segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Lealdade, Fidelidade e Mérito

Um dos nossos problemas é termos transformado aquilo que pode ser uma virtude privada (a fidelidade) num critério de organização social. Não se deve confundir a lealdade (que é uma virtude pública) com a fidelidade (uma virtude privada que se transforma num vício quando aplicada no domínio público). A lealdade admite a discordância e promove o mérito. A fidelidade impõe a subserviência e dissemina a mediocridade. E, já agora, talvez seja bom recordar aqueles que promovem a fidelidade que ela não deve ser confundida com amor… Onde há amor pode esperar-se fidelidade mas nem sempre da existência de fidelidade se pode deduzir a existência de amor….

Vem isto a propósito dos posts anteriores que me trouxeram à memória (perdoem-me o egocentrismo bloguista…) um texto dos meus tempos de cronista no DN. Intitulava-se Fidelidade e Mérito e contrapunha dois modelos de organização da nossa sociedade: um assente numa promoção da fidelidade (dar preferência aos que "fazem parte de nós") o outro numa lógica de reconhecimento do mérito (premiando os melhores). Não vou, no entanto, repetir aqui esse texto, que reconhecendo certos méritos à fidelidade (promove a coesão e solidariedade dentro do grupo e é mais igualitária), procurava demonstrar que (independentemente de outros juízos éticos) a fidelidade se traduz na disseminação de uma cultura de subserviência e repetição, contrária à inovação e criadora de uma espécie de consanguinidade social, cultural e política que, a longo prazo, atrofia qualquer sociedade e o seu potencial de desenvolvimento. Outra questão é o que é exactamente o mérito (a questão suscitada pelo post do Alexandre talvez não seja tanto sobre a relevância do mérito mas sim soube diferentes tipos de mérito e de formas de o determinar)..

2 comentários:

Sofia Galvão disse...

A simplicidade com que se impõe a verdade das coisas pensadas é sempre a melhor das experiências...
E que útil é, Miguel, deixar assim tão claro o que, sendo óbvio, escapa à maior parte.
Esta distinção básica entre lealdade e fidelidade talvez ajudasse, se interiorizada, a dissipar equívocos recorrentes.
Sem a tua elevação, e procurando espíritos mais prosaicos, também se resumiria a coisa lembrando que a lealdade nunca se tomou por canina...
Já quanto à fidelidade e ao amor, espero pelo post que assim te obrigas a escrever. Comentarei depois. Prometo!

Gonçalo Magalhães Collaço disse...

Ao contrário da Sofia Galvão, talvez por menos dotado, razão e fundo da distinção escapa-se-me completamente. Todavia, prometida está complementar escrito sobre a fidelidade, mais avisado, por certo, aguardar e guardar mais circunscrito comentário para devido e oportuno momento, ou seja, para quando possível for atender ao todo e não apenas à parte.