sábado, 31 de maio de 2008

Maio 68 (2)

O programa que arrastou os milhares de estudantes em França e alastrou a outras democracias estabilizadas, de forma mais episódica é certo, como a dos Estados Unidos ou a de Inglaterra, é um programa que não tem a sua origem propriamente no Maio de 68 que foi o amplificador do que vinha longamente a ser preparado pelo pós-guerra, pelo crescimento económico, pelo bem-estar, pela liberdade de deslocação, pelo excesso de confiança do homem na sua autonomia e pela falta de uma referência de combate, de um medo, de um inimigo.

Foi o confronto de um mundo cheio de princípios e cuidados (o dos pais) traumatizados pela experiência da Grande Guerra e um mundo que na abundância não tinha a noção de limites e, por isso, recusava a ordem,[...]
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Maio 68 (1)

Para ser sincero o Maio de 68 não está no meu imaginário. Tinha 5 anos e ouvia a música dos anos 60 nas festas dos mais velhos: Beatles, Neil Young, Rolling Stones, Melanie, Cat Stevens. Pressentia a clivagem das gerações mas a política ainda não existia para mim.
O Maio de 68 também não terá sido perceptível em toda a sua extensão nesses tempos em que ocorreu. Os idealistas de então não tinham ainda completado o ciclo que viria a revelar as suas plenas intenções e os seu plenos interesses. Ser de esquerda, mesmo com reservas aos regimes comunistas plenamente implantados na altura, era ser marxista, leninista, maoista, trotskista, etc... O que verdadeiramente importava naquela sinestesia ambiental não era tanto a experiência desses ismos mas a teoria que [...]
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Manuela ganhou

Manuela ganhou. É, no PSD, a vitória da sensatez e do pragmatismo. Saúdo os meus co-bloggers que, ao contrário de mim, não desesperam e acreditam que o país tem soluções que não passem por abdicarmos da soberania a favor de Espanha ou, firmemente convencidos de que não há pecado abaixo do Equador, entretermo-nos com dinâmicos e ambiciosos negócios em Angola. Seja como for, e sem desfazer, expliquem-me lá, por cortesi[...]
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O caso do vidro que veio enganado...

Há mais ou menos quinze dias assaltaram-me o carro. Partiram o vidro, mexeram nas minhas coisas, roubaram um GPS e, na pressa causada pelo troar do alarme, levaram metade de um rádio, que sinceramente espero que funcione melhor do que a metade com que eu inutilmente fiquei.
Enfim, já muitos passámos por isso. Uma chatice: telefonar ao ACP para guardar o carro durante a noite; fazer queixa à PSP porque sem isso não podemos accionar o seguro do carro; fazer uma peritagem num local indicado pela seguradora; dirigirmo-nos a uma garagem onde, primeiro, nos façam um orçamento e, depois, nos arranjem o carro… e tudo isto, claro está, no meio dos normais afazeres do dia a dia.
Já quase tudo passado, faltava-me apenas substituir o vidro do carro, o qual foi encomendado há já mais de um[...]

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Da Visão: Desigualdade

Em teoria, e como muito melhor do que eu algum dia saberia fazê-lo, o demonstraram brilhantes pensadores liberais como Friedrich Hayek ou Robert Nozick, a desigualdade na repartição de rendimentos não é necessariamente um indicador de injustiça social. Por uma razão que, de resto, é fácil de compreender. Num mundo ideal, com regras genéricas e iguais para todos, mas sobretudo com oportunidades rigorosamente idênticas para cada cidadão, a simples diversidade original dos membros da sociedade resultaria necessariamente num padrão de distribuição desigual. Que em teoria, repito, poderia precisamente espelhar a diferença de mérito e de trabalho entre cada cidadão ao longo de uma vida. Aliás, o que numa sociedade assim idealizada resultaria numa verdadeira injustiça seria a tentativa de im[...]

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sexta-feira, 30 de maio de 2008

A Preto e Branco

Elas são mesmo irmãs. Mais ainda: elas são gémeas. As duas de olhos azuis, uma de gentil pele leitosa, a outra com bela tez achocolatada.


Não sei se a Natureza també[...]
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Sobre o PSD, para memória futura (III)

Amanhã haverá eleições. Depois de uma campanha centrada na discussão das pessoas. Ainda e sempre, quase só das pessoas.

