segunda-feira, 19 de maio de 2008

Histoire des Idées Politiques de l’Europe Centrale, Chantal Delsol, Michel Masłowski, (direction), PUF, Paris, 1998


Nunca poderei salientar vezes demais o meu menor interesse pela ciência politica. Não somos obrigados a gostar de tudo e entre a beleza de um teorema ou de uma obra de arte (a diferença é apenas formal) e a da dita ciência (para quem generosamente lhe quer dar esse nome) política a minha escolha está feita.

Mas diferente da ciência política é o pensamento político. O pensamento nunca pode ser desmerecido enquanto tal. As únicas épocas que o desprezaram com alguma autoridade estavam empanturradas dele. A nossa não se pode dar a esse luxo. O que é raro é valioso. Encontrar por isso quem tenha pensamento político é uma benesse e uma oportunidade.

A obra em questão em muitos aspectos, mais que História de um pensamento, é História de estruturas políticas e em parte de eventos políticos. Nenhum problema há nisso. Só por isso já é instrutiva. Mostra que na Europa Central se levou algum tempo a produzir um pensamento que fosse simultaneamente original e profundo. Não é grave. Raras épocas e raros países preencheram cumulativamente estes requisitos.

O que mostra é até que ponto não podemos tratar a Europa Central (e já agora a de Leste) com a condescendência que o temos feito nos últimos anos. Um dos problemas, e não o menor, é que temos feito uma transposição etnocêntrica em relação a ela. “Coitadinhos deles, são mais pobrezinhos que nós, têm tanto a aprender connosco”. E é verdade no que respeita à democracia e à economia do mercado.

Mas no que é substantivo na Europa, toda a Europa é constitutiva da civilização. Muitos dos movimentos espirituais, intelectuais da Europa encontram o seu centro e a sua origem da Europa Central e de Leste. Muitos dos problemas do que é ser europeu é ainda na nossa época que são lá pensados. Os problemas da decadência, da pequenez, que tanto preocupam muitos europeus, embora sejam muito acto de propagandas menos honestas, foram tratados com maestria pelo pensamento centro-europeu.

Que tenha sido João Paulo II um dos grandes reformadores da Europa não deve ser visto como estranho. O antigo papa não era uma aberração na Europa Central. Era um seu produto. Não apenas nas experiências ma igualmente nas ideias. Tendo feito as experiências dos limites, conhecendo os totalitarismos de direita e de esquerda, percebia o que uma civilização devia à sua espiritualidade.

Mais uma vez o duplo fundamento da Europa se encontra na Europa Central. Os pilares são o cristianismo, de que o exemplo mais recente é João Paulo II, e o paganismo indo-europeu, de que Patocka é o mais contemporâneo dos representantes. Um centrado em Cristo, outro no socrático cuidado da alma como fundamento da Europa, mostram que na Europa Central, exactamente por não se estar tão instalado num conforto de curto prazo, se foi capaz de pensar a Europa de uma forma muitas vezes mais profunda, mais responsável e mais pertinente que no lado ocidental do continente.

De entre estas personagens, destaco um padre polaco do século XVI. Piotr Skarga. Pacificar povos é coisa difícil. Pacificar igrejas ainda mais. Uni-las, obra de titã. É de sua obra em grande parte que ainda hoje em dia a Ucrânia uniata e ortodoxa seja simultaneamente uma zona de fricção mas igualmente de diálogo com a Rússia. A oportunidade e o risco foi em parte por ele criado. Cabe-nos a nós saber se estamos à sua altura.

http://www.puf.com/Book.aspx?book_id=011811
http://univ.gda.pl/~literat/autors/skarga.htm
http://www.staropolska.gimnazjum.com.pl/renesans/renesans_006.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Piotr_Skarga
http://www.alapage.com/-/Fiche/Livres/9782130490715/LIV/histoire-des-idees-politiques-de-l-europe-centrale-chantal-delsol.htm?donnee_appel=GOOGL




Alexandre Brandão da Veiga

1 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigado por nos dar a conhecer esta obra, útil para quem quiser ter um conhecimento mais aprofundado da Europa. Temos tendência para nos acharmos o centro de tudo, sem reparar que o ocidente da Europa é apenas parte da Europa; e talvez a mais gasta.
Aproveito para referir outra obra de Chantal Delsol, que li com muito interesse : "La grande méprise" - uma crítica muito bem fundamentada à contemporânea ideia e ambição de justiça e/ou governo mundiais.
João Wemans