sexta-feira, 5 de março de 2010

O Terreiro socialista


Tem sido confrangedor assistir ao sectarismo jacobino do actual Executivo da Câmara Municipal de Lisboa sobre a visita do Papa Bento XVI no próximo mês de Maio. O governo da cidade que mais cristãos deu ao Mundo e que, também por isso, é (com Veneza) sede de um dois únicos Patriarcados da Igreja Ocidental, não faz o mínimo esforço por receber com dignidade o Chefe da Igreja Católica.
Do ponto de vista puramente secular, esta é uma oportunidade de ouro para projectar Lisboa internacionalmente dada a cobertura que as visitas pontifícias sempre despertam em todo o Mundo. Sendo a missa de Lisboa no Terreiro do Paço, não deveria a Câmara empenhar-se nesta projecção? O que não dariam os alcaides de Barcelona, Valência ou Sevilha por uma oportunidade destas? (para não falar de Madrid).
António Costa, e a sua equipe, ao nada contribuírem para o palco, os écrans, o som e o embelezamento do Terreiro do Paço estão a limitar, de forma escandalosa, o direito dos Lisboetas e de Portugal receberem dignamente o seu líder espiritual. Recorde-se que, pelo censo, 94% dos portugueses se declaram católicos.
Diz o autarca que ninguém lhe pediu nada. (Será que alguém lhe pediu para gastar milhões na comemoração da República?) Nuno Abecasis, em 1982, no Parque Eduardo VII, e Jorge Sampaio, em 1991, no Estádio do Restelo, apoiaram generosamente as visitas de João Paulo II. Tiveram alcance: do lugar da cidade no mundo e do lugar da religião no seu povo. António Costa ainda pode inflectir o radicalismo em que se acantonou. Mas dificilmente os Lisboetas esquecerão a resistência que pôs nesta colaboração.

14 comentários:

joaõ wemans disse...

Muito bem!
Aqui fica um eco silencioso e amigo...
JW

Anónimo disse...

Em cada vez melhor forma!
Voltou ao activo. Muito bem.
Faz falta no jornalismo de hoje.

Antonio Pinheiro Torres disse...

Muito bem! No meu Blog http://porcausadele.blogspot.com/ também coloquei uma referência à corajosa e oportuna intervenção do Antonio Carlos Monteiro (Vereador do CDS-PP) na última reunião da Câmara de Lisboa.
Um abraço
Antonio Pinheiro Torres

Ricardo Alves Gomes disse...

Não percebi. A CML está a levantar entraves à utilização do Terreiro do Paço ou declina comparticipar financeiramente? Se for este o caso, será difícil exigir outra coisa da Edilidade que não seja equidade na contenção orçamental e atribuição de subsídios para aqui e para ali.
Agora, obrigar o mealheiro Municipal com base no argumento, "para estes deram X e para aqueles deram Y", parece-me não ser o melhor critério. Caso contrário, cada lóbi fazia a sua pressão e mais nada.
Sou cada vez mais contra subsídios, seja lá para o que fôr.
O Estado (poder autárquico, no caso) deve apoiar aquilo que for de reconhecido interesse ou significado para a Cidade, mas não tem que o fazer através de cheques.
Além disso, Inez, li em qualquer lado que o Altar custa 200.000 euros. Nada contra. Façam-no! Mas não venham pedir ao Estado para subsidiar! Há muito negócio à volta da visita Papal. Querem caro, os católicos e o Patriarcado que paguem. Não sou favorável a fazer do Terreio do Paço uma «Praça do Comércio», nem que seja o Papa!
Disse.

J. Sepúlveda disse...

Excelente post! O sectarismo jacobino é indisfarçável, recusa de colaborar com a visita do Papa enquanto a Câmara veicula a propaganda da ILGA, com mensagens sectárias na pretensa defesa de direitos de minorias.

Ricardo Alves Gomes disse...

Não é por dar (mal) à ILGA, ou à Helga, ou à "comissão dos gambozinos do Cais das Colunas" que fica obrigado a dar, em conformidade, ao Patriarcado.
Não! Esse não deve ser o critério.
Quem protesta devia era pugnar para que houvesse critério, que não há!

1º A Câmara não tem dinheiro.
Logo, "dar", em princípio, não deve "dar" a ninguém!

