horas de conversa. Lamentável e irrelevante conversa.
O que importa, aliás, não é recordar o momento. O bom senso antes manda esquecer. Mas é imperativo que me indigne e, diria, que nos indignemos. Não é possível tolerar como natural um debate de noite inteira, na televisão pública, sobre os amores e desamores de Lady Di, sobre as suas frustrações, fragilidades ou equívocos. O registo, note-se, era estritamente o de uma conversa de cabeleireiro, em torno de uma qualquer edição da Hola! – uma coisa deplorável. Sem pudor. Com aquele ar pretensioso de quem arrisca verdades teoréticas a propósito de detalhes que deleitariam criadas de servir… De chorar!
Será que alguém pode aceitar que falemos de serviço público? Será que podemos demitir-nos de questionar a televisão que temos? Ou de reivindicar a televisão que não temos?!
2 comentários:
O que foi interessante nesse programa é que ele continua a retratar o modo como parte do nosso país ainda hoje olha para o Reino Unido. De lá vem uma cultura superior a que muitos poucos - "a elite" - podem ter acesso. Maria Elisa teve acesso e vem para cá dar-nos a conhecer essa (Sua) grande descoberta. Valha-nos Deus por isso. Diria mesmo que o nome de Maria Elisa deveria mudar para Mary Elise (o pouco nexo desse seu nome fica-se a dever ao facto de ela lá ter estado apenas uns anos). Alguns, como eu, não têm paciência é para aturar esse exercício de mera vaidade burguesa. A solução é escrever textos como este ou mudar de canal.
Será que aquilo é serviço público? É claro que não. É claro que do que se tratou foi de um mero exercício de vaidade pessoal e burguesa de uma pessoa (Mary Elise) e, provavelmente mais importante, de como essa senhora traz dentro de si aquilo que é um tipo de sociedade que já deveria ter sido abandonada há muito neste nosso país. Seria serviço público se reflectíssemos sob a temática que está por detrás do filme "A Rainha". Essa temática não tem nada haver com a morte de Diana (o título seria "A Diana") ou de como ela se sentia mal com as relações entre Carlos e Camila, e de como queria fazer inveja a náo sei quem por cáusa de nao sei o q. A temática tem haver com o choque de valores que existe entre uma sociedade dominada por valores "conservadores" e valores "trabalhistas" e, num segundo plano, pelo modo como Diana veio alterar as forças no seio da família real e de como esta vive numa tensão entre o "tradicionalismo" e a "modernização". A morte de Diana serve para retratar, por vezes de forma caricatural e radical, um momento na história em que essa tensão esteve muito presente. O que esteve em causa no filme foi a sociedade britânica e os seus valores e não Diana e a sua vida.
Felizmente que hoje já quase todos falamos inglês (com menos de 45 anos) e felizmente que hoje quase todos temos acesso à amazon(ia). (E mesmo que não sejam quase todos o que importa? Nunca vamos ser quase todos mas o que interessa é quem o seja que o faça sempre. O que interessa se a sociedade é analfabeta? Para quê falar para a sociedade? Eu não sei plantar batatas e de certeza que o Sr. Santos me dava uma lição enorme sobre isso). O país está a mudar ... Espero que no futuro não seja possível aturar mais Mary Elise(s) e acordes dele derivados. Pessoas como Mary Elise e a sua mentalidade é que contribuem e contribuíram para que continuemos na mesma. Estar no Reino Unido para este tipo de sociedade significa pertence à elite. E pronto. Já lá estive não tenho que voltar. É assim ... Está male. Mais do que ir o importante é estar sempre lá. E hoje isso é possível. Uma viagem a Londres é mais barata do que uma viagem ao Algarve.
Portugal é um meio e não um fim.
É de facto lamentável que a tv pública se meta assim na vida dos outros. Mais lamentável é tentarem meterem-nos a vida dos outros pelos olhos dentro.
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