sábado, 30 de junho de 2007

A ameaça fatal

Um «blogger» amigo (ou assim julgava eu) ameaçou-me com a leitura diária das obras completas de Saramago se eu não me despachasse a «postar». Prometi-lhe uma redenção para breve. Inês: se eu fosse a si não ficava a dormir na forma.

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O romance da solidão de Deus


Lá voltamos ao conflito de interesses e ao egoísmo de editor: mea culpa!
Sou parte interessada, mas tenho de publicitar o facto de Eduardo Pitta sugerir hoje a leitura de “Diário de um Deus[...]
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quinta-feira, 28 de junho de 2007

Jorge Buescu, O fim do mundo está próximo?

Quem me conhece sabe que não sou dado a elogios baratos. Houvera um livro publicado por alguém do blog que não me interessasse ou que detestasse teria solução bem simples. Calar-me-ia. O comprimento dos meus silêncios é bem maior que o das minhas intervenções, por mais contra-intuitivo que isso pareça.

Mas a verdade é que o livro do Jorge me obriga a algumas reflexões, porque num país tão ignorante de matemática é sempre um alívio ver quem se preocupa em falar nela. Por isso, e no mesmo tom aparentemente desportivo, deu-me vontade de falar dele. Em relação a muitas coisas, apenas as ignorava (sobretudo as malfadadas estatísticas, probabilidade e cálculo combinatório que a malfadada colecção Schau[...]
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Verão em Nápoles


Era assim o Verã[...]
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quarta-feira, 27 de junho de 2007

De preferência, sem consensos

Tenho muito, muito medo de consensos. Indo mais directa ao ponto, não acredito na possibilidade de radicar em consensos qualquer acção política efectivamente transformadora.
A política assenta numa certa visão do futuro, num determinado projecto de sociedade, num certo paradigma de felicidade individual e colectiva. Nesse registo – o único que me interessa –, para ser plena, a política tem de ser verdadeira e, para mobilizar, deverá ser profundamente convicta e coerente.
Ora, tal constrói-se em cima de valores, de princípios, de programas e de atitudes. Não apenas – e, sobretudo, não principalmente – em nome de uma lógica pragmática de eficiência.
É claro que o sucesso das políticas tem a maior relevância – nesse sentido, pode e deve ser medido. Ma[...]
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Consenso e Governação

E se o Primeiro Ministro deixasse cair o actual ministro das Obras Públicas e acolhesse no Governo um novo ministro, próximo do PSD e com elevadas credenciais junto dos empresários e gestores? – Isso nem seria extremamente original, pois seguiria o exemplo recente de Nicolas Sarkozy, que convidou ministros socialistas para o governo. Angela Merkel também lidera há algum tempo um governo de coligação, ao centro, com bons resultados na política europeia e que assiste à recuperação do crescimento económico do seu país. António Guterres (bem, este não é um grande exemplo) tomou uma posição semelhante quando no seu primeiro governo convidou Sousa Franco para as Finanças, o que se viria a revelar crucial para a bem sucedida adesão de Portugal à moeda única(1). Pre[...]
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segunda-feira, 25 de junho de 2007

Tratado e referendo – a propósito do triunfo da intuição política

Não será preciso grande clarividência para perceber que este recente sucesso europeu só é grande por ser pequeno.
Como em todos os importantes compromissos, as vitórias são múltiplas e partilhadas. Merkel, Sarcozy, Blair, Zapatero, Kaczynski, Barroso são inequívocos vencedores. Embora aquém do que desejavam – e, nessa medida, insatisfeitos –, o certo é que foram suficientemente lúcidos para perceber que o essenci[...]
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Espírito de síntese

O que é a Europa?
É a fusão do cristianismo com o paganismo indo-europeu sobre culturas autóctones do continente europeu com o mito da queda do império romano.
O que não é Europa?
O que não recebeu como fundante o cristianismo (Índia, Pérsia), o paganismo indo-europeu (árabes cristãos), o que teve o mito da continuação do império romano (Bizâncio) ou o do novo começo geográfico (civilizações neo-europeias das Américas, Pacífico e Oceânia). Sobretudo o que não tem nenhum destes componentes (China e Turquia).
Podem-se ultrapassar inércias históricas? Sim, deixando esfolada a pele e a linfa ou pela conversão religiosa plena.
Críptico? Como tudo o que é simples. O que disse é bem mais complexo que a função zeta de Riemann, os trans[...]
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domingo, 24 de junho de 2007

