Ainda a globalização e cultura
O post do Manuel S. Fonseca suscita-me o regresso a uma velha questão deste mundo novo. Será que essas especificidades culturais exigem uma excepção cultural (para proteger as "diferentes" culturas)? Ou será que, pelo contrário, essas especificidades constituem em si mesmas barreiras "naturais" à globalização e, nesse caso, a "excepção cultural" não apenas é menos necessária mas pode bem ser um instrumento de transformação dessas barreiras naturais em isolamento cultural e proteccionismo económico? No fundo há uma enorme tensão (não fácil de resolver) neste debate: sendo necessário garantir a diversidade cultural é paradoxal pretender fazê-lo reforçando o proteccionismo cultural. A diversidade verdadeira é intersubjectiva. Não se assegura um verdadeiro pluralismo de identidades (culturais ou de outro tipo) através de uma mera salvaguarda de diferentes identidades "estáticas" e "insuladas" (que não comunicam entre si). Nem penso que seja esse o tipo de cultura que nos interessa.
O medo que existe é que a comunicação entre culturas trazida pela globalização se traduza no domínio por uma delas de todas as outras. Isto não é, no entanto, uma consequência necessária da globalização. Por um lado, a globalização pode simplesmente traduzir-se num redesenhar das fronteiras da diversidade cultural (já não definidas por língua ou Estado mas sim por outras formas de identidade). Por outro lado, temos de ser criativos na criação de mecanismos que garantam essa diversidade sem a confundir com uma mera salvaguarda de identidades pré-existentes. Neste contexto, não podemos ignorar duas realidades que me parecem óbvias. A primeira é que a cultura de massas tem sempre tendência a ser homogénea, o que muda é a escala (haverá uma grande diferença, em termos de diversidade cultural, se a grande maioria dos portugueses em vez de verem todos telenovelas passarem a ver séries americanas?). A segunda é que na cultura das elites a globalização tem trazido mais e não menos diversidade. Garanto-vos que tenho hoje muito mais acesso a filmes de origens bem diversas do que antes: seja nas salas de cinema "especializadas" (que se multiplicam), no que é escrito sobre eles ou ainda, de forma mais simples, na possibilidade de os comprar em dvd na net.
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