quinta-feira, 29 de abril de 2010

O desprestígio dos criadores I






Não é novidade para ninguém. No entanto, por vezes faz-se de conta que não se repara. Os criadores caíram em desgraça. Escritores, pintores, escultores, filósofos são todos metidos no mesmo saco, relegados para a sua irrelevância.

Passa-se um pouco com os criadores como o que se passou com a antiga nobreza. Suscitam alguma inveja, mas são desprezados por terem perdido poder e em muitos casos autoridade. Por vezes tem de se engolir em seco perante a sua grandeza, mas nada socialmente força a que o respeito se manifeste. A inveja pode exsudar pela porta da igualdade.

A versão oficial não é essa. A cultura é muito importante, a criação cultural é fundamental. A continuam as laudas. São convidados como os antigos representantes das casas reais e senhoriais, como um elemento de prestígio, uma nota de magnanimidade, mas são irrelevantes na tomada de grandes decisões. Pior ainda: deixaram de ser respeitados e muito menos objecto de grande admiração.

O fenómeno é mais importante do que parece, e revela muito do que o nosso tempo é, do que ganhou em lucidez amarga e do que perdeu em capacidade de admiração, ou seja de possibilidade e vontade de avançar.

No que me respeita creio que esta situação tem três causas: uma pretensão soberana abusada, a comercialização da criação e do criador, e a banalização da superioridade. De uma forma ou de outra a responsabilidade encontra-se nos próprios criadores, do mesmo modo que os reis destronados podem ser vítimas de azar, mas os regimes que caem são geralmente vítimas da sua fraqueza interna.

1 comentários:

Miguel Vaz Serra disse...

Acontece com todos os criadores, acabam sempre por criar um monstro. Às vezes neles mesmos. E sempre são devorados pela criatura. A vaidade humana é a pior das criaturas. Não há inteligência que a supere.
O mundo transformou-se em cifrões. Só trabalhamos se nos pagarem, só somos políticos se podemos corromper, só pintamos se vendermos os quadros, só fazemos edifícios se nos pagarem bem, só compramos terrenos para criar cidades ou vilas se podermos especular, ou melhor, se soubermos que nesses terrenos vão construir no futuro algo que nos pague bem a desapropriação.
Os políticos são exímios nisso pois traficam informação confidencial.
Na arte vale tudo, igualmente. As modas impõem-se á criatividade e qualidade e o dinheiro fabrica-as.
Basta uma boa quantia para gastar em publicidade e comprar capas de revistas, para passarem a ser conhecidos os “artistas”…não importa o mamarracho que criaram.
O dinheiro só não compra duas coisas. Honestidade e saúde!