Moisés ouvia vozes
Escrever crónicas hoje é fácil. Nem é preciso inspiração. Basta ler os jornais. Eis o que li: um investigador israelista afirmou que a revelação divina dos «Dez Mandamentos», no Monte Sinai, foi o insólito resultado de Moisés ter, na altura, consumido alucinogéneos. Deus não foi tido nem achado ou, para dizer as coisas de maneira que até a moça do telemóvel no mais famoso vídeo do mês passado entenda, Moisés estava com uma pedra de todo o tamanho. Não admira que ouvisse vozes, não admira que tivesse visões.
O «estudo» (que os rabis se apressaram a designar com nomes, passe a ironia, pouco católicos) publicou-se na revista «Time and Mind». O autor, Benny Shanon, recusa, liminar, ter-se tratado de um acontecimento cósmico e sobrenatural, sustentando que Moisés, assim como o povo eleito que o seguia, usava psicotrópicos com adicta regularidade.
Shanon, que asseguro com total confiança não ter a mínima ligação ao Hamas (nem parentesco com Bin Laden), investigou, declarando que o povo errante de Israel estava sob o efeito de estupefacientes. E foi nesse lindo estado que Moisés subiu aos picos do Monte Sinai.
Perguntam-me: então, a voz que ribombava como um trovão, a sarça ardente, a montanha fumegante? A resposta é simples: a culpa é da «peganum harmala», essa flor branca de cinco pétalas pontiagudas, cujas sementes Moisés deve ter mascado (?) antes de rebentar em soluços e visões. (Não se masca, bebe-se como um chá, mas já lá vamos).
A teoria de Shanon, especialista de psicologia cognitiva, é tudo menos inócua. Não parece ilícito concluirmos que a ética da civilização em que bebemos o leite materno – do «não matarás» ao «não furtarás», do «honrarás pai e mãe» ao «não desejarás a mulher do próximo» – se funda em Dez Mandamentos que mais não são, afinal, do que versículos de um profeta que estava, ao redigi-los, no mesmíssimo estupor de Allen Ginsberg quando desembestou a escrever o interminável «Uivo». Com a ressalva, valha-nos Deus, de que Moisés escrevia bem melhor.
Seja como for, vamos admitir (nem que seja por guloso exercício intelectual) que Moisés tivesse tomado ainda mais uma chávena (a forma canónica de consumo) da «peganum harmala». Mais uma chávena e, se calhar, avaliaríamos o mundo com a moral de um Jack, o Estripador. Mais uma chávena e hoje veríamos com outros olhos as «off-shores», o «Apito Dourado» e, em particular, a reluzente mulher do próximo.
Ah, já vemos? Pois sim, mas escusávamos de ter a carrada de complexos de culpa que nos aflige ou de suportar os tormentosos custos de tanta pensão de alimentos.
Em despudorada fase de divulgação do PnetHomem - um portal de homens que todas as mulheres deveriam ler - aqui fica (pedindo desculpa à "gerência" da Geração e prometendo que é a última vez) a ´minha crónica das terças.
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