terça-feira, 14 de agosto de 2007

II. San Benedetto e l'Italia del suo tempo, Luigi Salvatorelli, Editori Laterza, Roma 2007

A questão é a de saber que sementes ele deixou, que deixam marca nos séculos, e ainda hoje nos marcam.

Pensemos numa instituição que assumiu a função de museu, universidade, hospital, centro de investigação, zona de experimentação económica. Centro de excelência de gestão, ponto de difusão de cultura, mecenas das artes, letras e investigação científica, zona de segurança física das pessoas, asilo, planeador e executor de grandes obras... O elenco não tem fim. Qual instituição hoje em dia se pode arrogar de ter esta multiplicidade de funções? Pode-se dizer que na altura mais ninguém o fazia. Ideia falsa, mas aceitemo-la para efeito de argumentação. Mas que alguém o tenha feito, e não tenha deixado despida a sociedade de possibilidades de actuação é facto mais que meritório. E poucas organizações se podem gabar de o ter feito com tanta eficiência e eficácia. Na nossa época nenhuma instituição se pode gabar de tanta multiplicidade de facetas e muito menos de tal grau de sucesso, salvo muita injecção tecnológica que dá aparência de maior virtude. As empresas bem podem tentar motivar os seus trabalhadores, mas não oferecem, pelo menos directamente, um projecto de eternidade.

Em segundo lugar reafirma um dado que é uma constante europeia, a da natureza limitada do poder. A começar pelo seu. O poder limitado do abade (125), tradição romana e cristã, é plenamente assumido na sua regra.

Em terceiro lugar cria uma forma de vida regrada, regrada igualmente pelo tempo. A palavra horário é-nos bastante conhecida e em todo o mundo esta é, para o bem e para o mal, herança beneditina. A racionalização da vida, seja a do militar, seja a do trabalhador, é obtida por via beneditina muitos séculos antes de os Estados ou as empresas se lembrarem de tal coisa.

Em quarto lugar fê-lo através de um “individualismo social” (p-.127). O monge faz parte de uma sociedade mas é para a sua salvação pessoal que lá se encontra. Esta é um marca da Europa. Sociedades civilizadas que esmagam o indivíduo, a História conhece-as muitas. Sociedades que o deixam à solta, indiferentes ao seu semelhante, também disso temos bastos exemplos. Mas este equilíbrio entre a integração social e a finalidade individual é marca que atravessa a cultura europeia até aos nossos dias.

Em quinto lugar instituiu a prudência como ideal religioso. Percebendo que os extremos são apenas um solução fácil – e perigosa quanto aplicada ao comum dos homens – e que este extremo rapidamente faz passar da disposição debochada à ascética, instituiu um sistema de equilíbrio, em que cada qual dá o que pode sob o ponto de vista religioso, desde que certos mínimos sejam cumpridos. É evidente que a prudência (a sophrosinè grega, para simplificar) tem um papel religioso bem mais antigo. Mas conseguir instilá-lo num corpo colectivo não é tarefa simples. Foi acusado de juridismo. Mas basta estudar a sua regra para perceber que tem pouco de jurídico. É antes do mais um guião de prudência, de assentimento equilibrado.

Em sexto lugar restringiu a violência. Numa época que se revelou particularmente violenta e em que o império “romano” (bizantino) fez talvez mais estragos que os bárbaros, conseguiu formar um corpo social em que a violência não era fundante do colectivo. Um dos elementos essenciais do espírito do homem dito moderno, o do corpo tutelado, protegido contra a violência, é em grande parte instituição sua.


Em síntese, mostrou o que só os grandes organizadores da humanidade têm: um profundo conhecimento da natureza humana." A voler fare gli uomini troppo buoni, non si rischi di farli divenire troppo malvagi: che mai: una fabbrica forzata di santi può trasformarsi facilmente in un covo di demoni" (p. 119). Um bom exemplo para as utopias comunista, multicultural, capitalista e outras tantas que pululam na nossa época bastamente analfabeta. Por isso e pode dizer com justiça que inventou uma nova forma de vida (p-.131). Quantos podem dizer o mesmo? E nessa forma de vida fomo-nos habituando a ver as marcas do que começámos a chamar de Europa.


http://www.lastampa.it/speciali/salvatorelli/index.html
http://www.liberonweb.com/asp/libro.asp?ISBN=8842080594
http://usato.unilibro.it/site/result_scrittori.asp?scrittore=Salvatorelli+Luigi&idaff=0
http://medioevo.leonardo.it/blog/studi_e_ricerche/san_benedetto_e_litalia_del_suo_tempo.html
http://www.unilibro.com/find_buy/result_scrittori.asp?scrittore=Salvatorelli+Luigi&idaff=unilibroES
http://www.liberalsocialisti.org/articol.php?id_articol=147







Alexandre Brandão da Veiga

1 comentários:

Anónimo disse...

De facto, São Bento, como São Bernardo ou São Teotónio - tremendamente, diria mais espiritual e fundacionalmente importante para Portugal- foram ilustres pessoas que viram já neste mundo( por graça, e por diversas vias) a Luz e a Verdade total das coisas e por ela se deixaram seduzir e guiar.

E só a Verdade liberta, como nos ensinou o Mestre.