quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Bento XVI um papa mal amado? I

A. Introdução

Bento XVI é um papa mal amado, mesmo por muitos católicos (1). A comparação é sempre feita com o anterior papa, com o seu carisma, a sua aura.

Parece-me por isso importante perguntar o que leva ao que no fundo mais não é que ingratidão por um triplo sacrifício. Numa perspectiva de carreira civil e não de múnus espiritual, o cardeal Ratzinger investe-se numa nova carreira, muito mais exigente, numa altura em que o cidadão comum já é veterano da aposentação. Aceita essa nova função sabendo que iria ser sempre comparado em desfavor com o anterior papa. E como se não bastara, trata-se de um homem de estudo, discreto, para o qual o contacto com as multidões não é estranho (teve desde há muito funções pastorais), mas não corresponde a uma personalidade mais reflexiva, meditativa, pensadora.

Como explicar este desamor do espaço circundante? É essa a primeira questão que nos temos de colocar antes de analisar o que este papa traz de especialmente positivo para o papado.

B. Razões do desamor

Quando alguém é mal amado é sempre mais interessante olhar para quem não ama que para o mal amado. É a regra clássica da prestidigitação: olha-se sempre para a mão que não é objecto das luzes. Por isso é natural que se tenha de falar mais da época que o crítica que do papa.

Muitas das razões do desamor são comuns ao papado e à hierarquia em geral, por vezes estendem-se a toda a igreja. Mas neste papa aparecem com maior acuidade, ou com menores atenuantes que em relação a João Paulo II. Outras razões são-lhe específicas. Poderíamos descobrir mais, mas enuncio dez razões que me parecem as mais pertinentes.

1. Monocordia de instâncias

A nossa época conhece certas instâncias de análise e não sai delas: a) jornalística (diferente da informação, é feita de pressa, é a informação como substituto do pensamento); b) o comentário político (que pouco tem a ver com o pensamento político); c) a parasitagem científica (que mais uma vez é bem diferente da cultura científica).

A questão é que o que o papa faz é analisado nestas instâncias. Apanha-se uma pequena frase e é amplificada. Fala-se no plano jornalístico. O que interessa é a notícia, não a ideia, o pensamento. Critica-se a conferência de Ratisbona porque o papa teria sido politicamente infeliz. Fala-se no plano do comentário político. Critica-se o discurso sobre o preservativo em nome de parasitagem científica, como se a classe jornalística tivesse a profundidade em ciência de um Abbé Lemaître.

Os discursos teológico, filosófico, mas também o científico, são vítimas no nosso tempo. Ninguém os compreende nem tolera. A questão é que é esse é o discurso deste papa. Um espaço público monocórdico agasta-se com a complexidade de um discurso que não domina, que não percebe, cuja riqueza o insulta. Este desencontro de discursos agasta sempre quem não percebe. E é a época, cansada intelectual e espiritualmente, quem se agasta.

[1] Este texto foi apresentado em Abril de 2010. Na altura o que hoje pode passar por exagero passava por eufemismo.

1 comentários:

Irmã Consuelo disse...

Como Católica não aceito a versão de que este Papa é pior tratado porque o outro era muito bom,carismático e inteligentíssimo(que o era tudo isso e mais).Este Papa é pior porque é mau mesmo.Péssimo.Começou mal,com comentários dignos de um miúdo de 10 anos mal informado do mundo actual, sobre o Islão que desembocou na morte de irmãs em África e revoltas imensas contra os católicos no mundo inteiro.Não sabe convencer as pessoas.Não sabe porque não acredita no que lê.
Bento XVI é um mau Papa.Ponto final.Foi um erro imenso que pagamos caríssimo!!!