Faço notar que desta criança depende o (des)conforto da nossa reforma, pelo que é bom que nos leia e, sobretudo, ... que goste! Quanto aos momentos de leitura atenta aqui deixados à posteridade, parece-me óbvio que: o primeiro se deve a um texto provocatório do Manel, devidamente ilustrado pela fotografia de uma jovem e radiante loura; o segundo revela a tentativa impossível de mergulhar na densidade analítica do Alexandre (não se percebe bem a página, mas apostaria em qualquer coisa sobre Hesíodo...).
"O prazer da leitura", leva-me de imediato à minha infância. Cresci numa aldeia com menos de mil habitantes, a 90 km a norte de Lisboa. Escusado será dizer que não havia bibliotecas, nem cinema, nem coisa nenhuma para ser rigorosa. Havia uma escolinha primária pequenina onde se misturavam classes: primeira, segunda, terceira, quarta, miséria maior, miséria menor, mais piolho, menos lêndea. Em minha casa não existia livro algum que me lembre. Nem a Bíblia, já que a única religião consentida era o trabalho. Fui salva por uma carripana, que ía à aldeia, desengonçada. Entrava eu lá dentro, amarela, franzina, feia de cabelo escuro crespo e óculos. Lá dentro livros, muitos livros, gastos alguns deles. Biblioteca itinerante da Gulbenkian, chamava-se assim. Li tudo o que durante esses quatro anos lá levaram. Hoje sinto o dever de lhes agradecer. Disse fui salva,era o que diria se fosse de esquerda. Rigorosamente, porque sou de direita, digo, salvei-me. A carrinha foi lá, o que é de esquerda, eu entrei, o que é de direita. Serve o presente, como modesto apontamento, aos textos sobre direita e esquerda, hoje em discussão.
Estou de acordo com o Pedro Lains: a frase da Sofia Rocha, nossa "desconhecida, mas já lendária comentadora oficial" (que deveria passar a blogger, sugiro eu à Sofia Galvão), é um aforismo memorável e responde também ao post dele sobre Portugal, um país às esquerdas, que está lá mais acima.
6 comentários:
Pudera, foi logo parar aos escritos do M S Fonseca!
Parabéns, puto, olha aí por elas. Um esmaga concorrentes.
Faço notar que desta criança depende o (des)conforto da nossa reforma, pelo que é bom que nos leia e, sobretudo, ... que goste!
Quanto aos momentos de leitura atenta aqui deixados à posteridade, parece-me óbvio que: o primeiro se deve a um texto provocatório do Manel, devidamente ilustrado pela fotografia de uma jovem e radiante loura; o segundo revela a tentativa impossível de mergulhar na densidade analítica do Alexandre (não se percebe bem a página, mas apostaria em qualquer coisa sobre Hesíodo...).
"O prazer da leitura", leva-me de imediato à minha infância. Cresci numa aldeia com menos de mil habitantes, a 90 km a norte de Lisboa. Escusado será dizer que não havia bibliotecas, nem cinema, nem coisa nenhuma para ser rigorosa. Havia uma escolinha primária pequenina onde se misturavam classes: primeira, segunda, terceira, quarta, miséria maior, miséria menor, mais piolho, menos lêndea. Em minha casa não existia livro algum que me lembre. Nem a Bíblia, já que a única religião consentida era o trabalho. Fui salva por uma carripana, que ía à aldeia, desengonçada. Entrava eu lá dentro, amarela, franzina, feia de cabelo escuro crespo e óculos. Lá dentro livros, muitos livros, gastos alguns deles. Biblioteca itinerante da Gulbenkian, chamava-se assim. Li tudo o que durante esses quatro anos lá levaram. Hoje sinto o dever de lhes agradecer. Disse fui salva,era o que diria se fosse de esquerda. Rigorosamente, porque sou de direita, digo, salvei-me. A carrinha foi lá, o que é de esquerda, eu entrei, o que é de direita. Serve o presente, como modesto apontamento, aos textos sobre direita e esquerda, hoje em discussão.
"A carrinha foi lá, o que é de esquerda, eu entrei, o que é de direita." Ora aqui está um belo resumo de como o mundo avança.
Estou de acordo com o Pedro Lains: a frase da Sofia Rocha, nossa "desconhecida, mas já lendária comentadora oficial" (que deveria passar a blogger, sugiro eu à Sofia Galvão), é um aforismo memorável e responde também ao post dele sobre Portugal, um país às esquerdas, que está lá mais acima.
Enviar um comentário