III. Porfírio, Sullo Stige, Bompiani 2006
Mas que nos interessa hoje em dia este problema que parece tão distante? É que, mais uma vez, a nossa época não é o de vazio de divindade, mas de um recalcamento da mesma no espaço público. Todo o recalcamento gera sublimação ou retorno explosivo. Na Viena burguesa do início do século XX era do sexo que se tratava. Mas o recalcamento religioso tem efeitos semelhantes. A religião é sublimada em direitos do homem, na natureza sacral da democracia, da ciência, da ecologia. Ou então explode literalmente nas ruas de Bagdad ou Madrid. Ou explode por outra via menos visível, a da irritação, da revolta intelectual e afectiva sem palavras.
A nossa época não teve a vitalidade de produzir um pensador universal como Porfírio, que soube perceber todos os movimentos da sua época, embora não os tenha conseguido resolver a quase nenhum. A síntese anda perdida por entre o barulho da comunicação social. Anunciavam-nos o fim da religião e ela aparece em fragmentos, vendida em pacotes, em que toda a espécie de mistérios são objecto de consumo. Nova Idade (qual?), códigos escondidos em que a ciência (misteriosa para os autores em causa) se mistura com do destino do mundo (misterioso de forma mais legítima). Os fundamentalismos crescem.
A solução freudiana é a catarse, a purificação. Leitura algo apressada da cultura grega. Era a leitura de que Freud podia dispor na altura de acordo com do desenvolvimento da filologia clássica. Mas libertamo-nos do reclamante religioso não exige tanto purificação quando absorção. Perceber, não apenas o mundo em que se vive e as suas necessidades, mas o centro dos problemas e soluções que desde sempre estiveram em frente do ser humano.
Porfírio estava bem mais armado que a maioria das pessoas da nossa época. Percebei bem os instrumentos que ela tinha disponíveis. O homem semi-alfabetizado da nossa época sente-se muito mais perdido. Quer-se libertar de peias que nunca conheceu, e são afinal escoras, quer alimentar-se de frutos exóticos para cuja absorção não está preparado. Está tão habituado a viver como um recalcado religioso que nem percebe ser. A sua forma de pudicícia para por uma linguagem de liberdade, mas nem lhe conhece os contornos, quanto mais os fundamentos. À massa ainda lhe falta dar o imenso passo que Porfírio deu. Quanto mais perceber que mesmo a Porfírio lhe faltou dar outros mais essenciais. Mas que renasça no homem comum a vivência do numinoso não lhe fará mal. É melhor enfrentá-lo que ser perseguido por ele sob forma de vapor. E um dia de explosão.
http://bompiani.rcslibri.corriere.it/bompiani/libro/5711_sullo_stige_porfirio.html
http://www.liberonweb.com/asp/libro.asp?ISBN=8845257118
O que se diz nos blogs:
Na Geração de 60
http://geracaode60.blogspot.com/2007/05/i-vangelo-di-un-pagano-testo-greco.html
http://geracaode60.blogspot.com/2007/05/ii-vangelo-di-un-pagano-testo-greco.html
http://geracaode60.blogspot.com/2007/05/iii-vangelo-di-un-pagano-testo-greco.html
Noutros blogs
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Alexandre Brandão da Veiga
A nossa época não teve a vitalidade de produzir um pensador universal como Porfírio, que soube perceber todos os movimentos da sua época, embora não os tenha conseguido resolver a quase nenhum. A síntese anda perdida por entre o barulho da comunicação social. Anunciavam-nos o fim da religião e ela aparece em fragmentos, vendida em pacotes, em que toda a espécie de mistérios são objecto de consumo. Nova Idade (qual?), códigos escondidos em que a ciência (misteriosa para os autores em causa) se mistura com do destino do mundo (misterioso de forma mais legítima). Os fundamentalismos crescem.
A solução freudiana é a catarse, a purificação. Leitura algo apressada da cultura grega. Era a leitura de que Freud podia dispor na altura de acordo com do desenvolvimento da filologia clássica. Mas libertamo-nos do reclamante religioso não exige tanto purificação quando absorção. Perceber, não apenas o mundo em que se vive e as suas necessidades, mas o centro dos problemas e soluções que desde sempre estiveram em frente do ser humano.
Porfírio estava bem mais armado que a maioria das pessoas da nossa época. Percebei bem os instrumentos que ela tinha disponíveis. O homem semi-alfabetizado da nossa época sente-se muito mais perdido. Quer-se libertar de peias que nunca conheceu, e são afinal escoras, quer alimentar-se de frutos exóticos para cuja absorção não está preparado. Está tão habituado a viver como um recalcado religioso que nem percebe ser. A sua forma de pudicícia para por uma linguagem de liberdade, mas nem lhe conhece os contornos, quanto mais os fundamentos. À massa ainda lhe falta dar o imenso passo que Porfírio deu. Quanto mais perceber que mesmo a Porfírio lhe faltou dar outros mais essenciais. Mas que renasça no homem comum a vivência do numinoso não lhe fará mal. É melhor enfrentá-lo que ser perseguido por ele sob forma de vapor. E um dia de explosão.
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