quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? VII

5. Razão

Mas se há aspecto em que este papado se destaca é o da problemática da razão. A modernidade tem uma relação francamente doentia com a razão. Por um lado, considera que tem o seu monopólio, mas por outro lado sente o maior desprezo por ela. Invoca a ciência para fora dela, mas internamente mostra a sua inanidade. A modernidade desemboca no pessimismo, no relativismo, nos altermundalismos, nas teorizações transeuntes.
O discurso de Ratisbona é, quanto a mim, um dos actos fundadores deste papado nesta matéria.
O que disse o papa em Ratisbona? Qual é o sumo do que disse? Que a ligação entre o Logos grego e o cristianismo não é ocorrencial. Que o cristianismo é a religião do Logos feito carne. Que a razão não é algo [...]
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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? VI

3. Herança grega esquecida

A herança grega tornou-se particularmente estranha ao espaço público. Quanto mais é citada, mais se percebe que é vista apenas em lampejos, em pequenos fragmentos, que lhe retiram todo o conteúdo (1).

O esquecimento da herança grega tem efeitos na concepção que se tem da Europa e da união das igrejas. E isto duplamente: a herança grega pagã e a herança grega cristã.

Os católicos ocidentais, e nisto os portugueses têm acrescidas culpas, comportam-se como se não houvesse cristianismo oriental ou como se fosse mero exotismo. Esquecem-se que a sua base da sua fé foi definida por sete concílios que ocorreram todos no oriente e em língua grega.

Esquecem-se que quando falam em São João Crisóstomo, São João Damasc[...]
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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? V

C. Que tem de positivo este papa?

1. Diálogo com os ortodoxos. União das igrejas

Alguns comentadores políticos disseram que o papa foi à Turquia porque era favorável à adesão da Turquia. A verdade é que quem lê os seus discursos nunca viu essa declaração e vê exactamente o contrário. Se o Papa foi à Turquia é em grande medida porque essa é uma das portas de entrada na Rússia, a maior comunidade ortodoxa do mundo (1).
Uma das preocupações maiores deste papa é a da união entre os cristãos, não confundindo diálogo de religiões com ecumenismo, que são realidades profundamente diversas (2).
Nesta matéria João Paulo II tinha um problema: era polaco. Por isso a sua relação com os russos estaria[...]
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? IV

7. Ódio à inteligência

Os intelectuais oficiais odeiam[...]

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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? III

4. O Complexo do príncipe inocente

João Paulo II era papa benquisto, logo o sucessor não o é. Parece simples, mas mostra o primitivismo da nossa época. O curioso é que em todo o pontificado de João Paulo II houve uma tendência para se dizer que os aspectos mais criticáveis eram da autoria do Inquisidor geral.

Temo bem que isto seja esquecer que: a) Ratzinger foi convidado três vezes por João Paulo II, recusou duas, e só foi para Roma com ordem do papa; b) o papa João Paulo II estava bem longe de ser destituído intelectualmente, tinha ideias próprias, sabia bem quem era Ratzinger e quem estava a recrutar.

Tendemos a olhar com condescendência as ditas multidões medievais e ignorantes (1) que co[...]
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? II

2. Tempo e ingratidão.

A nossa ligação ao tempo é por outro lado geradora de ingratidão.

Bento XVI é um pensador, e um pensador leva tempo a exprimir-se. E leva tempo para ser ouvido. Leva tempo a ser compreendido. A nossa época prefere o slogan. O slogan é o primo pobre da fórmula. A fórmula produz efeito pelo que carrega, o slogan produz efeito exactamente por não carregar nada consigo. É o mero efeito fácil.

Os pensadores podem ser capazes do efeito fácil, mas apenas para provar como é fácil o efeito. Quando Diógenes Laércio mostra Aristóteles a destruir a piada de mau gosto de Diógenes o Cínico, não mostra a grandeza da obra de Aristóteles. Apenas demonstra que mesmo sob o modo menor Arist[...]
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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? I

A. Introdução

Bento XVI é um papa mal amado, mesmo por muitos católicos (1). A comparação é sempre feita com o anterior papa, com o seu carisma, a sua aura.

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pragmáticos, supersticiosos e concretos

É sempre elucidativo ter o ouvido atento para os dizeres de rua. Antigamente eram as varinas, os cantadores, as peixeiras que faziam correr as notícias. Como hoje em dia os seus filhos estão em postos de poder das mais diversas naturezas, é bom ver o que estes ilustres descendentes trazem para a praça pública.

Um dos dizeres mais comuns, porque de mero dizer se trata, como veremos, é o dos que se dizem pragmáticos, que dizem gostar de coisas concretas. Como a sua formação lógica e filológica é geralmente defectiva tenho de começar por fazer alguns reparos iniciais.

Pragmatismo vem do grego “pragmata”, as coisas, “o que está feito”. Na sua raiz aparece o agradável “prag” que também se encontra na pal[...]
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tagarelice e matemática III

Aristóteles tinha uma admiração especial por Sófocles. Ignoro qual fosse a preferência de Platão. A vida tem paradoxos aparentes e suspeito que tivesse um fraquinho por Aristófanes. O facto é que a multidão tagarela não se comporta como o coro da tragédia. Este expressa-se de modo fundamentado, porque tem a sua vida definida por um papel, uma função, já estabelecidos, e por uma métrica em que o pé limita o desvario incontrolado da expressão, mesmo que não o dos sentimentos. O coro pode nem sempre falar em uníssono, mas exprime-se de forma coordenada. A multidão tagarela que fala no ágora tem certezas absolutas que lhe vem do simples facto de ter direito a falar.

Podemos ir mais fundo. E eis que parece alguém que numa distância de cerca de vinte e três s[...]
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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tagarelice e matemática II

Devo dizer que li Platão durante anos com alguma relutância. A sua repulsa pela democracia parecia-me suspeita, tão suspeita quanto o elogio dos estóicos médios, e tão divulgado por Políbio, do regime misto (de monarquia, aristocracia e monarquia). Mas não podemos esquecer que Platão não lidou com a ideia de democracia. Lidou com o que ela era no dia-a-dia, sobretudo depois da morte do seu aristocrático chefe, Péricles. A democracia entregue nas mãos do povo, em que o povo ficciona ser aristocrata e a grosseria se torna padrão, foi ao que assistiu Platão.

O comum é dizer-se que ele apresentou uma solução extrema na “República” e depois matizada nas “Leis”. De uma forma ou de outra, as suas utopias eram baseadas no controlo, e também as demais utopias, s[...]
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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tagarelice e matemática I







Num maravilhoso e muito claro estudo sobre “O Politico”[...]
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Descarrilar

««- Mãe, quando chegamos?
- Ainda demora, aguenta, é a vida.
- O que é a vida, Mãe?
- A vida era nós as duas numa piscina, sinal que a M[...]

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