As tentativas de ideologização das vária[...]
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quinta-feira, 29 de maio de 2008

Lágrimas Negras

Tenho imenso medo de que não gostem desta canção. Há quase 5 anos que é uma das minhas favoritas. Faz-me pensar, sofrer e amar. Chama-se “Lágrimas Negras” e escreveu-a o "criador de boleros" Miguel Matamoros. Interpretam-na o lendário pianista cubano Bebo Valdés e o cantor de flamenco Diego El Cigala.



Agora que já ouviram, posso só dizer mais uma coisa? Além de Bebo e Cigala, merecem ovação, o Paquito D’Rivera no sax alto, o Javier Co[...]
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Chamem a Autoridade!

Ando seriamente preocupada com o meu estado mental. Há cerca de quinze dias vi no Parlamento o nosso Primeiro-Ministro de forma decidida a avisar a nação de que ía chamar a Autoridade da Concorrência para estudar a questão dos combustíveis.
Fiquei muito preocupada.
Ora, eu enquanto jurista de um departamento jurídico de uma SGPS, que por mero acaso detém uma empresa do ramo dos combustíveis, ía jurar, que há um ano atrás a empresa já tinha sido instada pela mesma Autoridade da Concorrência a fazer largas explanações sobre o tema, quem fornece o quê a quem, em que termos, a que preços, quem compra, quem distribui, etc. e tal.
Como nada disto parece ter-se passado, se eu ando a[...]
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Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo


Amor que acaba, nunca foi amor. Amor que é amor é eterno e não faz batota. Reciclo um post com mais de um ano, mas é mesmo assim que as coisas devem ser: amor que é amor nunca acaba.

Quem cantou a ideia de “amor único” foi Nelson Rodrigues, cronista brasileiro que, e[...]
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quarta-feira, 28 de maio de 2008

Simplesemente grotesco




No recente terramoto de Sichuan terão perdido a vida mais de 65.000 pessoas. De entre estes, estima-se que cerca de 10.000 fossem crianças. Razão pela qual a comissão de planeamento provincial daquela região resolveu autorizar as famílias que tenham perdido filhos a «conceber» um segundo (abrindo assim uma excepção à regra geral de «uma família, um filho»).
Não tenho sequer comentários para este horror «burocrático[...]

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terça-feira, 27 de maio de 2008

Céu ou Inferno?

As relações entre o sagrado e o profano já não são o que eram. E o mundo também já não é o que era, novidade que repetimos, despreocupados, ano a ano, século a século.

Mas há talvez, entre os insanos e mais recentes indícios, razões para crer que o mundo mudou mesmo. Dou um exemplo: há poucas semanas, Chávez, el presidente, e Naomi, th[...]
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segunda-feira, 26 de maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

Chamem a Autoridade

O caso é sério. É de certeza merecedor de investigação. Haverá concerteza um problema de concorrência. Ou de falta dela. Posso assegurar que, no mínimo, existe concorrência desleal. Refiro-me obviamente ao facto de o Benfica ter a partir de hoje o Quique Flores e o Rui Costa e nós termos o Paulo Bento e o outro moço. Sei do que falo, chamem a Autoridade!

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Chamem a Autoridade

Era para se chamar assim o post de hoje. Escrever uma coisa séria sobre a Autoridade da Concorrência. Aconteceu, como já me aconteceu antes, que o Manuel Fonseca, com a crónica de Cans, me levou a escrever uma coisa inteiramente diferente.
Ele há o campo, e ele há o campo. Há o campo hardcore e o campo softcore.
Quem não conhece bem o país, fala amiúde sobre a beleza da vida do campo. Fala sobre o silêncio, as cigarras à noite, se for no Alentejo, e muitas vezes, havendo idílio e fundos, até compra um monte, para reconstruír, com aquecimento e piscina. Esta versão softcore do campo leva a que se seja profundamente contra a destruição destes cenários idílicos, contra qualquer modificação, alteração e d[...]
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Sem poetas nem ideais

A nostalgia do passado e a melancolia são sentimentos do Homem de todas as gerações. Sentimos hoje em dia, alguns, senão muitos, que esses sentimentos correspondem a uma mudança de paradigmas na condução do mundo, como se o Progresso inevitável nos levasse sem remédio, nem apelo, para o que não queremos, mas que mesmo assim nos arrasta numa onda avassaladora que o nosso imaginário saudoso não tem força suficiente para travar ou inverter.

No século XX houve uma, para nós, evidente mudança de paradigmas. Um deles é o que corresponde à mudança da noção de tempo. Não que essa mudança tivesse sido inventada no século XX pois, a filosofia moderna já a tinha gizado em Descartes e confirmado com Kant, mas porque o pensamento filosófic[...]
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sábado, 24 de maio de 2008

Jan Fabre no Museu do Louvre em Paris


Absolutamente a não perder!
Desconcertante para quem se inquieta com a vida. Uma mistura perfeita entre as obras e o olhar dos séculos passados com uma visão inquietante sobre [...]

