Traduzo para os não iniciados: «registo abrupto», em sofiês, é insulto e dos grandes. Logo agora que eu ia «postar» as fotos da familia com os macacos...
Tive uma experiência luso-cristã única em Gôa. Domingo de Páscoa, com a família aprumada, procurei uma Missa rezada em Português. Na Sé da Capital - com cal alentejana e escadaria minhota - esperava-me a celebração da Ressurreição com a íntimidade que a língua favorece. Era tudo igual a uma qualquer igreja de Castelo Branco, Borba ou Alenquer. À nossa frente, um grupo de senhoras bem vestido ultimava os preparativos da liturgia. Com naturalidade, uma delas veio ter comigo e, em português perfeito pediu-me para fazer uma das Leituras. Nada tinha dito e, no entanto, tudo fazia adivinhar que eu era portuguesa, longe de casa, com vontade de celebrar a mesma realidade. É difícil descrever o que se sente. Tinha percorrido, durante semanas, o continente indiano com ritos hindus, muçulmanos ou desconhecidos. Cheiros, rodas, fumos e horas fixas - um mundo estrangeiro colado com o calor, o pó das estradas e a imagem de uma miséria igualmente entranhada. Ali estava uma senhora, com ar aristocrata e simples, e os olhos de quem nos convida para nos sentarmos à sua mesa, e comermos e bebermos, porque somos da casa. Aceitei. A senhora ainda passou a mão pelo queixo de uma das minhas filhas e disse: «que amorosa». Querem melhor?
Insulto?! Veja lá os inimigos que me arranja... Longe disso, eu elogiava. Esmagada. Rendida. Mas a nossa Inez prestou-lhe homenagem maior! Passou do registo à substância, tropismo que faz toda a diferença.
4 comentários:
Pedro Norton, em registo abrupto... Mas melhor fotógrafo. Ou não? De Jaipur a Goa, digam lá...
Traduzo para os não iniciados: «registo abrupto», em sofiês, é insulto e dos grandes. Logo agora que eu ia «postar» as fotos da familia com os macacos...
Tive uma experiência luso-cristã única em Gôa.
Domingo de Páscoa, com a família aprumada, procurei uma Missa rezada em Português.
Na Sé da Capital - com cal alentejana e escadaria minhota - esperava-me a celebração da Ressurreição com a íntimidade que a língua favorece. Era tudo igual a uma qualquer igreja de Castelo Branco, Borba ou Alenquer. À nossa frente, um grupo de senhoras bem vestido ultimava os preparativos da liturgia. Com naturalidade, uma delas veio ter comigo e, em português perfeito pediu-me para fazer uma das Leituras. Nada tinha dito e, no entanto, tudo fazia adivinhar que eu era portuguesa, longe de casa, com vontade de celebrar a mesma realidade.
É difícil descrever o que se sente. Tinha percorrido, durante semanas, o continente indiano com ritos hindus, muçulmanos ou desconhecidos. Cheiros, rodas, fumos e horas fixas - um mundo estrangeiro colado com o calor, o pó das estradas e a imagem de uma miséria igualmente entranhada. Ali estava uma senhora, com ar aristocrata e simples, e os olhos de quem nos convida para nos sentarmos à sua mesa, e comermos e bebermos, porque somos da casa. Aceitei. A senhora ainda passou a mão pelo queixo de uma das minhas filhas e disse: «que amorosa». Querem melhor?
Insulto?! Veja lá os inimigos que me arranja... Longe disso, eu elogiava. Esmagada. Rendida.
Mas a nossa Inez prestou-lhe homenagem maior! Passou do registo à substância, tropismo que faz toda a diferença.
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