domingo, 28 de setembro de 2008

A life, vidinha

"Lifestyle" é, segundo artigo de reputada escritora no jornal " Sol" de ontem, a escolha consciente de mulheres diletantes, que não se divorciam para manterem "(...) carrinhas e jeeps, crianças educadas em colégios particulares com actividades extracurriculares que incluem natação, rugby ou equitação, todo um lifestyle programado ao milímetro que nos fizesse sentir adultos, responsáveis e arrumados na vida.".

Remata a autora que em nome desta abundância, estas mulheres não se querem divorciar, vivendo assim uma vida (infeliz?) em nome do "lifestyle".
É verdade, existem mulheres que vivem assim. Da Lapa até Cascais.Da Avenida da Boavista até à Foz, passando por uma das ruas mais belas de Portugal, a Rua de Gondarém, no Porto.

Com esta concepção, imagino a autora uma férrea apoiante da nova Lei do divórcio. E vejo agora onde o Primeiro-Ministro foi buscar os argumentos para a lei.
Estar casado, ou não, divorciar-se ou não, é só e apenas uma questão de "lyfestyle".
Com o devido respeito pela autora e pelo Primeiro-Ministro, estas mulheres não são representativas das mulheres em Portugal e generalizar esta concepção é uma ofensa para as mulheres portuguesas.

Tenho familiares, amigas, colegas de trabalho, conhecidas, em Lisboa, no centro, no norte do país, nas ilhas. Conheço advogadas, juízas, professoras, secretárias, administrativas, costureiras, empregadas de limpeza, empresárias, comerciais, e todas, em diverso grau, defrontam graves problemas económicos com o divórcio. Se os salários são baixos em Portugal, os salários das mulheres são ainda mais baixos. Uma mulher com o seu salário a sustentar-se a si e aos filhos, passa mal, muito mal, dependendo sempre da boa vontade de familiares mais próximos.

Não falo de não terem dinheiro para ir ao cabeleireiro. Falo de não ter dinheiro para a comida, para transportes, para pagar as contas da electricidade e água.

Já ouvi muitas mulheres dizerem-me que têm apenas um filho porque em caso de divórcio ainda o conseguem sustentar, mas não têm o segundo porque não estão certas de lhe conseguirem dar de comer...
Isto num país com uma taxa de natalidade baixa como a nossa.

A vida destas mulheres divorciadas que eu conheço não tem "style", é só life, ou vidinha, em bom português.

Dir-me-ão que se já não há afecto...É possível, mas muitas mulheres que conheço, percebem que da constância do casamento depende o mínimo para os filhos: comida, educação. Por isso pugnam tanto por ele. E por isso dependem tanto das questões patrimoniais da Lei do divórcio.

O "afecto" lembra-me sempre um cachorro lindo branco de focinho húmido preto que se compra da loucura do Natal e se abandona para morrer atropelado na auto-estrada a caminho das férias algarvias, quando ele cresce, come muito e tem doenças.

Bem vistas as coisas, também é coisa que sucede às mulheres. Damos à luz bebés,crescemos, comemos muito, e temos doenças. Compreendo, não há afecto que resista.

Ou mudo de amigas, ou torno-me escritora famosa, ou mudo de país.

E no entanto só me assalta a frase da minha avó Fernanda, a propósito de um divórcio famoso na família:

" - Quem lhe comeu a carne, que lhe roa os ossos...".

1 comentários:

Vasco M. Grilo disse...

Sofia, e' melhor tornar-se uma escritora famosa pois mudar de paìs nao serve a muito.........