Consciência e biologia

Matisse: "A Queda de Ícaro"

Quando a “Geração de 60” ainda estava na clandestinidade, o Nuno Lobo Antunes, o Ped[...]
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A ETA

Com aquela metódica dúvida que me envenena, interrogava-me eu, em ameno comércio blogo-epistolar com o Miguel Poiares Maduro, sobre o potencial atractivo e sedutor de Portugal para a grande inteligência europeia e mundial. Felizmente os factos desmentem-me: a ETA, laboratório [...]
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sábado, 23 de junho de 2007

Portugal — Global e Local

Há alguns anos, 1993, chegava a um pequeno hotel no Boulevard Hausman para me ir deitar. Pedi a chave do quarto e enquanto esperava junto ao balcão pelo elevador o porteiro (que era o dono do hotel e fazia o turno da noite de Sábado) ouviu-me falar português. Perguntou-me se era português, respondi afirmativamente. Disse ele: “Bem me parecia, é uma língua maravilhosa, ainda há dias fui ver o Vale Abraão do vosso Manoel de Oliveira. Vou ver sempre os filmes portugueses e gosto muito do Oliveira, e depois, a vossa língua...”

Numa outra ocasião, 2005, desloquei-me a Los Angeles para ir ao atelier de Frank Ghery e enquanto lá estive fui visitar o Walt Disney Concert Hall. Simpaticamente, um dos arquitectos que nos acompanhou naque[...]
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Europa 2007

Junho de 2007 ficará na história por anunciar a nova Europa – que, aliás, só será completamente nova em 2017. Alta madrugada, quando tudo parecia perdid[...]
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sexta-feira, 22 de junho de 2007

Aubade

Egon Schiele

Philip Larkin foi um do maiores poetas do século XX. Virulento e amargo. Este poema, de uma alvorada sem glória, anuncia o beijo da morte, o mesmo beijo delicado da morte de que Philip Roth fez a matéria do seu “Todo-o-Mundo”. Para ouvir aqui,[...]

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What a difference a date makes...

A França mudou de sistema político. Tendo inspirado, em parte, o nosso sistema semi-presidencialista, acaba de se "tornar" um sistema presidencialista. Para tal não foi preciso uma importante revisão da Constituição ou alterar os poderes do presidente ou do parlamento… Bastou mudar umas datas! Fez-se coincidir a duração do mandato presidencial com o mandato parlamentar e realizar as eleições parlamentares poucas semanas depois das eleições presidenciais. Esta coincidência fez das eleições parlamentares uma mera ratificação da eleição presidencial, assegurando ao Presidente uma verdadeira liderança política e uma correspondente maioria parlamentar. Aqui está um bom ensinamento para aqueles que insistem em avaliar e estudar normas e Constituições com base no texto. Tão importante como o texto é o contexto!

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Uma espécie de divergência

Mais um comentário upgraded na minha "novela" com o Manuel Fonseca. Não sei se estaremos assim tanto nos antípodas mas acho que temos uma divergência séria que penso reside no seguinte: para o Manuel Fonseca Portugal já tem uma pluralidade de agentes capazes de produzir para o mundo global e o que falta é dar-lhes mercado; para mim esse mercado não será conquistado enquanto não abrirmos e alargamos o nosso "mercado" desses agentes.

Começa por ser uma questão de escala: penso que a Espanha tem o (relativo) sucesso que refere devido à sua escala (própria e em termos relativos no mercado de língua espanhola);[...]
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Uma Espécie de Comentário

red cloud, frank strazzulla

O comentário do Miguel transformou-se em post. Eu assumo que o meu post é mesmo um comentário. Q[...]
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quinta-feira, 21 de junho de 2007

Um comentário transformado em post...

A ideia era escrever um pequeno comentário ao post anterior do Manuel S. Fonseca mas acabou por ficar tão longo que não me resta alternativa que o colocar como post. Desculpem.Estou de acordo com o Manuel relativamente à prioridade que deve ser a produção cultural. Mais difícil é saber como aumentar a "produção" e competitividade da indústria cultural em Portugal. Talvez o país em que me encontro neste momento seja um bom exemplo.

