II. Proclo, Teologia Platonica. Testo greco a fronte, Bompiani, 2004
Voltamos aos limites. Último. Temerária expressão. Mas se se tivesse de referir o último dos filósofos pagãos o lugar teria de ir para Proclo.
É de bom-tom dizer que foi neoplatónico e é igualmente justo, embora esta designação esconda realidades tão diversas quanto a “filosofia tardo-antiga” ou “pensadores renascentistas”.
Mais importante que esta qualificação é perceber o que traz à cultura europeia. O nosso padrão filosófico médio (estou generoso) é o de centrar o problema filosófico na questão do ser, seja para o afirmar, seja para o negar. Esta corrente, que de uma forma ou de outra impera no discurso expresso (se consciente ou consequente, essa é outra questão) não é neutra sob o ponto de vista da visão que se tem do mundo.
Para povos não europeus e sem línguas indo-europeias a questão não se coloca nos mesmos termos. Nas línguas indo-europeias o verbo “ser” tem uma presença e uma importância que não tem noutras línguas. É por isso natural que assuma funções e tenha uma intensidade que não pode assumir noutros horizontes culturais.
É evidente que a linguagem não é exclusivamente determinante. A filosofia indiana, estruturada em línguas indo-europeias, não dá um papel tão central ao ser quanto as europeias. Atma e Bhrama assumem entre outros papel mais relevante, embora o problema do ser não esteja ausente dela.
A problemática do ser é uma problemática indo-europeia que forma a Europa, mas apenas numa das suas vertente, a helénica.
Mas mesmo na cultura grega o ser não venceu, nem foi isento de resistências. Se bem virmos e simplificando algo a coisa, a grande luta sobre a cidadela central da filosofia opôs a henologia à ontologia. Uns centram-se no Uno, outros no Ser. Em Platão a luta não está decidida e parece que nem era essa sua intenção. Aristóteles dá primado ao ser, os platónicos, sobretudo os neoplatónicos desde Plotino dão primado ao Uno.
A coisa parece mera questão de palavras e já adivinho o ar de enfado de algumas pessoas. No entanto, tanto sob o ponto de vista da compreensão da realidade como da vivência que se lhe segue como ainda das práticas de linguagem uma e outra solução não são inócuas na nossa vida.
Convenhamos: o mundo é múltiplo. Como lidar com essa multiplicidade? É evidente que uns podem fazer como Antístenes e dizer que só se pode afirmar a tautologia: A é A. Nada mais. Visão lógica por excelência, e no entanto, nada diz sobre o mundo, desde que seja visão exclusiva sobre ele. Fica tudo fragmentado, apenas valendo a auto-referência. Esta armadilha já foi denunciada por Platão. Podemos então, se quisermos unificar esse múltiplo, seguir em abstracto três caminhos: ou abdicamos de dizer algo sobre ele, ou unificamos dizendo que tudo termina no Uno, ou seja, por um processo de absorção, ou aceitamos uma via impositiva e afirmamos algo sobre o todo, essa a via do ser.
É de bom-tom dizer que foi neoplatónico e é igualmente justo, embora esta designação esconda realidades tão diversas quanto a “filosofia tardo-antiga” ou “pensadores renascentistas”.
Mais importante que esta qualificação é perceber o que traz à cultura europeia. O nosso padrão filosófico médio (estou generoso) é o de centrar o problema filosófico na questão do ser, seja para o afirmar, seja para o negar. Esta corrente, que de uma forma ou de outra impera no discurso expresso (se consciente ou consequente, essa é outra questão) não é neutra sob o ponto de vista da visão que se tem do mundo.
Para povos não europeus e sem línguas indo-europeias a questão não se coloca nos mesmos termos. Nas línguas indo-europeias o verbo “ser” tem uma presença e uma importância que não tem noutras línguas. É por isso natural que assuma funções e tenha uma intensidade que não pode assumir noutros horizontes culturais.
É evidente que a linguagem não é exclusivamente determinante. A filosofia indiana, estruturada em línguas indo-europeias, não dá um papel tão central ao ser quanto as europeias. Atma e Bhrama assumem entre outros papel mais relevante, embora o problema do ser não esteja ausente dela.
A problemática do ser é uma problemática indo-europeia que forma a Europa, mas apenas numa das suas vertente, a helénica.
Mas mesmo na cultura grega o ser não venceu, nem foi isento de resistências. Se bem virmos e simplificando algo a coisa, a grande luta sobre a cidadela central da filosofia opôs a henologia à ontologia. Uns centram-se no Uno, outros no Ser. Em Platão a luta não está decidida e parece que nem era essa sua intenção. Aristóteles dá primado ao ser, os platónicos, sobretudo os neoplatónicos desde Plotino dão primado ao Uno.
A coisa parece mera questão de palavras e já adivinho o ar de enfado de algumas pessoas. No entanto, tanto sob o ponto de vista da compreensão da realidade como da vivência que se lhe segue como ainda das práticas de linguagem uma e outra solução não são inócuas na nossa vida.
Convenhamos: o mundo é múltiplo. Como lidar com essa multiplicidade? É evidente que uns podem fazer como Antístenes e dizer que só se pode afirmar a tautologia: A é A. Nada mais. Visão lógica por excelência, e no entanto, nada diz sobre o mundo, desde que seja visão exclusiva sobre ele. Fica tudo fragmentado, apenas valendo a auto-referência. Esta armadilha já foi denunciada por Platão. Podemos então, se quisermos unificar esse múltiplo, seguir em abstracto três caminhos: ou abdicamos de dizer algo sobre ele, ou unificamos dizendo que tudo termina no Uno, ou seja, por um processo de absorção, ou aceitamos uma via impositiva e afirmamos algo sobre o todo, essa a via do ser.
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