segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Porque os modernos odeiam as mulheres?

 


 

É muito curioso passar pelas referências dos ditos modernos e ver o que eles realmente pensam.

 

A grande democracia ateniense. Expulsa as mulheres do espaço público. Na aristocrática Esparta ou Lesbos as mulheres têm um mais forte papel.

 

A grande Renascença. É nela que as bruxas começam a ser perseguidas. Em que os juristas como Bodin defendem que deveria retornar o direito ao repúdio - só pelos homens, é evidente - onde nem depois de viúvas as mulheres podem fazer parte de corporações, em que se teoriza e impõe em grande parte a impossibilidade da mulher herdar património, poder feudal ou soberania.

 

As Luzes. Em que Voltaire diz que o grande mérito do confucionismo é o de ter sido a única religião que não foi seguida pelas mulheres, onde tantos (Boulainvilliers, Diderot, Montesquieu, Voltaire) defendem os haréns porque a poligamia é o regime natural - só para os homens, é evidente. Em que Rousseau entende (contra o papa Bento XIV que promove a carreira da professora de física de Bolonha Laura Bassi) que as mulheres são estúpidas demais para aprender ciência. E em que durante a Revolução Francesa, perante o protesto de Olympe de Gouges, que diz não haver apenas direitos do homem, mas também da mulher, a grande Assembleia Nacional decreta que o lugar da mulher é na cozinha.

 

A atracção pelo islão. Que enfia as mulheres em haréns. Que tem leis divinas que lhes mandam receber «barada» (tabefe, piparote, estaladão, murro?).

 

Se bem virmos, o traço comum de todas estas referências dos modernos é o de expulsar as mulheres do espaço público e retirar-lhe direitos e liberdades.

 

Quando uma mulher diz que deve muito às Luzes podemos assentir, que talvez seja verdade. Deve às Luzes, mas não à inteligência. Lady Montague é bom exemplo disso no século XVIII, quando acha os turcos fascinantes, mas não  percebe que só falam com ela por ser uma mulher europeia, e não súbdita do império otomano. E ao mesmo tempo conta que uma mulher encontrada morta na rua não  é entregue à família porque, tendo andado sempre velada, ninguém sabe quem ela é. Usar véus significa ser anónima para o mundo, mesmo quando cadáver.

 

Já sabemos, pois, qual a intenção dos ditos modernos. Expulsar as mulheres do espaço público. Salvo se não for a sua intenção, podem dizer em sua defesa. Talvez. Mas só numa condição: se forem ignorantes.

 

Alexandre Brandão da Veiga

 

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