Porque os modernos odeiam as mulheres?
É muito curioso passar
pelas referências dos ditos modernos e ver o que eles realmente pensam.
A grande democracia
ateniense. Expulsa as mulheres do espaço público. Na aristocrática Esparta ou
Lesbos as mulheres têm um mais forte papel.
A grande Renascença. É
nela que as bruxas começam a ser perseguidas. Em que os juristas como Bodin
defendem que deveria retornar o direito ao repúdio - só pelos homens, é
evidente - onde nem depois de viúvas as mulheres podem fazer parte de
corporações, em que se teoriza e impõe em grande parte a impossibilidade da
mulher herdar património, poder feudal ou soberania.
As Luzes. Em que Voltaire
diz que o grande mérito do confucionismo é o de ter sido a única religião que
não foi seguida pelas mulheres, onde tantos (Boulainvilliers, Diderot, Montesquieu,
Voltaire) defendem os haréns porque a poligamia é o regime natural - só para os
homens, é evidente. Em que Rousseau entende (contra o papa Bento XIV que promove
a carreira da professora de física de Bolonha Laura Bassi) que as mulheres são estúpidas
demais para aprender ciência. E em que durante a Revolução Francesa, perante o
protesto de Olympe de Gouges, que diz não haver apenas direitos do homem, mas também
da mulher, a grande Assembleia Nacional decreta que o lugar da mulher é na
cozinha.
A atracção pelo islão.
Que enfia as mulheres em haréns. Que tem leis divinas que lhes mandam receber
«barada» (tabefe, piparote, estaladão, murro?).
Se bem virmos, o traço
comum de todas estas referências dos modernos é o de expulsar as mulheres do
espaço público e retirar-lhe direitos e liberdades.
Quando uma mulher diz que
deve muito às Luzes podemos assentir, que talvez seja verdade. Deve às Luzes,
mas não à inteligência. Lady Montague é bom exemplo disso no século XVIII,
quando acha os turcos fascinantes, mas não percebe que só falam com ela por ser uma mulher
europeia, e não súbdita do império otomano. E ao mesmo tempo conta que uma mulher
encontrada morta na rua não é entregue à
família porque, tendo andado sempre velada, ninguém sabe quem ela é. Usar véus significa
ser anónima para o mundo, mesmo quando cadáver.
Já sabemos, pois, qual a
intenção dos ditos modernos. Expulsar as mulheres do espaço público. Salvo se
não for a sua intenção, podem dizer em sua defesa. Talvez. Mas só numa
condição: se forem ignorantes.
Alexandre Brandão da
Veiga
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