sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Vitorino Magalhães Godinho e a Europa

Acabei de ler a entrevista do professor Vitorino Magalhães Godinho no Jornal de Negócios Caderno Week End desta sexta feira. Realmente uma coisa é ser historiador, ter conhecimento, outra é ser comentador político de faits divers.

Posso não concordar com tudo o que ele diz (embora concorde com a substância). Mas é ao menos consolador ver alguém que sabe lidar com a massa histórica falar do que sabe e não do que ouviu dizer. E que fala de acordo com fundamentos e não de acordo com interesses.

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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

II. Nostalgia. Tarkovski

O louco da aldeia. Obcecado por uma ideia. Atravessar uma piscina de água sulfurada com uma vela acesa. A forma de salvar o mundo. É francamente a personagem mais antipática. Tende a ser demasiado enfática para o meu gosto, tem demasiado a marca de Tonino Guerra. Nada tenho com a artificialidade da arte, mas uma arte que se apresenta como uma dialéctica em que a artificialidade se pretende natural a cada momento, telúrica, simplista, não me convence. Se serve para alguma coisa é apenas como anunciador. Já não é pouco. Com ele começa-se a perceber que o filme não passa por contar uma história, mas é a antes o retrato de um sentimento. A dor pela morte da Mãe. Perder a Mãe não é uma tragédia, é mais que isso. É uma dissolução. Se o poeta russo é essa dor, o lou[...]
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A diabolização do outro

No artigo de ontem no Público, Rui Ramos explicava a diferença de protagonismo entre Chávez e Mugabe pela escolha dos alvos dos seus exorcismos. Chávez elegeu os Estados Unidos da América. Mugabe elegeu a Inglaterra.

Mugabe elegeu um inimigo directo que está consigo no mesmo terreno e que, não justificando nada, tem por base um conflito real e enraizado. Ou seja, se tem protagonismo, Mugabe tem-no porque atacou cidadãos ingleses. No caso de Chávez os Estados Unidos são um alvo distante, útil e com mais eco para se fazer a si mesmo ouvir e divulgar. Ou seja, engendrou um inimigo para propagandear o socialismo do século XXI e, em torno de si, com a bênção de Fidel Castro, assumir o protagonismo e empunhar a bandeira de uma luta [...]
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Cândida Vaginal

Ainda não tinha saído do duche há vinte minutos. Estava impecavelmente aperaltado, penteadinho e perfumado, pronto para enfrentar mais um dia de trabalho. Não deviam ser ainda oito da manhã e eu guardava ainda a memória do sabor de um croissant e de um saudável sumo de laranja que bebera antes de me lançar à estrada. Como todas as manhãs, liguei a TSF mal cheguei ao carro. Talvez porque fosse mais cedo do que o habitual, fui dispensado de «gramar» os insuportáveis «Sinais» do Fernando Alves. E foi portanto até com alguma curiosidade que recebi a notícia de que, naquela luminosa manhã de Novembro ,seria brindado com uma sugestiva rubrica com o título «Clínica Geral».
O tema do dia era a Candidíase. Cândida Vaginal para os mais intímos. Tinham passado, repito, escassos 20 minutos des[...]

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

I. Nostalgia. Tarkovski


Desde há muitos anos que me falavam de Tarkovski. Em modo laudatório. Mas o que os outros incensam sempre me pareceu um problema deles. Vi há mu[...]
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terça-feira, 27 de novembro de 2007

O historiador e o jornalista

1. O recente arrufo entre Vasco Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares é menos fútil do que parece à primeira vista – ou melhor, é menos fútil do que me pareceu à primeira vista. Isso porque, bem vistas as coisas, é uma discussão sobre qualidade. Quanto maior o poder, mediático, político ou económico, dos emissores de opiniões ou dos decisores, maiores devem ser as nossas exigências em matéria de qualidade. Para além disso, há neste duelo alguns aspectos de manifesto anti-Dantas ao contrário, o que quer que isso signifique, embora entre protagonistas da mesma geração, o que lhe dá outro interesse. Devo dizer que não li o livro do Miguel Sousa Tavares, aliás um dos meus colunistas preferidos, e que também o não vou ler, por não ser o meu género.
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Os números falam por si

«A Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (FEPICOP) anunciou (...) ter decidido abandonar a CIP depois de Francisco Van Zeller, ao comentar declarações do secretário de Estado das Finanças, Amaral Tomás, ter referido a construção civil como um dos sectores onde a fraude fiscal é praticada.» Poucos dias bastaram para que «Van Zeller (admitisse) que terá ido longe demais nas palavras que pronunciou e que determinaram a ruptura

Não sei se o Presidente da CIP se excedeu ou não nas afirmações que fez. Não sei avaliar a situação fiscal das empresas de construção civil. Mas suspeito que o sector dificilmente se pode queixar de não ter sido largamente beneficiado por políticas (ou ausência de políticas) fiscais, de ordenamento do território[...]

