II. La fondation de Rome, Alexandre Grandazzi, Les Belles Lettres
O problema é que a imposição do fragmentário como modo de leitura da realidade padece sempre de um vício lógico. Não havendo conceito unitário, ou melhor unificador, não havendo invariâncias, como é possível aglutinar um fragmento? Porque mesmo um fragmento tem uma consistência própria. E havendo vários fragmentos só se poderia então analisar um de cada vez. Que critério de escolha deste fragmento? Se se analisa mais que um, que os liga entre eles?
A imposição do fragmentário é assim uma metodologia que omite premissas. Melhor, que as reprime. É que mesmo a descrição de um fragmento pressupõe uma procura de unidade, mesmo que menor. E essa procura de unidade pressupõe um critério unificador. A fragmentação tão amada pelos pós – modernos (nome agastante que se reduz a dizer que se é posterior a qualquer coisa que se define como modernismo por mera caricatura) é mais que uma porta para o arbitrário, é a sua tirania. A tirania é o seu critério unificador.
O segundo problema passa pela valoração do contributo indo-europeu. Uma questão é a de saber se a teoria unificadora tem falhas, e a do trifuncionalismo tem-nas como todas as teorias, uma questão igualmente é a de saber se o critério unificador dos povos indo-europeus sob o ponto de vista ideológico terá de ser outro. Provavelmente. Uma outra coisa, igualmente verdadeira, é que qualquer teoria unificadora não prescinde da apreciação de situações concretas. Querer explicar os druidas apenas pelo fundo indo-europeu, dado que não existem druidas em todos os povos indo-europeus, seria sempre falho. Mas esperar que povos que falam línguas com tão fortes parentescos entre si não tenham elementos ideológicos, religiosos e de mundivisão comuns parece-me irrealista.
É evidente que existem fenómenos de importação. Um tunisino pode falar francês, e isso não significa que esteja mais próximo dele um francês que o mesmo francês está da Alemanha. Mas as línguas pressupõem e conformam ao mesmo tempo vivências. Seria muito peculiar que não houvesse um fundo comum de modos de vivenciar entre os povos indo-europeus.
O terceiro problema, já aludido, tem a ver com o facto de as invariantes não poderem excluir a análise das concreções. Roma e Atenas fazem parte do espaço indo-europeu, em acréscimo com trocas muito intensas entre si. Mas Roma não é Atenas. Ninguém diz o contrário. E isso não pode ser descurado, obviamente. Visto da monografia percebe-se que o geral se torne irritante. Quando a verdade é que o geral está mais delimitado pela linguagem em que se enuncia que pela injustiça do que se diz.
Mas, e anuncia-se aqui o quarto problema de fundo e este geral na metodologia histórica, onde está o método e o objecto relevante? A História tem-se debatido com três posições de relevância: o universal, o típico e o concreto. A prática histórica oscila mais entre o típico (teorias estruturais, mentalidades etc.) e o concreto (seja o que for este concreto, se país, de cidade, se acontecimentos, se personagem). O universal tem sido objecto de estudo ou de amadores ou dos raros génios que a História como ciência teve.