O que fazer com Antígona? II
Ao contrário de Electra, Jocasta ou Édipo, não se inventou complexo com o seu nome. Já seria algo mau que Freud tivesse usado a metáfora e não chamasse a atenção para o facto de ser uma metáfora. Nenhuma destas personagens adere aos complexos que ele descreve. Nem Édipo queria ir para a cama com a mãe, nem matar o pai, nem Jocasta queria ir para a cama com o filho. E nem sequer Jocasta tinha esse medo, e Édipo, que teve esse medo, fez tudo o que podia para não correr esse perigo.
Mas que Freud recorra aos conhecimentos filológicos do seu tempo e não os use plenamente já seria mau. Subtrai das personagens uma metáfora e não contribui assim em nada para a compreensão dos gregos nesta matéria. E lançou um equívoco, importante, mas algo pouco eficaz no mundo (quantos homens com impotência provocada pela diabetes tiveram de perder vinte anos da vida em psicanálise a tentar convencer-se que afinal a sua impotência se deveria a quererem ir para a cama com uma mãe que nunca desejaram, por exemplo?). Muito mais grave é que os seus apaniguados repitam escolasticamente as suas como verdades absolutas.
Sobra-nos pouco de Sófocles, apenas sete peças completas das mais de cem que ele terá feito. Sobram-nos apenas três tragediógrafos com peças completas, mas apenas escolhos da maioria delas. E estes três são apenas uma gota num oceano de criadores. É por isso quase impossível retirar ideias gerais justas sobre o que seja a cultura grega nesta sede.
Mas, mais importante que isso para a nossa época, é a necessidade de catalogação que a tem, obsessiva, tanto quanto se diz livre de preconceitos. São duas vertentes de uma mesma moeda.
Antígona não tem um complexo que a identifique e por isso é pouco manipulável. Ama o seu pai e irmão como pai apenas. É-lhe fiel. Continua fiel à mãe e ao irmão mais velho Polinices. Despreza a sua irmã Ismene e o seu irmão Etéocles. Enfim, ama e odeia sem se poder estabelecer um padrão rígido que explique esse amor e desamor de modo definitivo e catalogável. Ama e odeia como qualquer ser humano, o que as teorias mecânicas não admitem.
Mas que Freud recorra aos conhecimentos filológicos do seu tempo e não os use plenamente já seria mau. Subtrai das personagens uma metáfora e não contribui assim em nada para a compreensão dos gregos nesta matéria. E lançou um equívoco, importante, mas algo pouco eficaz no mundo (quantos homens com impotência provocada pela diabetes tiveram de perder vinte anos da vida em psicanálise a tentar convencer-se que afinal a sua impotência se deveria a quererem ir para a cama com uma mãe que nunca desejaram, por exemplo?). Muito mais grave é que os seus apaniguados repitam escolasticamente as suas como verdades absolutas.
Sobra-nos pouco de Sófocles, apenas sete peças completas das mais de cem que ele terá feito. Sobram-nos apenas três tragediógrafos com peças completas, mas apenas escolhos da maioria delas. E estes três são apenas uma gota num oceano de criadores. É por isso quase impossível retirar ideias gerais justas sobre o que seja a cultura grega nesta sede.
Mas, mais importante que isso para a nossa época, é a necessidade de catalogação que a tem, obsessiva, tanto quanto se diz livre de preconceitos. São duas vertentes de uma mesma moeda.
Antígona não tem um complexo que a identifique e por isso é pouco manipulável. Ama o seu pai e irmão como pai apenas. É-lhe fiel. Continua fiel à mãe e ao irmão mais velho Polinices. Despreza a sua irmã Ismene e o seu irmão Etéocles. Enfim, ama e odeia sem se poder estabelecer um padrão rígido que explique esse amor e desamor de modo definitivo e catalogável. Ama e odeia como qualquer ser humano, o que as teorias mecânicas não admitem.
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