segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sinais de servidão

Uma vez um funcionário muito bem colocado disse-me: “eu prefiro ser mandado pelos americanos que pelos franceses e alemães”. Curiosa concepção de liberdade a que ele se resume a escolher um senhor. Escusado será dizer que a criatura em causa tinha um posto tão alto quão baixa era a sua origem. Em bom rigor, o problema da origem não é de onde se vem mas o facto de ainda se lá estar. A graduação apenas estica, não eleva. Que sofrimento.

Dá-se o caso de os últimos anos terem servido de demonstração. Não é muito relevante para estes efeitos saber onde está o vencedor a cada momento, se a ideia europeia de política internacional (aliás muito criticável em muitos aspectos) se a americana (muito boa talvez... para os americanos).
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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Aprendendo matemática e outras coisas III

Mas vejamos o fundo da questão. A tese que hoje em dia corre insurge-se contra uma concepção que se afirma romântica da aprendizagem. No entanto, em boa verdade é uma concepção meramente gestionária da educação. É verdade que na versão pública a ideologia educativa prevalecente parece ser de “esquerda”, romântica, à la Rousseau. Parece. Mas em boa verdade vejamos quais são as suas práticas: organigramas, fluxogramas, enunciação de objectivos, fichas, idolatria das competências em detrimento do conhecimento como valor. A sua lógica substitutiva e não cumulativa torna-a parente das técnicas da obsolescência induzida, típica da sociedade de consumo.

A teoria pedagógica criticada em boa verdade não é de esquerda, nem romântica. O romantismo, sobret[...]
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terça-feira, 12 de julho de 2011

Aprendendo matemática e outras coisas II

Qual é o oposto do sistema cumulativo? Um sistema substitutivo, seja assim assumido intencionalmente, seja nos seus efeitos práticos, pela forma como funciona. O problema deste sistema substitutivo é que anuncia pela sua natureza a sua irrelevāncia. Se o aluno pode esquecer sem problemas o que antes aprendeu quer isso dizer que o que aprendeu antes não era assim tão relevante. Qualquer sistema substitutivo é assim forçosamente uma aprendizagem de irrelevâncias. Se é permitido esquecer, se é irrelevante que se esqueça, é porque o esquecido não era essencial em conclusão.

Qual é o segundo vício de um sistema substitutivo de aprendizagem, seja em que área for? E entramos na segunda incompletude dos que afirmam que o ensino da matemática é cumulativo, e ape[...]
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aprendendo matemática e outras coisas I

Nestes últimos anos várias pessoas têm vindo a dizer que o ensino da matemática é cumulativo e que, caso não tenhamos consciência disso, não perceberemos que estamos a criar uma fraude no ensino. Em segundo lugar, só se pode passar a uma nova fase de aprendizagem após conhecer bem a anterior. O paradoxo é que não posso simultaneamente concordar mais e discordar mais desta ideia.

Não posso senão concordar plenamente porque não há dúvida que o ensino da matemática é cumulativo. A teoria dos conjuntos é vazia caso não se perceba as implicações que tem para a análise, aprender análise sem saber álgebra é impossível, discorrer sobre álgebra abstracta sem perceber as suas implicações na geometria é exercício vão. Não há parte da matemática que não esteja rela[...]
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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto

Maria José Nogueira Pinto merecia escapar ao habitual carrocel de elogios fúnebres. Tinha uma frontalidade rara que não se compadeceria com a lamúria de exaltações qu[...]

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Porque está o francês fora de moda?

That monstrous region, whose dull rivers poor
Keats


O império do inglês tem posto a nu um fenómeno que se tinha manifestado em alguns países europeus, mas também na América Latina, em África e em alguns países asiáticos. O inglês impera, mas às custas da decadência de uma outra língua: o francês.

As causas desta decadência são fáceis de analisar: seguiram-se duas potências hegemónicas anglófonas, o inglês básico (mal falado) é mais fácil que o francês básico (que tem de ser sempre minimamente bem falado). Por outro lado, o inglês é um híbrido em que germânicos e latinos encontram sempre um apoio para sua ignorância, em que é comum haver uma palavra, uma construção, uma mais latina e outra mais germânica.[...]
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