2º A Câmara considera que a iniciativa A, B, ou C é de "interesse estratégico" para a Cidade. Muito bem, então, a CML deve fazer aquilo que estiver ao seu alcance para que o "evento" se realize com o "máximo de qualidade". (Ainda não estamos a falar de dinheiro);

3º Então, no caso da visita Papal, a Câmara vai fazer tudo para aprontar as obras do Terreiro do Paço (que diponibiliza desde a primeira hora), vai lavar as fachadas da Baixa, regular o trânsito, etc. Vai pôr tudo um "mimo", para que Lisboa receba Sua Santidade como asseio, brio e a dignidade que o Chefe da Igreja Católica merece;

4º Significa isto que a Câmara tem que montar altares e bancadas, pôr écrans gigantes, etc.? Não! Isso é com o Patriarcado;

5º Se fosse eu a mandar, era assim;

6º Mais. O Terreiro do Paço, é claro que seria cedido para a missa Papal ou noutras ocasiões altas para Lisboa. De resto, não havia autorização para montar lá as barracas que vemos a propósito disto e daquilo;

7º Esta era a posição que devia ser defendida junto da CML, e que não devia permitir sequer discussões pouco edificantes entre "Católicos" e "Jacobinos", que só por ser suscitada enlameia tanto uns como outros;

8º Para isso, gostava que certos Católicos, da minha Igreja, em vez de andarem de mão anelada, mas tristemente estendida à espera das migalhas do orçamento público, fossem à raíz do problema no que aqui toca os assuntos da Cidade, para não perderem a razão, podendo, então, falar com a autoridade de quem é exemplo cristão e cívico;

9º O Povo é católico? É. O Povo tem sentido de Justiça? Também. É por isso que o Povo de Lisboa não há-de achar graça nenhuma ver Lisboa a cair e a Câmara a "torrar" dinheiros com esta ou aquela associação. Tal como terá dificuldade em perceber que a Igreja tenha descaramento para ir apresentar a factura da Missa do Papa à Câmara Municipal.

MIGUEL VAZ SERRA....... disse...

Portugal NÃO é um País católico e assim o diz a Constituição!
Tem católicos como tem gente das variadíssimas religiões.
Não me parece bem, nada, que o Estado gaste um tostão com líderes religiosos. Atenção que eu por acaso, mas só, sou católico. É uma questão de sanidade mental.
Adoro ver a Dra. Inez de volta aqui. Tenho um desgosto imenso de que por razões que nunca foram devidamente "agradecidas", reconhecidas e valorizadas, tenha posto de parte a carreira de Jornalista. Mais num País em que o Jornalismo está comprado, vendido e violado por corruptos sem dó.
Dá gosto ver a forma e o conteúdo do que Inez escreve. Bem haja. Gosto de ler e aprender e Inez tem esse efeito na minha pessoa. Sempre teve. É um bálsamo para as nossas almas.
Obrigado!

Inez Dentinho disse...

Agradeço todos os comentários. Nem só de pão vive o homem, mesmo no Estado Laico que todos desejamos e construímos com uma espécie de Tordesilhas entre o que é de Deus e o que é de César.
Usei dois argumentos que foram entendidos por Nuno Abecasis (1982), por Jorge Sampaio (1991) e, agora, por Rui Rio, no Porto. Quem lidera uma capital tem de ter a noção da sua projecção no Mundo e a noção do papel da religião entre o seu povo.
Do ponto de vista promocional, a visita do Papa seria explorada, até à exaustão, por qualquer alcaide espanhol. O que é o desporto mais do que a religião ou a visita de um Papa? Veja o que se faz nas olimpíadas ou num mundial de futebol. É investimento com retorno garantido. Compensa 10 campanhas do Turismo de Lisboa ou das associações empresariais.
Mas, do ponto de vista religioso, é importante que os poderes interajam com as confissões religiosas, factor de integração social e de coesão social para os mais desfavorecidos. Neste campo, as Câmaras e o Governo têm uma dívida (muito superior à conta de um palco)com a Igreja Católica. Experimentem tirar a assistência aos pobres, aos velhos, às prostitutas, aos deficientes, aos toxicodependentes, aos doentes, às crianças, aos imigrantes, etc e queria ver os problemas sociais e financeiros da CML a suirem. O gesto de Costa para receber o líder deste exército que faz todo o trabalho que a sua vereação da Acção Social não faz, nem pode fazer, seria mínimo e elementar.

Ricardo Alves Gomes disse...

..."Do ponto de vista promocional, a visita do Papa seria explorada, até à exaustão, por qualquer alcaide espanhol. O que é o desporto mais do que a religião ou a visita de um Papa? Veja o que se faz nas olimpíadas ou num mundial de futebol. É investimento com retorno garantido. Compensa 10 campanhas do Turismo de Lisboa ou das associações empresariais"...

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«Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do Templo, com as ovelhas e os bois. Deitou por terra os trocos dos banqueiros e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam as pombas: "Tirai isto daqui; não façais da casa de Meu Pai, uma casa de comércio." Os discípulos recordaram-se de que estava escrito: ‘O zelo pela Tua casa devorar-Me-á.’»

