Fim de tarde em Camogli
Gosto mesmo, mesmo é:
- dos fins de tarde em Camogli, uma aldeiazinha piscatória a sul de Génova
- da barriga das pernas e do umbigo da Alexandra
- de rebuçados ácidos Heller
- de ver o C. Ronaldo a levitar a perna esquerda duas vezes por cima da bola antes de enterrar o ego de alguém com a perna direita
- da maneira como o Truffaut punha o cinema antes da vida
- dos fins de tarde em Camogli, uma aldeiazinha piscatória a sul de Génova
- da barriga das pernas e do umbigo da Alexandra
- de rebuçados ácidos Heller
- de ver o C. Ronaldo a levitar a perna esquerda duas vezes por cima da bola antes de enterrar o ego de alguém com a perna direita
- da maneira como o Truffaut punha o cinema antes da vida
- da maneira como o John Boorman põe a vida (e a música invisível da vida) antes do cinema
- das bolachas de areia da Cunha (circa 1980)
- dos domingos no carro a debitar idiotices com o Zé e o Paulo
- das tardes na praia do Barril onde a coisa mais importante do mundo era não fazer nada
- do "Laughter & Forgetting" do David Sylvian
- de dançar Heroes del Silencio às 5 da manhã quando as imperiais me impedem de ver se quem tenho à frente é uma bailarina nórdica ou o vocalista dos Mettalica
- do "Blade Runner" com três gotas de Johnnie Walker Blue Label a mais: "I' ve seen things you people wouldn't believe..."
- de gelado de menta com chocolate e chantilly caseiro
- do meu roupão, que qualquer empregada sensata já teria deitado fora (não é o caso da minha)
- de um cigarro (um só) ao ar livre nas noites de Verão que nunca acabam
- de tomar banho nu no mar, à noite (só para tarados que gostavam de ser o Michael Phelps quando forem grandes)
- da sensação, absolutamente intraduzível, de marcar um golo de calcanhar (é um bocadinho como se nos crescesse um "S" gigante no peito e uma capa vermelha nas costas)
- de escrever guiões para cinema - é como ser Deus com um metacarpo desenvolvido e um aguçado sentido sadomasoquista por não haver dinheiro para aquele épico de sete horas e um quarto sobre uma nova raça de insectos humanos que está guardado na gaveta das meias desde os quinze anos
- de viver. Há melhor surto de adrenalina?
3 comentários:
E porque é que as empregadas reservam a sua fidelidade e amor incondicional aos homens da casa, quando somos nós que lhe ouvimos as queixas sobre os bicos de papagaio e as cruzes, mais o marido desempregado, e o filho que falta à escola?
E porque é que as confeitarias do Porto são o único lugar do mundo onde se vende pastelaria fina e frangos assados e os empregados nos tratam por menina, quando já são os únicos que nos tratam por menina?
Só li até meio. Ali por volta do roupão, comecei a temer que poderia ficar a saber de mais e não resistir a contar em caso de tortura. Mas confirmei que os argumentistas são uns tipos ungidos por uma certa beleza lunar. E que marcam golos de calcanhar.
Camogli devia estar aqui ao virar da esquina.
Mas sonho, sonho, era poder caminhar entre as Cinque Terre (Monterosso, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore) todos os dias
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