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Arquitectura e Comunidade

Já aqui escrevi um post-tríptico sobre arquitectura e urbanismo, mas a solicitação do Pedro, merece este contributo. Não falarei sobre projectos em particular. Porque não é isso que está em causa.
O que importa salientar é isto, todas as obras estão sujeitas à divergência dos gostos, todos os arquitectos com licenciatura estão perante a lei nas mesmas condições, todos os promotores estão no seu direito de promover o que os planos permitirem, as câmaras (como o Estado) não tem nesta nossa democracia uma linha estética, o povo não tem voz senão em pachorrentos domingos de 4 em 4 anos.
Que fazer? Que fazer que possa defender o que o Pedro chamou a colectividade e que eu prefiro chamar comunidade?

A primeira dificuldad[...]
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Idade de Homem

Eu andava com um pé nos 17 e outro nos 18 quando comprei, na livraria da ABC, na baixa de Luanda, a “Idade de Homem”, de Michel Leiris. Hoje, não há já ninguém que leia um livro destes. Eu li e as 222 páginas deixaram marcas. O livro de Leiris, poeta, surrealista, mas sobretudo etnólogo e amigo do Georges Bataille de “L’Erotisme”, era um livro de exposição pessoal. O autor oferec[...]
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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A dimensão «colectiva» da arquitectura



Sigo o raciocino de João Pereira Coutinho, esta semana, no Expresso. Não estando acometido de uma súbita febre colectivizante (e sendo, enquanto liberal, um acérrimo defensor dos direitos de propriedade) não posso deixar de, também eu, considerar que a arquitectura é, por natureza, «inescapável» e tem uma dimensão «colectiva» que parece aconselhar a uma mais efectiva intervenção de todos os «stakeholders» [...]
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sábado, 24 de novembro de 2007

A doença, a cura

O Gonçalo Magalhães Colaço e eu mantivemos aqui, aqui e
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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Freakonomics à portuguesa

Desta vez sou eu quem faz publicidade a um livro da produção do Manuel Fonseca. O autor é um economista com uma enorme capacidade de trabalho que tem a vantagem adicional de ser um historiador económico da globalização. Responde num tom provocador a perguntas como: Porque é que a Espanha é um papão? Porque é que devíamos estar gratos pela crise? Porque é que temos tantos doutores e engenheiros, mas a produtividade não cresce? Porque é que João Jardim é Jo[...]

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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Rei Jesus

Para dizer o mínimo, “Rei Jesus”, da autoria de Robert Graves, é um romance controverso. Alguns, mais eufóricos, dirão que é dos mais controversos romances do século XX. Outros, mais exaltados, invocarão o direito (a obrigação até) de o considerar uma blasfémia. O Jesus de Graves é-nos apresentado como o herdeiro autêntico do reino de Israel, tanto pela l[...]
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Quando o milagre é feito de abuso


A Provedoria de Justiça acaba de revelar o resultado de uma acção de inspecção a alguns serviços de finanças e o saldo é arrasador. Afinal, como já muitos[...]
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Thomas Gray. Edmund W. Grosse. University Press of the Pacific, 2003

A simpatia não é critério de verdade, mas pode sê-lo ao menos de interesse. O século XVIII inglês é-me bem mais simpático que o XIX. O século XIX, mal ou bem, ainda hoje constitui o paradigma sob o qual é julgada a Inglaterra, tanto pelos seus admiradores como os seus detractores.