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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Festival de Cinema de Cans

Posso dar-vos um bom exemplo de iniciativa (privada?), com sentido (de humor!)? Simples: o Festival de Cinema de Cans. Por estranho que pareça, grafei correctamente o nome. Não se dobra o n e dispensa-se a segunda vogal: Cans não é Cannes. Estamos na Galiza, bem longe da Côte d’Azur.
É uma aldeia de 300 habitantes. Este ano realiza-se ali, pela 5ª vez, um festival que concorre no tempo e ganha em originalidade ao Festival de Cannes, em França. Exibindo só curtas-met[...]
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quinta-feira, 22 de maio de 2008

A Primeira Vez


A PRIMEIRA VEZ
que eu vi mesmo o mar foi já no meio do Oceano Atlântico. Em Lisboa, Cais da Rocha, tínhamos entrado no Vera Cruz; descemos logo ao camarote e quando voltámos a subir – no dia seguinte? – cercava-nos um vasto tapete ondulado, de um azul inútil e livre. Flutuávamos num lençol oscilante: Houdini tinha escondido a terra.

A PRIMEIRA VEZ
que tive um medo inexplicável, nu[...]
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O Mia Patria, sì bella e perduta

É tão ingénua a ideia de um pensamento que voa com asas douradas! E quem me dera dizer, em tom terno e fadista, "o mia Patria, sì bella e perduta!"



Este é o famoso coro "Va Pensiero sull` Ali Dorate" da ópera "Nabucco", de Giuseppe Verdi. Metropolitan Opera House, com direcção de James Levine, 2001.
Aqui vão as palavras para que cante a plenos pulmões:

Va', pensiero, sull'ali dorat[...]
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Tempo e Silêncio

É do que preciso: tempo e silêncio. Y una casa en el cielo.



Cantam Cesária Évora e Pedro Guerra. Juntos, dzem as palavras que estão alinhadas abaixo. Parece espanhol. Podia ser espanhol. Mas, ditas como eles as dizem, não são palavras: são cielos y besos. E não é nenhuma língua: é só um desejo de estrelas.

TIEMPO Y SILENCIO
Una casa en el cielo

Un jardin en el mar
Una alonda en tu pecho
Un vo[...]
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quarta-feira, 21 de maio de 2008

Verdade ou Consequência

Como bem refere Paulo C. Rangel, a entrevista de Manuela Ferreira Leite à SIC Notícias mostrou elementos inovadores relativamente ao canónico discurso político português, o maior dos quais terá sido a referência à "verdade" da mensagem. Eu, que fujo das entrevistas políticas como um benfiquista do Alvaláxia, suspendi a ida à cozinha para tomar o comprimido de lítio (brincadeira) e dei à senhora 2 minutos e 20 segundos de benefício da dúvida.
Por 2 minutos e 20, acreditei religiosamente em MFL - a fé, apesar de perigosa, também pode ser o início da compaixão -, como se estives[...]
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terça-feira, 20 de maio de 2008

Vitor Constâncio

Vitor Constâncio deu um "aviso" segundo o qual o Governo não devia esperar muito do investimento público. Quando as dúvidas sobre o investimento público chegam ao governador do Banco de Portugal e este dá o sinal correspondente, então é mesmo preciso entender o que se passa. Este ambiente desfavorável ao investimento público parece generalizado, e quase só tem sido contrariado por gente que está próxima da área do governo - e por este vosso criado. O que se passa então? Eis uma explicação. Posso estar errado, mas que é uma ideia, é.

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Sistema de ensino: rumo à infantilização crescente

Ao que parece o Conselho Nacional de Educação - com a bênção já há tempos anunciada do Ministério da Educação - vai propor a fusão do primeiro e do segundo ciclos do ensino básico. Medida cujo intuito será o de submeter as criancinhas dos seis aos doze anos ao regime maternal-paternal do professor único (ou melhor do professor tendencialmente único). Tudo isso com o superior propósito de evitar os traumas da transição de um sistema de um único docente para um sistema de vários docentes.
Em Portugal, continua-se no trilho da infantilização e desresponsabilização de crianças e jovens. Que trauma pode sofrer um ser humano de dez anos por passar de um regime de professor único para um de cinco ou seis professores (se forem dez, como se diz, serão, de facto, demais...)? E esse trauma nã[...]

