terça-feira, 19 de maio de 2009

O Estado do Estado, no Nicola



No café Nicola em Lisboa, teve lugar ontem um encontro do candidato Paulo Rangel com bloggers. O candidato,blogger actualmente em licença sabática,é autor do livro de ensaios "O estado do Estado".
Foram mais de duas horas de troca de ideias. Falou-se de fetichismo, exclusividade e hiperidentidade.

O ESTADO, que já não existe tal qual o pensámos.

Defende o candidato que "A evolução tecnológica e as possibilidades de mobilidade que lhe andam associadas alteraram radicalmente as condições de manifestação e de exercício do poder político e, designadamente, do poder político estadual. Desligaram-no definitivamente do comutador territorial: o espaço deixou de ser a base fundamental das relações políticas".

A esta mudança de natureza das relações de poder, Paulo Rangel chama a " medievalização do poder", no que quer significar " a enorme dispersão e multiplicidade dos centros de poder e a erosão do seu fundamento territorial".

O que vem a culminar na constatação de que "o modelo estatal, enquanto modelo único e homogéneo de organização de convivência política, exibe sinais de degenerescência e declínio."

Paulo Rangel defende ainda que se assiste " a um fortalecimento de um sem-número de poderes de facto (económicos, desportivos, religiosos, culturais), muitos deles com origens transversais, sem qualquer elemento de conexão ao tradicional poder dos Estados.


A EXCLUSIVIDADE, que já não existe.

A existência de centros autónomos de imputação de poder, significa também que esses nichos de poder criam laços de pertença com as pessoas que os integram "criando nexos de lealdade política que competem com o Estado. Laços que por não serem esclusivos são sobreponíveis ao vínculo estadual".

A EUROPA, a hiperidentidade portuguesa.

Paulo Rangel declarou-se não ser um fetichista do referendo (momento quente da noite) denunciando a estratégia antifederalista: "urdiram uma estratégia maquiavélica cujos contornos só agora se tornam claros. Primeiro tornaram "federalista" um insulto,depois adoptaram uma solução desigual e agora denunciam a desigualdade dessa solução!

Quanto à perda de identidade nacional, suscitada pela audiência, Paulo Rangel respondeu com o conceito de "hiperidentidade" de Eduardo Lourenço, um povo que diz tão mal de si próprio, tem de estar bem seguro da sua identidade.

A TURQUIA, A RÚSSIA.

As dificuldades da integração turca ( a ter em conta o deficit democrático e e o estatuto subalterno das mulheres turcas), e a necessidade de pensar em soluções progressivas para a integração. Registou-se alguma contestação na sala.
A defesa da ideia de uma Europa do Atlântico aos Urais. A constatação de que os Russos são europeus e que a cultura europeia não abdica dos contributos de Tolstoi, Dostoievski, Tchaikovsky ou Prokofiev. Por esta altura sentiu-se um friozinho siberiano na sala.

Noite quente no Nicola, um candidato com ideias firmes sobre o projecto europeu, o estado do Estado em pano de fundo.

Paulo Rangel, o candidato que é o estado da arte nas eleições europeias.

Todavia, fica-me uma pergunta. Não será justamente por causa de uma obra de arte de um russo que tantas vezes concebemos os russos como não europeus?
Será que de cada vez que pensamos na Rússia pensamos nesssa obra maior de Serguei Eisenstein "Ivan, o Terrível". Será que uma obra de arte tem tanto poder?

1 comentários:

Anónimo disse...

Devo dizer que com teses destas a minha esperança na minha geração ( a que pertence o Dr. Paulo Rangel) como geração capaz de fazer alguma coisa de jeito é cada vez menor...

NÃO ADMIRA,ASSIM, que a dívida externa do país seja enorme e que a bancarrota se aproxime cada vez mais...

Então a internet e a tecnologia agora é mais importante do que o espaço físico em termos de poder?


Então ilustre e genial Dr. Rangel, experimente-se cortar a àgua ou os abastecimentos a uma cidade e cortar o acesso à internet para ver qual deles tem mais poder, e qual deles tem maior poder decisório e manipulativo...

Faço daqui, como português, um apelo ao Dr. Alberto João Jardim ( se algum assessor da Madeira ler este Blog pode p. favor imprimir estas linhas e mostrá-las), Sr. Dr. apesar de o Senhor já ter alguma idade ainda tem saúde, energia e clarividência mais do que suficiente para resgatar o PSD da actual mediocridade em que jaz atolado e para permitir ao país uma verdadeira esperança numa alternativa REAL e não apenas cosmética e nominal.

Com os melhores cumprimentos,
Carlos C. Inez