O milagre económico moderno do Luxemburgo assentou nos serviços financeiros mas este modelo está, devido a várias circunstâncias, posto em causa. Que têm feito os luxemburgueses? Investir nas actividades culturais. Pretendem tornar-se um dos pólos culturais desta parte [...]
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Circular sim! E produzir?

Em “Ainda a Globalização e a Cultura” o Miguel Poiares Maduro parte do meu post para uma incursão em que defende a livre circulação dos bens culturais, perguntando-nos, e cito, se “haverá uma grande diferença, em termos de diversidade cultural, se a grande maioria dos portugueses em vez de verem todos telenovelas passarem a ver séries americanas?”. Partilho praticamente todos os considerandos e conclusões dele, só que o meu post tinha uma natureza bem diferente. O meu problema já não é a circulação, cuja liberdade (e decorrentes vantagens) dou como adquirida; o meu problema é a produção. O que eu [...]
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E a diversidade vale sempre a pena?

No essencial estou absolutamente de acordo com a reflexão do Miguel P. Maduro. Mas vou mais longe: será a preservação da diversidade cultural sempre um «bem» em si mesma? Dou dois exemplos ligados à língua portuguesa que, do meu ponto de vista, sustentam a tese contrária:
1 - Será que, do ponto de vista dos timorenses, a preservação da língua portuguesa como marca de identidade e diferença traz mais benefícios do que traria uma mais profunda integração (também através da língua) no bloco económico de que, para o bem e para o mal, Timor faz parte?.
2 - Será que os portugueses devem lutar por preservar os particularismos do português falado em Portugal ou devem avançar decidida e regularmente para acordos ortográficos com o Brasil que podem ser a única forma de, a prazo, tornarem [...]

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BRASIL vs VENEZUELA – QUE ESTRANHOS SINAIS?!

Sabemos da ciclicidade com que a América Latina nos reserva alterações políticas e as consequências que tem vindo a provocar. Passa-se de um extremo ao outro com enorme facilidade e essa situação tem sido disruptiva no processo de democratização e desenvolvimento daquela região, com avanços e recuos, privatizações e nacionalizações separadas por uma ou duas décadas, insegurança, movimentos revolucionários, incapacidade de estabilizar os Países em ciclos virtuosos que atraiam investimento de qualidade e impulsionem os Países para a criação de condições de aumento da qualidade de vida, do aparecimento duma classe média com mais poder de compra e o desaparecimento da pobreza.

Forte contributo em sentido contrário tem sido, isso sim, dado pelo Brasil, País [...]
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Ainda a globalização e cultura

O post do Manuel S. Fonseca suscita-me o regresso a uma velha questão deste mundo novo. Será que essas especificidades culturais exigem uma excepção cultural (para proteger as "diferentes" culturas)? Ou será que, pelo contrário, essas especificidades constituem em si mesmas barreiras "naturais" à globalização e, nesse caso, a "excepção cultural" não apenas é menos necessária mas pode bem ser um instrumento de transformação dessas barreiras naturais em isolamento cultural e proteccionismo económico? No fundo há uma enorme tensão (não fácil de resolver) neste debate: sendo necessário garantir a diversidade cultural é paradoxal pretender fazê-lo reforçando o protecci[...]
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quarta-feira, 20 de junho de 2007

O corpo que se desfaz, a morte que nos invade


A velhice não é uma batalha, é um massacre” diz Philip Roth a quem o queira ouvir. Para o provar escreveu um romance devastador e belíssimo: “Todo-o-Mundo”, publicado agora pela D. Quixote. É uma leitura obrigatória e exaltante (ou lancinante?) para quem tenha alguma vez experimentado na carne porque é que d[...]
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Bastava-nos a Península

Permitam-me uma pequena variação sobre o texto “Da Inovação e Empreendedorismo”, onde Diogo Vaz Guedes afirma que o desafio da globalização impõe aos empreendedores portugueses a obrigação de considerarem a Europa como seu “mercado interno”. Ou é essa a dinâmica ou estamos condenados. Como estou de acordo, tento traduzir a premissa para sectores que me interessam: o livro, o cinema e o audiovisual. São sectores em que, afinal, o instrumento da língua introduz um inescapável partic[...]
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EUREKA!