A verdade é que o século XVIII inglês é-me mais misterioso que o XIX. Nunca o consegui perceber plenamente, e temo bem que isso se deva em parte à imensa riqueza de personalidades e experiências de vida. Assim como foi a Itália do Quattrocento ou a França de Luís XIV, a Inglaterra do século XVIII mostra novas vivências, novas experiências de estar vivo. Revolução agrária e mais tarde industrial, desenvolvimento de um império comercial e colonial, experiências científi[...]
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Esmeralda: nunca saberemos se o final será feliz


Não estou muito por dentro do caso Esmeralda mas o que tenho ouvido nos últimos dias recorda-me um filme que vi há poucas semanas nos EUA: Gone Baby [...]
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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Adivinha de salão 2


E desta vez qual é a expressão procurada?

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Back of the envelope

Coisas que li ontem e hoje no Público levam-me a algumas contas sobre o joelho no tema da escolha entre a Ota e Alcochete. Digamos que entre os dois locais haverá um excesso de 30 minutos de viajem em cada sentido, para quem viaje do ou para o Centro e o Norte do País, incluindo Lisboa e os viajantes do estrangeiro. Digamos que 75% dos passageiros estarão nessas condições. Digamos também que a viagem de 30 minutos a mais custará um excesso de 5 Euros, ou 10 Euros ida e volta. Um preço alto pois implica a passagem por uma ponte. Digamos ainda que usam o aeroporto 15 milhões de passageiros. Logo, 15 milhões de passageiros x 75% x 10 Euros = 112,5 milhões Euros no custo adicional dos bilhetes, em cada ano. Consideremos ainda que 15% das viagens são de negócios e que cada viajante ganha a[...]

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Filosofia e Vontade

Não dispondo dos dotes literários do Manuel S. Lourenço ouso, todavia, elevar este comentário em resposta ao seu último «post» sobre o mesmo tema, a igual dignidade, dado o lapso de tempo e de outros «posts» entretanto passados, com a esperança de ser para o bem da Filosofia e a refutação da Vontade.


1- Vontade, Acção e Pensamento

A acção visa sempre a um fim, sendo esse mesmo fim a realização dos princípios, da Sabedoria (saber da verdade), Justiça e Liberdade. Composta de actos, é acção sempre ordenada pensamento, pensamento dos princípios, do logos, apresentando-se pelos conceitos, articulando-se nas ciências e afirmando-se nos actos como o que há de significativo na acção e a ordena.

A Vontade não entra aq[...]
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Deus

Se há assunto que exige elevação e solenidade é a Ideia de Deus. Não adianta perder tempo exibindo paradoxos que verdadeiramente não se entendem, nem desenvolvendo teorias por interpostas pessoas. Nada se ganha em profundidade diminuindo a questão em conversas pseudo-eruditas ou, simplesmente, atrevidas.

Presume-se, erradamente, que por ter havido muita literatura de ideias, muita arte, muita religião e muito contraditório, a questão esteja resolvida ou, por outro lado, seja irresolúvel e, por isso, se ponha a jeito como assunto para alienados ou como repasto para brincalhões.
Sem querer entrar na discussão da morte de Deus queria apenas deixar dois contributos.
O primeiro é: Deus, ou a Ideia de Deus, é um campo filoso[...]
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terça-feira, 20 de novembro de 2007

Comentário em forma de post à questão escolar

Este post começou por ser uma comentário ao post anterior do Manel e à resposta do Pedro, só que tornou-se tão longo que tive de fazer o upgrade. Acho que ambos têm razão (não é uma forma de tentar precaver-me contra críticas vossas ao que vou dizer...) quanto à importância da democratização do ensino e todas as estatísticas parecem comprovar isso. O Pedro suscita, no entanto, o problema da desadequação entre o que se ensina e aprende e o que o mercado necessita e relaciona isto com a dicotomia ensino público versus ensino privado. Em parte isto é verdade (embora o ensino não deva ser apenas função das necessidades do mercado, quer porque devemos ensinar mais do q[...]
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Flexigurança

Às vezes um pequeno texto de opinião vale mesmo mil palavras. É o que se passa com o texto assinado por Miguel Gouveia, da Faculdade de Economia da Universidade Católica, publicado este Sábado no suplemento de Economia do Expresso.

Diz ele que o aumento da eficiência da máquina fiscal está a reduzir a importância dos mercados paralelos, o que tem implicações no nível de flexibilidade da economia. Actualmente, para o bem e para o mal, muita da necessária flexibilidade da economia portuguesa vem do facto de nem sempre a lei se cumprir. Isso acontece, por exemplo, com os segmentos do mercado do trabalho que não usam contratos ou usam contratos pouco vigiados. E também com a fuga a alguns impostos.

