O desprestígio dos criadores II
Comecemos pela primeira causa. A pretensão soberana abusada. Poeta, criador, existem ligações semânticas entre um e outro conceito. Ou porque revela, ou porque põe o que não estava antes, o criador é um exercitante de poder. A grande arte é sempre uma forma de soberania.
O romantismo tem má fama e provavelmente justa em alguns países latinos onde passou apenas pela via do sentimento e sem a elaboração teórica germânica, bem mais racional e estruturada do que se conhece em terras meridionais. Mas tem de se reconhecer que teve um efeito perverso que se mantém até hoje em dia: a presença do autor na obra de arte. A sua marca é inevitável, a sua presença não. Ora quando o discurso e a prática dão ênfase ao autor em demasia, o soberano entra apenas porqu[...]