Moçambique na rota de um eléctrico chamado desejo
Moçambique, 27 de Fevereiro
Foi no Maputo, há uns dias atrás que curiosamente assisti à peça de Tennessee Williams, " A streetcar named desire". Encenada e produzida por uma companhia nacional que tem resistido ao deserto cultural, social e económico desta capital nos últimos 20 anos.
Em 1996 quando por aqui passei, encontrei um país com uma perspectiva. Hoje, encontro um "sítio" quase em "estado de sítio" onde tudo é um imenso buraco. Dos serviços básicos de saneamento à distribuição do correio, a única coisa que funciona é mesmo a incompetência.
Universidades em todos os distritos mas sem professores, internet instalada em todo o lado mas sem utilizadores, são apenas dois factos de uma infindável lista de aberrações que poderia fazer.
Franceses, Belgas ou Ingleses, vieram mas foram embora. Acabaram por dedistir.
Moçambique vive apenas do romantismo e do sonho dos seus artistas. Vive de um Malangatana, com quem tive oportunidade de estar num jantar a quatro e que, de "olhos bem fechados" declamou os seus pomemas eróticos e cantou as suas músicas do passado, enquanto as lágrimas lhe corriam pelo rosto como dois rios que desaguam num imenso mar salgado, de onde esta terra nasceu.
Aqui aonde a vida nasceu e se propagou sobre a terra como uma pulsação solitária, parece não haver espaço para mais nada além do sonho.
É pena que Portugal não tenha tempo para sonhar e deitar mão a um país de gente entregue a tão pouca sorte. Assim deixará que Moçambique apenas percorra a rota de o "Eléctrico chamado desejo", acabando como Blanche por, desejando a vida, encontrar a morte, envenenado por seus sonhos e seus desejos.
2 comentários:
No comments Helena. Ia para dizer onde é que tinha visto o "Streetcar", mas há alturas em que o melhor é ficar calado.
Obrigada manel por perceber o que vou tentando sentir... é duro ver assim uma terra que deveria estar a prosperar...pode ser que um dia ainda vá a tempo de outro eléctrico que não apenas o do desejo. A ver vamos
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