O que fazer com Antígona? III
O segundo motivo de desconforto parece menos evidente. Porque no fundo Antígona opta pelo direito familiar (enterra um familiar morto) ao direito público (Jouanna viu-o bem). Em certo sentido, Antígona é uma das criadoras da separação entre o espaço público e o privado. O que diz é que o Estado tem limites na sua actuação na esfera privada. Nesse sentido seria antecessora da modernidade e pós-modernidade e deveria ser usada como referência permanente.
O problema é que não encontra melhor fundamento que a lei divina. Em acréscimo a lei dos deuses de baixo, que é respeitada até por Zeus. São os seus desuses inferiores que tutelam o espaço privado. Demasiada complexidade para a mente moderna. Invocar a lei divina e em acréscimo hierarquizá-la, mostrar que tem uma orgânica própria, algo de complexo demais para o suspiro pensativo do homem actual. Muito cansado anda ele sem pensar, quanto mais obrigá-lo a pensar.
Em terceiro lugar, é uma legitimista. Quem pretende ela enterrar? O irmão mais velho, Polinices. Em relação a Etéocles não mostra piedade. É certo que Creonte o quer enterrar com honras de Estado, por isso não se teria de preocupar com ele. Mas quando define o que seria um destino feliz fala no além com os seus pais e o seu irmão Polinices. De Etéocles nem uma palavra. Se bem virmos a explicação encontra-se em parte, não na tragédia com o nome desta heroína, mas no Édipo em Colona de Sófocles. Polinices é o irmão mais velho, é o legítimo herdeiro do trono. Etéocles é apenas um usurpador por não ter direito de primogenitura.
Antígona é uma legitimista. Os seus amores são ordenados, apesar de tudo. Uma coisa é a violação da ordem não consciente, a dos seus pais, que praticam incesto. Outra a consciente e voluntária, de usurpação. A clara diferença entre infracção voluntária e involuntária, tratada tecnicamente como essencial no direito, é esbatida numa moral algo frouxa que acha que a motivação explica mais que a vontade e que portanto a distância entre o voluntário e o involuntário, e as fronteiras da consciência, são factores menores, com limites esbatidos.
O problema é que não encontra melhor fundamento que a lei divina. Em acréscimo a lei dos deuses de baixo, que é respeitada até por Zeus. São os seus desuses inferiores que tutelam o espaço privado. Demasiada complexidade para a mente moderna. Invocar a lei divina e em acréscimo hierarquizá-la, mostrar que tem uma orgânica própria, algo de complexo demais para o suspiro pensativo do homem actual. Muito cansado anda ele sem pensar, quanto mais obrigá-lo a pensar.
Em terceiro lugar, é uma legitimista. Quem pretende ela enterrar? O irmão mais velho, Polinices. Em relação a Etéocles não mostra piedade. É certo que Creonte o quer enterrar com honras de Estado, por isso não se teria de preocupar com ele. Mas quando define o que seria um destino feliz fala no além com os seus pais e o seu irmão Polinices. De Etéocles nem uma palavra. Se bem virmos a explicação encontra-se em parte, não na tragédia com o nome desta heroína, mas no Édipo em Colona de Sófocles. Polinices é o irmão mais velho, é o legítimo herdeiro do trono. Etéocles é apenas um usurpador por não ter direito de primogenitura.
Antígona é uma legitimista. Os seus amores são ordenados, apesar de tudo. Uma coisa é a violação da ordem não consciente, a dos seus pais, que praticam incesto. Outra a consciente e voluntária, de usurpação. A clara diferença entre infracção voluntária e involuntária, tratada tecnicamente como essencial no direito, é esbatida numa moral algo frouxa que acha que a motivação explica mais que a vontade e que portanto a distância entre o voluntário e o involuntário, e as fronteiras da consciência, são factores menores, com limites esbatidos.
1 comentários:
Meu deus, quanta asneira este autor fala. Reduzir à psicanálise à própria ignorância, não dá.
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