sexta-feira, 14 de março de 2008

Fim de tarde em Camogli

Gosto mesmo, mesmo é:

- dos fins de tarde em Camogli, uma aldeiazinha piscatória a sul de Génova

- da barriga das pernas e do umbigo da Alexandra

- de rebuçados ácidos Heller

- de ver o C. Ronaldo a levitar a perna esquerda duas vezes por cima da bola antes de enterrar o ego de alguém com a perna direita

- da maneira como o Truffaut punha o cinema antes da vida

- da maneira como o John Boorman põe a vida (e a música invisível da vida) antes do cinema

- das bolachas de areia da Cunha (circa 1980)

- dos domingos no carro a debitar idiotices com o Zé e o Paulo

- das tardes na praia do Barril onde a coisa mais importante do mundo era não fazer nada

- do "Laughter & Forgetting" do David Sylvian

- de dançar Heroes del Silencio às 5 da manhã quando as imperiais me impedem de ver se quem tenho à frente é uma bailarina nórdica ou o vocalista dos Mettalica

- do "Blade Runner" com três gotas de Johnnie Walker Blue Label a mais: "I' ve seen things you people wouldn't believe..."

- de gelado de menta com chocolate e chantilly caseiro

- do meu roupão, que qualquer empregada sensata já teria deitado fora (não é o caso da minha)

- de um cigarro (um só) ao ar livre nas noites de Verão que nunca acabam

- de tomar banho nu no mar, à noite (só para tarados que gostavam de ser o Michael Phelps quando forem grandes)

- da sensação, absolutamente intraduzível, de marcar um golo de calcanhar (é um bocadinho como se nos crescesse um "S" gigante no peito e uma capa vermelha nas costas)

- de escrever guiões para cinema - é como ser Deus com um metacarpo desenvolvido e um aguçado sentido sadomasoquista por não haver dinheiro para aquele épico de sete horas e um quarto sobre uma nova raça de insectos humanos que está guardado na gaveta das meias desde os quinze anos

- de viver. Há melhor surto de adrenalina?




3 comentários:

Anónimo disse...

E porque é que as empregadas reservam a sua fidelidade e amor incondicional aos homens da casa, quando somos nós que lhe ouvimos as queixas sobre os bicos de papagaio e as cruzes, mais o marido desempregado, e o filho que falta à escola?
E porque é que as confeitarias do Porto são o único lugar do mundo onde se vende pastelaria fina e frangos assados e os empregados nos tratam por menina, quando já são os únicos que nos tratam por menina?

Manuel S. Fonseca disse...

Só li até meio. Ali por volta do roupão, comecei a temer que poderia ficar a saber de mais e não resistir a contar em caso de tortura. Mas confirmei que os argumentistas são uns tipos ungidos por uma certa beleza lunar. E que marcam golos de calcanhar.

João Vieira Pereira disse...

Camogli devia estar aqui ao virar da esquina.

Mas sonho, sonho, era poder caminhar entre as Cinque Terre (Monterosso, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore) todos os dias