terça-feira, 25 de janeiro de 2011

II. Mehmed efendi. Le Paradis des Infidèles. Un ambassadeur ottoman en France sous la Régence. La Découverte. Paris. 2004.

Um outro testemunho curioso é o de outro turco do século XVIII (pp. 237 ss.). Ibrahim müteferrika. Ibrahim deixa claro que os cristãos são para ele um só povo (p. 238), que se consola das suas antigas perdas (para o Islão) conquistando novos territórios (p. 238). “Os muçulmanos, seja por ódio da sua religião (cristã), seja por abominação dos seus usos e costumes, sempre testemunharam uma grande aversão pelo conhecimento dos negócios destes reis e potências destas execráveis nações (cristãs)” (pp. 238-239).

As frases são eloquentes do imenso espírito de tolerância e amor que tiveram desde sempre os turcos pela Europa. Repare-se que se trata de um pró-europeu, um dos primeiros turcos a sê-lo, favorável a que se passe do mero desprezo à imitação.

O [...]
(mais)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O que fazer com Antígona? IV

“Fui destinada a espalhar o amor e não o ódio”. Cito de cor, e forçosamente de forma atrevida. Como muitas vezes ao longo da História, alguém com as suas forças humanas tacteia e descobre apenas vislumbres, como se esperasse uma revelação. Em muitos outros casos temos prenúncios estranhos e por vezes abusivamente interpretados de uma antecipação cristã. Séneca com o seu exame de consciência. A célebre écloga de Virgílio em que anuncia a criança que mais não é que o “puer aeternus”. O deus desconhecido de Atenas. Ou ainda a crónica de Senanchton que fala de um filho bem-amado de um deus que teria sido crucificado. Temos sempre de ver esses anúncios com luvas de pelica. É solução fácil recusá-los, tanto como aceitá-los sem mais.

Não é fruto de acaso que A[...]
(mais)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O que fazer com Antígona? III

O segundo motivo de desconforto parece menos evidente. Porque no fundo Antígona opta pelo direito familiar (enterra um familiar morto) ao direito público (Jouanna viu-o bem). Em certo sentido, Antígona é uma das criadoras da separação entre o espaço público e o privado. O que diz é que o Estado tem limites na sua actuação na esfera privada. Nesse sentido seria antecessora da modernidade e pós-modernidade e deveria ser usada como referência permanente.

O problema é que não encontra melhor fundamento que a lei divina. Em acréscimo a lei dos deuses de baixo, que é respeitada até por Zeus. São os seus desuses inferiores que tutelam o espaço privado. Demasiada complexidade para a mente moderna. Invocar a lei divina e em acréscimo hierarquizá-la, mostrar que [...]
(mais)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O que fazer com Antígona? II

Ao contrário de Electra, Jocasta ou Édipo, não se inventou complexo com o seu nome. Já seria algo mau que Freud tivesse usado a metáfora e não chamasse a atenção para o facto de ser uma metáfora. Nenhuma destas personagens adere aos complexos que ele descreve. Nem Édipo queria ir para a cama com a mãe, nem matar o pai, nem Jocasta queria ir para a cama com o filho. E nem sequer Jocasta tinha esse medo, e Édipo, que teve esse medo, fez tudo o que podia para não correr esse perigo.

Mas que Freud recorra aos conhecimentos filológicos do seu tempo e não os use plenamente já seria mau. Subtrai das personagens uma metáfora e não contribui assim em nada para a compreensão dos gregos nesta matéria. E lançou um equívoco, importante, mas algo pouco eficaz no mund[...]
(mais)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O que fazer com Antígona? I








Antígona pode estar na moda entre os intelectuais por mais um ou outro livro que a refira, mas a verd[...]
(mais)