Inez Dentinho disse...

Ao lado, Dr Ricardo, ao lado.

Táxi Pluvioso disse...

Será o Papa que nos salvará, depois dele nada será igual, estarei na primeira fila com uma t-shirt do Santo Homem.

João Firmino disse...

Transcrição de um manifesto enviado aos senhores deputados, retirado do blogue Enguias frescas:

terça-feira, 16 de Março de 2010

Incoerência e discriminação

Publico aqui hoje um e-mail que acabou de me chegar. Por ser uma justa descrição da incoerência e comportamento discriminatório do Primeiro-Ministro, subscrevo na íntegra este manifesto.

Exmos. Senhores Deputados

Assistimos ontém à presença do Senhor Primeiro Ministro na Cerimónia que assinalou o 25º Aniversário da Mesquita de Lisboa.
Interpelado pelos jornalistas pelo facto de estar nesta cerimónia já que o estado português é laico. José Sócrates respondeu e muito bem, que o estado é laico mas a sociedade não o é.
Ora esta resposta vem de alguém, que sendo nosso primeiro ministro se recusou a participar na cerimónia do funeral de Sua Santidade João Paulo II, na cerimónia de canonização de D. Nuno Álvares Pereira e vem da mesma pessoa que nem sequer esteve presente na cerimónia que assinalou os 50 anos do Cristo Rei. E com que argumento? O de que "o estado é laico."
Mais relembro, que António Costa recusou-se há bem pouco tempo a apoiar a construção do altar que acolherá a missa em Lisboa presidida por Sua Santidade o Papa Bento XVI, dando como desculpa o mesmo argumento a de que "o estado é laico".
Ora o que nos parece, a todos nós que nos juntámos para escrever aos Snrs. deputados demonstrando a nossa indignação, é que José Sócrates ao tomar as atitudes que tomou há bem pouco tempo não participando nas cerimónias da Igreja Católica e ao participar nesta cerimónia de ontém, está a desrespeitar totalmente o povo português que é maioritariamente católico e cristão. Afinal Snr. Primeiro Ministro e Snr. Deputados a sociedade não é laica!
Isto não passa de uma afronta principalmente quando o Senhor Primeiro Ministro afirma que há uma grande comunidade muçulmana em Portugal que devemos respeitar. Não dizemos o contrário. E a maioria do povo Snr.
Primeiro Ministro e Snr. deputados? Não devemos o mesmo respeito por parte do estado que se diz isento?
Tivesse o Senhor Primeiro Ministro participado numa qualquer cerimónia que atrás referimos e logo muitos se vinham insurgir (não esqueçamos do que foi dito quando o Sr. Presidente Cavaco Silva pôs a hipótese de ir à cerimónia de Canonização de D. Nuno Alvares Pereira)
É por estas situações e por outras muito graves que se estão a passar em Portugal que os portugueses começam agora a indignar-se. Felizmente os portugueses já não estão só a indignar-se porque lhe aumentam os impostos, os portugueses estão a começar a indignar-se com o ataque cada vez mais feroz que alguns grupos estão a fazer aos mais profundos sentimentos do povo português.
Deixamos este alerta aos Srs. Deputados por considerarmos lamentável a atitude do Snr. Primeiro Ministro. Não porque ele não possa participar nesta cerimónia ou na cerimónia de outra qualquer confissão religiosa, mas porque o mesmo Primeiro Ministro não tem a mesma atitude quando se trata de uma cerimónia ligada à Igreja Católica. Isso não é igualdade para todos- A isso sim chama-se descriminação e pior descriminação da maioria do povo português.

Os nossos cumprimentos

Inez Dentinho disse...

Caro João Firmino
A Igreja digeriu melhor a fundação do Estado laical do que o próprio Estado, depois da Lei da Separação de 1911.
A ignorância e os complexos de alguns políticos prejudicam a construção da distinção saudável entre o que é de Deus e de César. Na canonização, o PM fez-se representar pelo MNE e o PR não esteve presente. Secundarizaram assim a história e o sentimento religioso do seu Povo. Mas o pior é assistir à passividade com que vamos engolindo tudo isto, salvo raras excepções como a sua.

joão wemans disse...

É isso: a Igreja digeriu melhor a fundação do Estado laical do que o próprio Estado...
Ao ignorarem o sentimento histórico e religioso do Povo, os nossos governantes vão dando razão ao P. João Seabra a quem uma vez ouvi dizer que não tinha dúvidas quanto à perenidade da Igreja; já quanto à subsistência do Estado português não estava tão seguro.