Talvez por ser Pediatra, tenho alguma dificuldade em me considerar pessoa "crescida", (na verdade a caminho da geração dos 60), isso dá-me alguma liberdade de pensamento, e permite-me fazer uma descoberta por ano. Aqui vão, cronológicamente, as minhas descobertas anuais:
2004: A história do Super-Homem está mal contada. Quem é que tendo nascido noutro planeta, e caído do Céu na Terra, não se teria de pronto, (para usar a pitoresca expressão de um amigo), "pirado aos uivos"!
2005: As mulheres são melhores que os homens. Para demonstrar esta evidência, teria de encontrar dois seres que fossem exclusivamente filhos de uma mulher e de um homem. Ser exclusivamente filho de uma mulher: Jesus Cristo. Exclusivamente filho de um homem. Pinóquio!
2006: Decifrei o mistério do sorriso da[...]

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DA INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

A globalização veio introduzir novos factores de pressão nos países mais desenvolvidos pelo efeito da necessidade de aumento de competitividade nos seus meios de produção e bem assim pelo constante “benchmark” internacional e transparência dos mercados mundiais.

Veio também, por outro lado, abrir as portas para que novos países em vias de desenvolvimento que cumprem as regras do comércio internacional e dos direitos humanos possam ter oportunidade de participar mais activamente neste movimento do comércio e investimento global que se reflectirá no médio e longo prazo no modelo de desenvolvimento económico dos vários países, na respectiva atractividade, no seu crescimento, na sua capacidade de atrair investimento, de criar emprego sustentável, enfim, de[...]
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terça-feira, 19 de junho de 2007

Ainda o suicídio

Decididamente ando numa fase mórbida. Depois do Dr. Morte apetece-me hoje voltar ao tema do suicídio. Não tanto para continuar a teorizar sobre o assunto mas para falar de um dos «suicídios» mais bonitos da história do cinema. Refiro-me à resignação seráfica com que Stefan Brand, aliás Louis Jourdan, avança para um encontro mais do que anunciado com a morte na magnífica sequência final do «Letter from an unknown woman» de Max Ophüls. Não existirão, repito, muitos momentos na história do cinema em que a aceitação pacificada[...]

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domingo, 17 de junho de 2007

V. L’innocente. Visconti

Quem é o inocente? A primeira resposta é de que se trata da sétima personagem: da criança que vai morrer. É da matança dos inocentes que se trata. Mas em boa verdade o primeiro e único inocente é Tullio, o marido, o filho, o amante manipulador. Ele viu-se sempre como inocente, destituído de um pecado original de que não quer participar e por isso recusa a existência. Assim fazendo, recusa a existência de todos os que o rodeiam. São apenas peças para o seu projecto de fruição e curiosidade. Nada mais. Ele vê-se como inocente, como o único inocente nessa história. Desfiando o rosário das suas teorias para justificar o que no fundo é a sua falta de presença no mundo. Tullio é um exemplar, mais um, dos múltiplos povos, pessoas e grupos que vivem [...]
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sábado, 16 de junho de 2007

IV. L’innocente. Visconti

O curioso é que o facto significativo se encontra na morte da criança em plena noite de Natal. Não é por acaso. É bem pelo contrário a chave de todo o filme. Todo o filme é uma anti-Natividade.

Tullio é um São José que se fez Herodes. Giuliana a sua mulher, a que teve como obra de redenção a poesia e o mero sentimento, tendo-se reduzido na sua vida a este projecto por ter previamente aceitado as regras estéreis do marido, as da tirânica “abertura” da relação. O seu destino não acaba na dádiva de si, mas no mero ódio. A mãe é uma Sant’Ana que não percebe o sentido do sacrifício que acaba de viver, duplamente irónico, porque não é seu neto quem morre, e porque não serviu de nada tal nascimento. O irmão é Pilatos, que lava as suas mãos dos problemas. Sabe [...]
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Liberalismo e Arquitectura (3)

Entregues a uma dimensão em que o fio que une os interesses individuais e os interesses comuns parece reduzir-se ao mínimo, perdido um ideal comum para os povos, perdida a posição individual num contexto convivencial, os indivíduos escondem-se na expressão de uma vontade própria, a expressão da sua interioridade, que não pretendem discutir nem têm condições de comunicar.