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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Histoire des Idées Politiques de l’Europe Centrale, Chantal Delsol, Michel Masłowski, (direction), PUF, Paris, 1998


Nunca poderei salientar vezes demais o meu menor interesse pela ciência politica. Não somos obrigados [...]
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MFL: Regresso ao Futuro

Para aprofundar e aguçar o debate sobre uma querela política e partidária mais relevante para o nosso futuro colectivo do que a espuma dos dias deixa adivinhar, aí fica um texto publicado no Diário Económico de hoje.

Manuela Ferreira Leite tem centrado o discurso (também) num retorno do PSD às suas raízes (humanistas, reformistas, sociais-democratas, não populistas).
Muitos têm confundido (ou têm feito por confundir) essa tomada de posição ideológica com um regresso ao passado, uma “reprise” anacrónica dos “bons velhos tempos”. Enganam-se rotundamente.
A atitude programática e o perfil de liderança de Manuela Ferreira Leite representam, não um retorno, mas uma inovação – uma verdadeira ruptura na política portuguesa. Pela primeira vez, um líder se propõe falar ve[...]

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domingo, 18 de maio de 2008

Direita e esquerda – ensaio de reabilitação (III)

Nos estados contemporâneos, a grande questão políti[...]
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sexta-feira, 16 de maio de 2008

A liberdade segundo Luís de Molina

Agradeço ao Martim Avillez Figueiredo a informação sobre Philippe Van Parijs, autor que desconhecia e que, à primeira vista, me parece ter a enorme virtude de querer repensar o marxismo à luz das mudanças económicas e sociais ocorridas durante todo o século XX. O Ocidente, de facto, enquanto não fizer as pazes com o marxismo não poderá afirmar-se verdadeiramente no mundo. Nesse processo, porém, teremos de acertar as contas com o materialismo, pecado original da modernidade pós-cartesiana, de um modo geral, e do marxismo, em particular, que continua a empurrar o homem para baixo daquilo que ele pode e deve ser.
É nesse sentido que já há alguns anos tenho chamado a atenção para os pensadores ibéricos da segunda escolástica, cuja originalidade surge definitivamente expressa no pensame[...]

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quinta-feira, 15 de maio de 2008

AINDA O "CASO ESMERALDA"

Suponho que muitos estarão completamente desinteressados deste "caso". Contudo gostaria de deixar aqui o prefácio que escrevi para o livro de Margarida Neves de Sousa e Rita Marrafa de Carvalho: "Esmeralda ou Ana Filipa, dois nomes, dois pais" porque acredito levantar algumas questões de interesse geral:
..."Confesso que até ao convite para o programa “prós e contras”, não tinha acompanhado de perto, antes de forma distraída, o “caso da pequena Esmeralda”. Parecia-me haver aspectos de exibição mediática que me desagradavam profundamente, porque contrários a uma análise séria e racional de um caso seguramente complexo. Mais tarde, alguém me referiu um editorial da revista “Sábado”, onde, contra a corrente, se defendia uma posição favorável ao pai biológico, e se descreviam detalhes [...]

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É bom...

...estar acompanhado no optimismo (os que não têm tempo
vejam sobretudo o último parágrafo).

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A Igualdade e Liberdade em Coimbra - declaração a uma faculdade


Esta é uma declaração de amor a uma Faculdade, à minha: a Faculdade de Direito de Coimbra. E só o [...]
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Da Visão: Cenários

1 – Pedro Passos Coelho é o vencedor anunciado das próximas directas do PSD. Não me refiro a uma vitória no sentido literal, bem entendido. Mas o objectivo de Passos Coelho não é, nem poderia ser, esse. O candidato, que beneficia grandemente de um enorme deficit de expectativas, dificilmente não sairá reforçado do acto eleitoral. Basta-lhe não ser estrondosamente «esmagado». A partir daí tudo jogará a seu favor: a idade, a novidade, a experiência do «padrinho» e sobretudo a enorme probabilidade de a próxima liderança do PSD só vir a gerir o partido até à «débacle» de 2009. Já o disse e repito: dos três candidatos (omito deliberadamente as restantes «non-entities») é o único que pode representar e (consequentemente) vir a ter um futuro a longo prazo. Se tivesse de apostar diria que Ped[...]

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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Porque é que não há parasitas no Hawai


Ah grande blogue! Comentários estimulantes. O meu amigo Tiago Mendes ralhou comigo lá de Oxford. Diz que nos blogues não se pede quórum. Pronto,[...]
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