quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Contra o totalitarismo


Para quem não leu, no domingo passado, a entrevista de D. Manuel Clemente, bispo do Porto, à revista Pública, proponho esta passagem:
A única maneira de reagir ao pensamento único, mesmo que não seja ostensivo mas insinuante e quase imperceptível, é não abdicar de ser pessoa como instância de consciência, reflexão e decisão. Isso hoje é muito difícil. Ter tempo, criarmos tempo, para meter a cabeça fora de água e fora da corrente, é muito difícil.
Quando tudo apela para a indiferença, o hedonismo, a futilidade e o imediatismo, é mesmo muito difícil. E, no entanto, não há porventura alternativa. Pelo menos para aqueles que não prescindam de ser livres e de, em liberdade, definir responsavelmente os seus caminhos - em nome de valores, de princípios e de causas, por um futuro ainda humano.
Aliás, para bem de todos. Ou seja, também da imensa maioria que já claudicou – incapaz de perceber como é subtil e dissimulada a moderna proposta totalitária…

2 comentários:

Gonçalo Magalhães Collaço disse...

Vivemos um momento de novo totalitarismo, mais subtil, dissimulado, subreptício? Sem a menor dúvida _ e é exactamente pelo «controlo» to tempo que a subjugação se inicia e verifica. Aliás, não por acaso, uma das primeiras preocupações dos novos «educadores» respeita à «ocupação dos tempos livres». Um perigo, um gravíssimo perigo, com toda a certeza.

Pensar, meditar, reflectir, exige, requer, tempo. Pensar, meditar, reflectir, é a condição necessária à evolução espiritual, à individuação. O que não convém, naturalmente. Preferível cultivar o relativismo, a mais completa indeterminação de modo a permitir que todos e cada um, confundidos numa mesma massa, se encontrem num estado de plena receptividade a toda a forma que se entenda conveniente imprimir a cada momento ao que moderna e pomposamente se designa agora por «sociedade».

Grave a situação? Sem dúvida, como grave, agora, a responsabilidade da Sofia Galvão desenvolver e melhor explicitar esses mesmos ínvios e subreptícios caminhos da «subtil e dissimulada moderna proposta totalitária».

Inez Dentinho disse...

O que nos estraga é o aconchego que gostamos de ter no chamado sentimento de pertença. Quem experimenta um exercício de vida sem o tempo contado de forma parecida com a dos outros depressa se sente isolado, como se a lei da gravidade tivesse deixado de funcionar a seus pés ficando essa pessoa a gravitar sem o ritmo da órbitra. O equilíbrio parece estar na escolha dentro da grelha do tempo em que vivemos. Sem nostalgia remissiva para relógios sem ponteiros de segundos. Nem frenesi de andar a par de tudo o que acontece. O caminho faz-se caminhando (por muito que os brasileiros tentem abolir o politicamente incorrecto gerúndio) A escolha do trilho será nossa. Mas a velocidade a que o fazemos há muito não nos pertence.