Obrigado, Senhor Primeiro-Ministro
O Centro de Segurança Social fica na Rua das Pedralvas. A Rua das Pedralvas fica em Benfica, seguindo as indicações do cemitério.Impunha-se mudar a residência dos elementos do agregado, lá fui.
Lá chegada, começo a ver muita gente à porta, com um ar estranhamente pacificado. Mais mulheres do que homens. Negros, brancos, ciganos, novos, velhos, bonitos, feios, magros, gordos, senhoras com o cabelo loiro impecavelmente armado, crianças também. Portugueses, Brasileiros, Ucranianos. A diversidade lembra uma assembleia das Nações Unidas.
Entro afoita, a máquina em aço inoxidável modernaço cospe a senha: 202. Olho apavorada para o número do atendimento, 102.
À minha frente tenho cem números, cem almas,cem.
Lá dentro as pessoas não estão calmas, estão resignadas. A maioria é claramente cliente habitual e já sabe ao que vai. Papel na mão, esperam pelo subsídio.
Tento o segurança: " - Se faz favor, é só para mudar a residência", " - Tá aí o papel é só preencher." Encho-me de esperança e em brio o preencho, estendo-o ao segurança/porteiro que recua apavorado: " Eu cá não recebo nada!".
Olho em volta para aquilo tudo. Homens vestidos de preto com o chapéu enterrado na cabeça perguntam pelo almoço. É a risota. Rematada pela frase cínica do segurança que diz que já que a malta não faz nada, também não há porque resmungar da demora.
" Tempt not a desperate man" lembro-me eu das palavras do bardo, ainda acaba mal aquele porteiro.
Desisto.
No sábado na tv vejo o comício em que o nosso Primeiro-Ministro fala das revoluções na segurança social. A multidão bate palmas. As bandeiras a preceito.
Animei-me, pudera.
Na segunda-feira envio um mail para o site da segurança social a perguntar o que fazer para alterar a morada, só isso. A resposta veio célere, numa hora. Sim senhor, muito bem. Era só ir, pessoalmente, a um posto de atendimento!
Recordo as palavras e gitos de ordem do comício de sábado e das duas, uma: ou volto a Pedralvas e desapareceu aquela gente toda ou resolveram servir um chá e umas sandes de pepino aos utentes. Não acredito que as pessoas tenham desaparecido. Pelo que deve ser mais a segunda opção, e embora ache o pepino um bocadinho indigesto, sempre é melhor do que nada.
Muito obrigado, Senhor Primeiro-Ministro!
2 comentários:
Não vejo a admiração. Portugal sempre foi assim. E sempre será, porque são portugueses, que lá vivem.
Está combinado, da próxima vez que lá for, faço-lhe sinal e leva-me lá. Assim, como assim, não me assaltam o carro.
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