terça-feira, 4 de dezembro de 2007

As Horas do Lobo

O regresso de António Sérgio à rádio — Radar, 97.8MHz — com Viriato 25, foi como que um regresso a um passado que foi sempre feito de futuro. António Sérgio retomou ontem às 23H (programa de 2 horas) a sua presença regular no éter, e que regresso! Grave, certo e solene, António Sérgio é daqueles autores que faz com que a música que passa seja ainda melhor do que é. Não sei se é do silêncio da noite, ou se é da confiança que temos nas suas escolhas e no seu critério. Com ele antecipa-se o futuro como há trinta anos no Rotação ou no Rolls Rock se antecipou. Com ele a música é uma constante revelação. Uma revelação dita como um segredo. Um segredo para quem o souber ouvir.

2 comentários:

João Pedro Varandas disse...

Caro João Luis,

O regresso de António Sérgio merece destaque e creio que, face ao panorama da rádio em Portugal, a Radar é o projecto onde melhor se enquadra.
Percorrer a A2 de madrugada, rumo ao Sul, e escutar as sugestões de António Sérgio foi, em tempos, quase um culto. É bom tê-lo de volta.

Já agora, aproveito a ocasião e sugiro (especialmente a si e ao Gonçalo Magalhães Collaço) que vejam o filme - "CONTROL", do Anton Corbijn, que nos dá uma perspectiva do romantismo negro de Ian Curtis.
Na verdade, o argumento inspira-se na obra "Touching from a distance", da autoria de Deborah Curtis e como tal, está irremediavelmente comprometido, mas tenta, apesar de tudo, retratar o universo sombrio pós-punk dos Joy Division.
Não é um filme brilhante. Não consegue fazer a ponte entre a poesia de Ian Curtis, a atmosfera cinzenta, depressiva e suburbana de Macllesfield no final dos anos 70 e acaba por não conseguir referir a importância dos Joy Division na história da música comtemporânea.

Em todo o caso, é um registo importante, a fotografia é fabulosa e a banda sonora, como não poderia deixar de ser, é extraordinária.

João Luís Ferreira disse...

Caro João Pedro,
Vi o filme no dia em que estreou. Parece-me que o filme tem um carácter quase documental o que não permite ter a perspectiva histórica de que fala. Eu prefiro versões menos elaboradas para não sejamos conduzidos em erro. O ambiente suburbano, a crueza dos concertos, a frieza das relações entre pais, filhos, amigos, etc, tudo isso não me parece mal. Parece-me, também, que a poesia de Ian Curtis é essencialmente introspectiva, indiferente ao meio. A banda sonora está muito bem montada na narrativa. Um abraço.