A Origem do Mundo
Publicado ontem aqui.
Pode haver uma, mesmo dez imagens em cada rua. Não importa! A nudez feminina sempre nos provocará o mesmo soluço comovido e encantado. Digo isto num dia em que os jornais de todo o mundo esconderam a sua óbvia solidão noticiando mulheres nuas, a começar na foto benigna de Carla Bruni vendida por 58 mil euros.
a benigna Carla Bruni
Em Serradilla del Arroyo, mais perto da fronteira portuguesa do que da cidade de Salamanca, os jornais espanhóis descobriram, nuas e arruinadas, as mães desse pueblo que decidiram fazer-se fotografar para um calendário em poses de ininterrupta carnalidade. Queriam, com as vendas, pagar um centro de lazer para os seus filhos. A infrene e filantrópica exposição do ventre materno teve um fim cruel. Devem agora 9 mil euros às tipografias. Acabaram mais despidas e mais pobres.
Em Nova Iorque, os jornais proclamam a venda de um secretíssimo filme de 15 minutos em que Marylin, vestida, brinda um parceiro cuja cara nunca se vê com o que era suposto ser um humilde fellatio e a que película confere cruel perenidade. O filme sofreu anos de conspícua análise do FBI, quando J. Edgar Hoover pretendia provar que o homem sem rosto era John F. Kennedy. Lembro-me, sempre me lembrarei, da fotografia de Marylin nua, a pele escandalosamente branca, contra um aveludado fundo vermelho.
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Big Sue, Lucien Freud
A origem do mundo, Courbet
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