domingo, 20 de janeiro de 2008

Um mundo muito perigoso


Os primeiros dias de 2008 foram marcados por uma iniciativa invulgar. George Shultz, William Perry, Henry Kissinger e Sam Nunn subscreveram um artigo publicado no Wall Street Journal (ver aqui), apelando à construção de um Mundo sem armas nucleares.
Para eles, a actual situação encerra ‘perigos tremendos’. Os recentes testes promovidos pela Coreia do Norte, a obstinada recusa do Irão quanto ao abandono do programa do urânio enriquecido e a crescente probabilidade de grupos terroristas virem a dispor de armas nucleares fazem do nosso mundo um lugar arriscado para viver. Mais grave ainda, se nada for feito, os Estados Unidos serão arrastados para a inevitabilidade de novos investimentos e a escalada nuclear agravar-se-á. Agora, tendo como pano-de-fundo uma situação muito mais incontrolável – e, portanto, muito mais explosiva – do que a dos anos da Guerra Fria. Porque, como é bom de ver, o crescimento exponencial do número de inimigos nucleares, espalhados pelos vários continentes, aumenta dramaticamente o risco de efectiva utilização das armas malditas…
É claro que, também nos lembram, a inequívoca gravidade do actual perigo nuclear encerra uma importante oportunidade histórica. Perante a impossibilidade de viver sob a presente ameaça, os países terão de encontrar soluções. E, para Schultz, Perry, Kissinger e Nunn, não há alternativa à total erradicação das armas nucleares.
Para que o mundo possa descansar, propõem um consenso entre os líderes dos países nucleares e um programa muito pragmático a concretizar no curto prazo. Aos Estados Unidos, caberá a responsabilidade histórica de liderar o processo e de imprimir a dinâmica e a consequência que as circunstâncias impõem. O fracasso de Reagan e Gorbachev, há vinte anos, em Reykjavic, tem de ser vingado – antes que seja tarde demais.
Mas, até lá, tudo pode acontecer. O mundo está mesmo muito perigoso. Como Schultz, Perry, Kissinger e Nunn fizeram questão de evidenciar, apenas a um curto passo do abismo.
Para nós, impotentes espectadores à beira-mar, só nos resta uma pequena satisfação: disto, o Primeiro-Ministro não tem culpa nenhuma. Temos medo, mas não é de Sócrates. Valha-nos essa certeza!

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