Com o Estado fiscal mais eficaz, que todos queremo[...]
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Adivinha quem vem jantar



Também há vantagens na insignificância. Uma delas é que ninguém me convidou para o «tête à tête» entre o nosso primeiro e o Sr. Chávez. A desfeita não me impede de deixar duas singelas reflexões sobre o tema:

1 - O principal argumento invocado para «legitimar» o repasto é da ordem da «realpolitik»: a Venezuela é um grande produtor de petróleo e tem uma das maiores comunidades portuguesas no estrangeiro[...]
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A Velha Questão Escolar

Deixando-me embalar pelo enlevo do que Platão chamava a doxa (essa lamentável opinião baseada nos sentidos), tenho tendência a alinhar pelos que sustentam que estamos numa época de decadência do sistema escolar. Sobre isso mesmo algumas vezes se tem escrito na Geração de 60, com destaque para alguns posts francos e directos do
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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Os dinheiros da educação

O artigo do André Freire no Público de hoje (infelizmente só acessível para assinantes) dá-nos a conhecer algumas estatísticas importantes sobre o investimento na educação em Portugal. A sua tese é de que os factos não comprovam as palavras e a educação não tem sido uma verdadeira prioridade em Portugal. Partindo desta constatação, o André Freire desvaloriza a questão do modelo organizacional: o problema do nosso sistema educacional seria sobretudo uma questão de dinheiro. Sem colocar em causa que é também uma questão de dinheiro, acho importante juntar às estatísticas do André outras estatísticas que indiciam tratar-se também de uma questão de modelo. De que outra forma se pode explicar, por exemp[...]
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Deus Ainda Mexe

Agradeço ao Gonçalo o comentário e a simpática avaliação do que escrevi aqui. Escrevi-o com mais seriedade do que a ligeireza da prosa possa fazer supor, mas sem a pretensão de tocar o diáfano manto de uma Verdade que o meu Relativismo não me autoriza. Autorize-me o Gonçalo estas notas tentativas, que e[...]

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domingo, 18 de novembro de 2007

Da Memória e da inépcia

Há dias, Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso sobre acidentes de viação. E, certeiro, lembrou a mais es[...]
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sábado, 17 de novembro de 2007

Portugal, o Presidente da República e o Mar


Dizia Roger Vadim, se a memória não nos atraiçoa: «Os homens têm futuro, as mulheres passado. É natural as passado casarem-se com homens com futuro». Portugal tem futuro _ pelo menos nós acreditamos que assim seja. Os nossos políticos, infelizmente, porém, não têm apenas passado, têm demasiado passado, e o actual enlace não augura nada de bom.

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A Notícia da Morte de Deus

A notícia da morte de Deus era, convenhamos, francamente exagerada. Hoje, a cada minuto, em cada esquina, ou Ele irrompe ou O reclamam. Provavelmente menos sexy do que o “Deus é Amor” dos anos 60, o facto é que não só Deus não morreu como Ele se multiplica em aparições, umas discreta mas socialmente solidárias, outras mais
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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O mar à deriva

Se há uma área em que se produziu, em Portugal, pensamento estratégico com qualidade e em quantidade, ela é a Politica dos Oceanos. Mas se há uma área, crucial para o futuro do país, em que tardamos a passar «das musas ao teatro» ela é também a Política dos Oceanos. Muito se produziu em termos teóricos. Quase nada se fez em termos práticos. Há toneladas de relatórios e de recomendações concretas afogadas nas profundezas dos gabinetes ministeriais. No horizonte não se vislumbram sinais da chegada do muito propalado «cluster» do mar.

São portanto bem vindos os avisos à navegação que Cavaco deixou ao Governo no início do roteiro para as ciências do mar que hoje inaugura. Se para mais não servirem, servem para que se perceba que é em Belém que mora a capacidade de pensar o país em [...]

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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

As estatísticas do horror

Se subitamente, com o whisky do desespero numa mão e um desencantado impulso no peito, dissermos aos nossos amigos, no meio duma conversa lá para o fim da noite, que o mundo está cada vez mais perigoso, ninguém em seu perfeito juízo nos desmentirá.
E, no entanto, talvez não seja verdade. Ou essa não é, pelo menos, toda a verdade das estatísticas. Num relatório do Human Security Centre (British Columbia[...]
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