terça-feira, 19 de maio de 2009

II. Riscos do Vaticano II

Mas o segundo vício que foi potenciado com o Vaticano II é o da submissão ao século. E este vem dos não católicos. Como a Igreja vem ter com eles, acham que vem prestar vassalagem. Simpatizam com ela vagamente quando faz o que a modernidade quer. Aceitam as suas desculpas tanto quanto as exigem quando se trata de Galileu ou da colonização, acham-na simpática quando tem actividade humanitária, querem-na julgar apenas pelas suas categorias de modernidade. Mas não admitem que seja uma religião. E que tenha doutrina própria.

Quando a Igreja vê os seus missionários morrer em África ou na América Latina ou na Ásia, vítimas de perseguições e de uma presença de humanidade no terreno, acham que mais não faz que o seu dever, e deixam quando muito saltar uns condescendentes elogios de passagem. Mas sempre que se afasta da modernidade, sempre que lembra que não é feita para a modernidade porque a ultrapassa, surge logo o coro de protestos. Não se admite que a Igreja invoque a eternidade, porque isso é obsceno para a modernidade. Que seja simpática, agradece-se. Que seja uma religião, parece retrógrado.

Este fenómeno diz muito mais sobre a modernidade que sobre a Igreja. A modernidade está aberta ao diálogo, mas apenas nos seus termos. Não admite uma efectiva – logo, profunda – diferença, mas apenas a disparidade que ela mesma criou. A modernidade é um jardim à inglesa que sob a aparente liberdade obedece a regras bem estrictas que não se deixam enunciar à primeira vista.







Alexandre Brandão da Veiga

2 comentários:

joão wemans disse...

Obrigado por esta excelente análise!

João Pedro Neto disse...

Muito bom!