sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O destino trágico de Benazir Bhutto

Benazir Bhutto, a primeira mulher a chefiar o governo de um estado islâmico, foi assassinada por um terrorista. Um atentado suicida repugnante em que morreram 16 pessoas. Por mais que achemos o acto cobarde, nenhuma indignação lhes devolverá a vida. A democracia, se era já uma hipótese remota, ficou agora ainda mais longe do Paquistão.
O presidente Musharraff não escapa à suspeita, se não de envolvimento, pelo menos de negligência. Do mesmo modo, Musharraff não deixará de usar o argumento de que o atentado se deve aos extremistas islâmicos cuja repressão exige medidas excepcionais. A espiral de violência está em curso e o estado emergência não deve tardar. O Paquistão entra em alerta vermelho e o mundo em que vivemos fica ainda mais inquieto.
Num amargo paralelo com a história dos Kennedy, Bhutto cumpriu o que parece ser o destino trágico da família. O pai tinha sido assassinado pelo ditador Zia ul Haq e os seus dois irmãos foram também mortos em circunstâncias nunca esclarecidas. Um baleado em Karachi, o outro encontrado sem vida num hotel, em França. A História parece às vezes o lúgubre teatro de um inexorável dramaturgo.

1 comentários:

Sofia Galvão disse...

A raiva, a dor e o caos estão na rua. A incerteza é absoluta. A vulnerabilidade e o desamparo são óbvios.
Há um risco sério de fragmentação do país. Como há de talibanização. Ou de militarização. Com eleições a 8 de Janeiro ou sem elas, o rastilho não se apagará facilmente. Nem depressa.
O mundo fica a dever a Bush mais esta desastrada gestão da ameaça. Às portas do Afeganistão. Com a Al-Qaeda algures a monte. População, cidades e mercados em clima aberto de guerra civil. E a latência de um poder nuclear desgovernado.
Uma tragédia de fim duvidoso. Marcada por uma morte cobarde e terrível. Mais uma, na longa história do combate pela liberdade - tão violenta, tão dramática e tão injusta como todas as outras. Nessa extensíssima galeria de mártires públicos e anónimos que cresce em contínuo e que, só no Paquistão, depois da morte de Benazir Bhutto já acolheu mais algumas dezenas de nomes…

Porque, como diz o Manel, "o mundo em que vivemos fica ainda mais inquieto" (mas também porque qualquer ataque à liberdade, seja onde for, é sempre perto), vale a pena acompanhar, e designadamente ler os inúmeros testemunhos 'in loco', por exemplo em:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/in_depth/south_asia/2007/death_of_benazir_bhutto/default.stm

http://edition.cnn.com/2007/WORLD/asiapcf/12/28/pakistan.friday/index.html