Realismo fantástico e teoria dos valores I
Duas realidades que ninguém se lembra de cotejar: o realismo fantástico e teoria dos valores. A comparação na nossa época é em geral apressada apenas porque o pensamento é irresponsável e provinciano. Mas na cultura as coisas não estão desgarradas. O sucesso de dois movimentos que aparentemente nada têm a ver um com o outro é geralmente mais significativo do que se pensa.
Comecemos pelo realismo fantástico. A expressão aparece nos anos 50, se bem me lembro, em pensadores da extrema-direita francesa ou tendo nela a sua origem, como Jacques Bergier e Louis Pawels. E eis que passa para a qualificação de alguma literatura latino-americana para de novo retornar à Europa. Que muitos bem pensantes ditos de esquerda vão beber à extrema-direita não é novidade. A ecologia, o feminismo, o culto homossexual têm na extrema-direita muitos dos seus primeiros cultores até encontrarem na dita esquerda quem acolha as mesmas ideias. O anti-semitismo mais virulento encontra-se hoje em dia na extrema-esquerda. O que mostra mais uma vez que as destrinças entre esquerda e direita são muito pobres para explicar o que seja de profundo em política.
Mais importante neste momento é perceber qual é o pano de fundo deste dito realismo fantástico na literatura. O ponto de partida mais ou menos não assumido é o de que a única forma legítima de literatura é o realismo. Primeira limitação. Mas eis que nos aparece uma segunda. O realismo tem base social. E eis que aparece uma terceira. O ponto de vista social legítimo é o das classes baixas. O problema é que o realismo tradicional tinha mostrado a sua secura. Permitiu o desenvolvimento de obras-primas, mas mais uma vez mostra que fruiu de um fonte mais que a criou. No que tem de arte não foi ao realismo que a foi buscar. O realismo tornou-se mais um motivo e um quadro que uma fonte de criação.
Por isso a parte do fantástico torna-se uma tábua de salvação. Era preciso dar cor, dar espaço à imaginação. Mostrar que a imaginação tinha um espaço irredutível às teorias realistas. Ultrapassaram-se assim alguns dos cânones do realismo. Sem dúvida. Mas não se ultrapassou o seu pano de fundo nem as suas limitações. Foi apenas mais um fôlego dado a um asmático.
Comecemos pelo realismo fantástico. A expressão aparece nos anos 50, se bem me lembro, em pensadores da extrema-direita francesa ou tendo nela a sua origem, como Jacques Bergier e Louis Pawels. E eis que passa para a qualificação de alguma literatura latino-americana para de novo retornar à Europa. Que muitos bem pensantes ditos de esquerda vão beber à extrema-direita não é novidade. A ecologia, o feminismo, o culto homossexual têm na extrema-direita muitos dos seus primeiros cultores até encontrarem na dita esquerda quem acolha as mesmas ideias. O anti-semitismo mais virulento encontra-se hoje em dia na extrema-esquerda. O que mostra mais uma vez que as destrinças entre esquerda e direita são muito pobres para explicar o que seja de profundo em política.
Mais importante neste momento é perceber qual é o pano de fundo deste dito realismo fantástico na literatura. O ponto de partida mais ou menos não assumido é o de que a única forma legítima de literatura é o realismo. Primeira limitação. Mas eis que nos aparece uma segunda. O realismo tem base social. E eis que aparece uma terceira. O ponto de vista social legítimo é o das classes baixas. O problema é que o realismo tradicional tinha mostrado a sua secura. Permitiu o desenvolvimento de obras-primas, mas mais uma vez mostra que fruiu de um fonte mais que a criou. No que tem de arte não foi ao realismo que a foi buscar. O realismo tornou-se mais um motivo e um quadro que uma fonte de criação.
Por isso a parte do fantástico torna-se uma tábua de salvação. Era preciso dar cor, dar espaço à imaginação. Mostrar que a imaginação tinha um espaço irredutível às teorias realistas. Ultrapassaram-se assim alguns dos cânones do realismo. Sem dúvida. Mas não se ultrapassou o seu pano de fundo nem as suas limitações. Foi apenas mais um fôlego dado a um asmático.
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