Os arquitectos, espelhos do seu tempo, parecem hoje distantes do concreto existencial em que a vida das comunidades, das cidades ou dos povos se desenvolve. Filhos do internacionalismo estilístico e de uma tecnologia sem fronteiras, actuam sem referência ao que, antes, era fonte e expressão de harmonia. Actuam, sobretudo, em nome de si próprios. É certo, que [...]
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Liberalismo e Arquitectura (2)

Ao longo da história e da existência dos homens em comunidades, sempre houve um permanente compromisso e um permanente conflito que pelo direito e pela arquitectura se procuraram equilibrar. O direito e a arquitectura, como disciplinas que formam os parâmetros da existência comum dos homens, e que existem pela sua determinação e implantação no real quotidiano, geram uma constante e sempre presente expectativa de acção dentro dos limites ou compromissos entre todos e, neste sentido, esse real permite, aspira e constrói um ideal. A expectativas de cada um não se reduzem, assim, dentro do referido compromisso, a uma expressão da vontade individual, seja por juízos não consagrados nos princípios do direito, seja por obras que não interpretem os pressupostos da v[...]
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Liberalismo e Arquitectura (1)

A primeira assumpção que fazemos é a de que vivemos num tempo em que abundam os diagnósticos mas escasseiam as respostas. Há, no domínio da opinião, a convicção, senão mesmo o consenso, que, de algum modo, tudo já foi experimentado e tudo já mostrou as suas fragilidades e os seus evidentes insucessos. Politicamente, a prova da desistência é a redução da percepção da vida política à perspectiva quase exclusiva da vida económica, como se a realidade económica se sobrepusesse a todas as outras formas da existência em que o ser humano e as comunidades humanas vivem e se manifestam: o conforto e a riqueza como finalidades da existência, garantia da realização pessoal e da autonomia individual.

Há, entre outras, uma razão para isso[...]
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sexta-feira, 15 de junho de 2007

III. L’innocente. Visconti

A primeira grande separação faz surgir dois trios de personagens.

De um lado, os ligados à fonte da vida. O poeta, que tem fim trágico porque apenas existe pela poesia. É literalmente uma figura poética. A mãe de Tullio, trágico destino precisamente por saber amar (a criança que acabou de nascer). Giuliana, a mulher, porque a única forma de encontrar o amor foi ilícita (para ela esta expressão tem significado) e acabou no ódio.

De outro lado, os desligados da fonte da vida, em suma, sem esperança. A amante, a condessa Raffo, lúcida, bem sabendo que tem imensos trunfos na vida, mas sem esperança em amor redentor. O irmão, Federico, que sem esperança se dedica à distracção. Divertir para ele tem o verdadeiro sentido da palavra, de[...]
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quinta-feira, 14 de junho de 2007

II. L’innocente. Visconti

Sendo seis as personagens relevantes (veremos uma sétima), é preciso mostrar as regras do jogo. O marido estabeleceu uma relação “aberta” com a mulher, abertura de que ele é o único autor e fruidor, embora por princípio não se oponha a que a mulher frua. Por princípio obviamente. Mas a sua abertura é apenas uma forma cómoda de exprimir o seu vazio, como veremos. A sua paixão erótica tem-na com a amante.

O problema é que a mulher se apaixona pelo poeta, que encontra em casa do cunhado. Recolhe-se em casa da sogra ao que o marido se vem juntar a ela. Situação clássica: quando começa a sentir que começa a perder a mulher já esta lhe inspira instintos eróticos.

Tarde demais: ela está realmente apaixonada pelo poeta, e está grávida d[...]
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quarta-feira, 13 de junho de 2007

I. L’innocente. Visconti

Nos anos de 1970 era de bom-tom fazer análises sociológicas. Ou então psicanalíticas. Ou então estruturalistas. Em geral feitas com base em alguns lugares comuns, mais raramente com instrumentos de análise efectivamente consistentes. Num caso ou noutros, é evidente que nenhum método de leitura pode ser deitado fora sem mais. Todos nós sabemos que existem vários níveis de leitura, o que quase nem vale a pena repetir de tão banal que é.

É certo. Mas a verdade é que nem todos os níveis de leitura têm a mesma riqueza, nem sequer a mesma pertinência. Nos anos 70 em que se vivia ainda do mito da universalidade dos valores europeus, e da sua invencibilidade, até o facto de estes serem martirizados e relativizados mostrava no fundo que estes e[...]
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