segunda-feira, 6 de agosto de 2007

I. O mérito

Existe uma ilusão, a de se considerar que o mérito é uma instituição democrática. Não é assim.

A primeira democracia, a ateniense (deixemos esta premissa na sua nua simplicidade) baseava-se sobretudo no acaso, o sorteio, para a escolha dos representantes. O mérito era deixado a apenas algumas funções o de natureza técnica e militar.

Ainda hoje em dia, e estruturalmente, a democracia baseia-se na escolha pelo povo. Será que esta escolha tem algo a ver com o mérito? Não haverá pessoas de maior mérito muitas vezes em pequenos partidos que não são escolhidos apenas porque pertencem a pequenos partidos? A própria escolha democrática se opõe necessariamente à ideia de mérito. Gramsci ou Berlinguer eram bem maiores na perspectiva do serviço público que Berlusconi e nunca tiveram o seu poder.

Quais são os exemplos históricos de meritocracia? O sistema napoleónico, com as Grandes Ecoles, sem dúvida. O sistema de mandarinato na China. O vizirato turco. E para culminar o elenco, o sistema de promoções das SS, profundamente anti-aristocrático, desejando subverter os valores burgueses, os títulos (nem o Reichsführer-SS Himmler podia ser tratado por Herr).

Que os sistemas de meritocracia pura sejam tudo menos democráticos não nos pode fazer espantar. Há boas razões estruturais para que assim seja.

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