II. Newman, Apologia pro uita sua, Dover
Mas Newman está relativamente à parte neste cenário; é hoje em dia muito difícil perceber até que ponto esta conversão produziu escândalo e espanto não apenas em Inglaterra, mas em toda a Europa.
Newman é o represente arquetípico do que é o inglês. Gentleman, rico, oxoniano, teólogo, High Church, cultor do anglo-catolicismo. Pertence por isso à fina-flor, ao patamar máximo do que é ser inglês. Que um dos máximos símbolos dessa história de sucesso tenha saído do centro da mesma para se colocar no seu modelo oposto é algo que chocou a Europa inteira, para o bem e para o mal.
Mas ser inglês é igualmente isso. Ao contrário dos paradigmas de má imitação que o Thatcherismo nos deu, Newman não apenas não é imitação, mas constitui-se mesmo como epítome.
O seu estilo é simples e elegante, a sua expressão honesta e natural. Nunca deixou de ser inglês até à medula, ao ponto de reconhecer aceitar alguns dos símbolos católicos apenas porque são católicos, apesar de isso lhe ferir a sensibilidade britânica. Nunca conseguiu aderir ao espírito de sistema barroco que historicamente permeava o catolicismo da época e nunca teve medo de o dizer. É de certa forma um dos antecessores do ecumenismo pela sua investigação sobre a patrística, contemporâneo de estudos germânicos na matéria e antecipando obras como as de Lubac e Daniélou.
O exemplo de Newman pode parecer irrelevante ou “meramente” histórico. Desconheço o que seja “meramente” histórico. Mas para além de outros elementos que pudessem aqui ser relevantes um é para mim essencial. A imagem de Inglaterra que se tem formado nas últimas décadas é obra de uma low middle class que tentou imitar uma Inglaterra aristocrática que nunca conheceu senão de fora, como voyeur. O inglês é o liberal sob o ponto de vista económico, feito de rituais aprendidos de cor e sem alma, segundo dizem. Uma low middle class que é no fundo antimonárquica e anti-anglicana, mas que apoia formalmente estes símbolos porque é a única forma de se diferenciar.
Se houvera de haver um epítome do gentleman, do inglês por excelência seria Newman, não as suas más imitações serôdias. E este, como aliás muitos outros, Waugh, T. S. Eliot, Chesterton, bem sabia que a Inglaterra não se resumia a uma ideologia económica ou a rituais meramente exteriores. Há um fundo, uma alma, ingleses, cheios de grandeza, que têm vindo a ser esmagados exactamente pelos que hoje em dia a dizem melhor representar.
Alexandre Brandão da Veiga
http://www.newmanreader.org/works/apologia65/index.html
Newman é o represente arquetípico do que é o inglês. Gentleman, rico, oxoniano, teólogo, High Church, cultor do anglo-catolicismo. Pertence por isso à fina-flor, ao patamar máximo do que é ser inglês. Que um dos máximos símbolos dessa história de sucesso tenha saído do centro da mesma para se colocar no seu modelo oposto é algo que chocou a Europa inteira, para o bem e para o mal.
Mas ser inglês é igualmente isso. Ao contrário dos paradigmas de má imitação que o Thatcherismo nos deu, Newman não apenas não é imitação, mas constitui-se mesmo como epítome.
O seu estilo é simples e elegante, a sua expressão honesta e natural. Nunca deixou de ser inglês até à medula, ao ponto de reconhecer aceitar alguns dos símbolos católicos apenas porque são católicos, apesar de isso lhe ferir a sensibilidade britânica. Nunca conseguiu aderir ao espírito de sistema barroco que historicamente permeava o catolicismo da época e nunca teve medo de o dizer. É de certa forma um dos antecessores do ecumenismo pela sua investigação sobre a patrística, contemporâneo de estudos germânicos na matéria e antecipando obras como as de Lubac e Daniélou.
O exemplo de Newman pode parecer irrelevante ou “meramente” histórico. Desconheço o que seja “meramente” histórico. Mas para além de outros elementos que pudessem aqui ser relevantes um é para mim essencial. A imagem de Inglaterra que se tem formado nas últimas décadas é obra de uma low middle class que tentou imitar uma Inglaterra aristocrática que nunca conheceu senão de fora, como voyeur. O inglês é o liberal sob o ponto de vista económico, feito de rituais aprendidos de cor e sem alma, segundo dizem. Uma low middle class que é no fundo antimonárquica e anti-anglicana, mas que apoia formalmente estes símbolos porque é a única forma de se diferenciar.
Se houvera de haver um epítome do gentleman, do inglês por excelência seria Newman, não as suas más imitações serôdias. E este, como aliás muitos outros, Waugh, T. S. Eliot, Chesterton, bem sabia que a Inglaterra não se resumia a uma ideologia económica ou a rituais meramente exteriores. Há um fundo, uma alma, ingleses, cheios de grandeza, que têm vindo a ser esmagados exactamente pelos que hoje em dia a dizem melhor representar.
Alexandre Brandão da Veiga
http://www.newmanreader.org/works/apologia65/index.html
1 comentários:
Desde muito jovem aprecio este vulto da Igreja, Newman, pelo seu pensamento, pela sua coragem. Achei o artigo simplesmente formidável.
Abraço
PALAVROSSAVRVS REX
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