Jesus está vivo. E Maomé também...
O título deste post pode, talvez, soar a qualquer tipo de publicidade feita à Igreja Universal do Reino de Deus. Mas não. Escrevo-o em diálogo com este outro post do nosso querido Manuel Fonseca (que, em rigor, já teria começado aqui), ao qual, sem querer, de modo nenhum, retirar da sua natural condição de "alinhado", gostaria, no entanto, de dizer alguma coisa.
A primeira é que Homero é apenas um personagem cujo nome individual representa todo o povo grego. Os "seus" poemas contam essa mítica viagem que, atravessando as civilizações minóica e micénica, foi feita pelos aqueus, desde o Médio Oriente até à Europa, passando pela labiríntica ilha de Creta. E já na europeia Hélade, onde, por volta do século VIII a. C. (a que Karl Jaspers chamou a idade axial), fomos definitivamente iluminados pela apolínea razão que nos faz ver, sem que a vejamos, permanece essa fundacional mentalidade homérica, que desde a parte mais vegetal das nossas almas nos informa ainda o que sentimos e o que pensamos.
Quanto a Sócrates, o verdadeiro (a quem a mulher, de nome Xantipa, constantemente recriminava por não aproveitar a sua fama para alcançar poder e honras), a frase que tomou como lema, ou como cruz, da sua vida (gnótis autón: conhece-te a ti mesmo), não era sua. Estava escrita no oráculo de Delfos, nesse centro, ou umbigo, da terra, a partir do qual os deuses comunicavam com os homens, indicando-lhes enigmaticamente os seus caminhos. Foi esse mesmo oráculo, aliás, que afirmou que Sócrates era o homem mais sábio da terra – justamente ele, que sabia quanto é humilde e limitado o que sabemos.
Quanto a Jesus Cristo, ninguém duvida da sua existência humana, hoje historicamente comprovada, tanto quanto pode comprovar-se este disperso pó que somos. É a sua existência divina aquilo que sempre é posto em causa. E, justamente, deve sê-lo, porque, tal como dissemos em relação a Apolo, o divino é o que, iluminando, não se vê. Temos, assim, que procurá-lo, a partir do que, no nosso caminho, ele nos mostra.
Maomé, do mesmo modo, por cá andou, de Meca para Medina e de Medina para Meca, cumprindo os desígnios do Senhor.
Ora, o meu ponto, querido Manuel, é este: estas não são figuras ausentes. Muito pelo contrário: são pessoas absolutamente presentes! Com efeito, são justamente os que nada escreveram, os que nada tiveram – numa palavra, os que não se objectivaram –, aqueles que permanecem duradoiramente na história com a qualidade de verdadeiros sujeitos.
É que a maior força que experimentamos nesta vida é, na verdade, a do espírito. Isto é um facto verificável. Com efeito, quem age hoje por causa de Júlio César e de todo o poder que ele teve? Quem determina a sua vida por causa do poder dos Medici? Quem quer agradar ao poder e ao dinheiro que passou?
No entanto, aqueles que viveram a sua vida de acordo com um poder que não se vê, mas que ilumina, ainda hoje determinam interiormente, transformando-a, a vida de cada um e de todos nós. Confúcio, Buda, Sócrates, Jesus, Maomé, São Francisco, Madre Teresa e os mais em que queiramos pensar. Mil anos passados, movem, de facto, montanhas.
A questão, assim, como a propósito da quaresma, num outro post, mais atrás, já tinha posto, é a da ordem que escolhemos para a nossa vida. Quem está no centro do mundo: o homem, ou Deus?
A resposta, dada nesse maior e melhor centro do mundo que é o nosso coração, continua a ser aquela que, respeitando a nossa liberdade, foi há mais de dois mil firmada por Jesus Cristo - e que nós lembramos por intermédio de São Mateus: «Onde tiveres o teu tesoiro, aí estará o teu coração.»
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