quinta-feira, 29 de junho de 2023

Voltaire m'amuse

 

 

 

Voltaire m'amuse. Il m'a toujours amusé. Il écrit bien. Il veut produire de l'effet et il a un avantage par rapport aux médiocres de notre temps: il en produit.

 

La question c’est de savoir s'il y en a plus chez Voltaire.  Lui-même disait: je suis comme un ruisseau, clair parce que pas profond. Il a tout dit, et il n'est pas écouté.

 

Il était vraiment frustré parce que ni Frédéric II de Prusse ni Catherine II de Russie l'écoutaient quand il leur prodiguait des conseils politiques.

 

Voyons. Tout est clair. Voltaire est un philosophe pour les journalistes et un journaliste pour les philosophes. Il était un pitre pour les souverains et un souverain pour les pitres. Tout est dit.

 

Il se moquait de l'islam et ses descendants interdisent sa pièce «Mahomet ou du fanatisme.» Il disait qu'il donnerait son sang pour la liberté de parole des autres, mais sauf ses médecins, personne n’a vu son sang versé.

 

Lui, qui s'aimait voir comme amant de la science, a détesté que Madame du Châtelet lui ait démontré que Leibniz avait raison dans l'équation de l'énergie cinétique. Il n'aimait pas la vérité: son amour c'était celui de se moquer.

 

Lui, qui disait que le grand mérite du confucianisme c'était celui d'être la seule religion qui n'était pas suivie par les femmes, est aujourd'hui suivi par des femmes. Si elles disent que lui doivent, on peut les croire: c’est par rapport à lui et pas à l'intelligence qu’elles ont des dettes.

 

Voltaire m'amuse. Je suis comme Frédéric et Catherine.  Mais il est dangereux. Et là, Louis XV avait raison. Il n'est pas dangereux parce qu'il est sérieux. Il ne l'est même pas parce qu'il est corrosif. Mais parce un monde gouverné par pitres et pensé par des journalistes n'annonce pas la tragédie: c’est de sa substance l'être déjà.

 

Alexandre Brandão da Veiga

 

 

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segunda-feira, 26 de junho de 2023

Liberalismo: identidade e prudência.

 

 

 

Nunca escondi o meu desprezo pelo dito liberalismo dos anos 90. Não por ser contra o liberalismo por uma questão de princípio, embora seja o primeiro a reconhecer os seus limites: lida mal com a irreversibilidade e é etnocêntrico, julga que todo o mundo no fundo é europeu.

 

Mas sou também o primeiro a reconhecer a eminência de grandes pensadores liberais no século XX. Não anglo-americanos, mas continentais. Thomas Mann depois de 1933, Croce, mas acima de todos, soberano, Ortega y Gasset, para mim o pensador político mais claro e profundo do século XX. Algo nos outros cheira a requentado hoje em dia. Só Ortega, mesmo nas suas omissões (do cristianismo, nomeadamente) se mantém fresco, pertinente e certeiro.

 

O problema do liberalismo dos anos 90 é ser acéfalo, ignorante, inculto. Em suma, mais fruto de uma geração educada pelo Maio de 68 que uma que conhece bem as declinações do latim e as inclinações de Homero. Consequentemente, uma geração obediente, pronta a aceitar tudo o que lhe dizem. A Europa é criminosa, todos os outros impérios foram pacíficos, salvo o europeu, todas as culturas são ricas, salvo a europeia, todas as identidades a celebrar, salvo a europeia. Construiu-se um projecto europeu dizendo que a Europa não tinha identidade, e não merece tê-la. Em suma, o seu problema é ser tudo o contrário de um liberalismo, no que tem de aspiração aristocrática o mesmo.

 

Este liberalismo de pacotilha esquece duas das lições do liberalismo clássico, dois dos seus conceitos centrais: a identidade e a prudência.

 

Entendamo-nos: há no liberalismo uma dimensão universal (no limite europeia na verdade e por isso também identitária) e revolucionária (mas nunca impondo a revolução permanente). Mas o liberalismo impôs-se precisamente sobre o tema da identidade (geralmente nacional) e da prudência (por oposição ao fanatismo).

 

Mas o liberalismo clássico está associado à identidade, não vive sem ela. Identidade nacional, sem dúvida. Mas também identidade regional e europeia. Não há liberalismo sem identidade. O dos anos 90 não é, pois, verdadeiro liberalismo. É o que resulta da pedagogia do Maio de 68: sem História, sem identidade, imediato, sem lastro.

 

Também é sem prudência. O liberal faz revoluções, mas para estabelecer regimes de moderação. O poder moderador é mais que um tique: é uma marca. O que o preocupa é o poder a mais para o parlamento, para os reis, para os tribunais... O problema nunca é o titular do poder, mas a sua desmesura.

 

Ora, o liberal, ou o que se julga tal, dos anos 90, é ele mesmo desmesura. Os direitos alargam-se sem limites, se o poder for dos tribunais não precisa de ter limites porque estes são por si virtuosos sem medida. Em vez da prudência, é proibido proibir. Julga-se filho do liberalismo, mas mais uma vez é antes filho do Maio de 68.

 

O dito «wokismo», ou outro nome que se queira chamar, é filho deste liberalismo tíbio e inculto que não sabe lidar com a identidade e a prudência. Se a Europa é a democracia, a economia de mercado e o Estado de Direito não devíamos conseguir distinguir entre o Japão e a Europa. Se o liberalismo é a desmesura não há travões aos direitos e os povos não podem estabelecer limites.

 

O problema não se resolve por isso com curas meramente epidérmicas contra o «wokismo». Estas nada resolvem. Os que defendem o liberalismo, precisamente por o defender, devem perceber que os temas da identidade e da prudência são temas liberais por excelência. Afastá-los do campo do liberalismo é dar lugar à recidiva, deixar o liberalismo vazio. Se os extremos cresceram é porque o dito liberalismo dos anos 90 era filho dos extremismos dos anos 60 mais que descendente de Goethe ou Schiller, ou Chateaubriand, que nunca conheceu.

 

Por isso, os que recusam os temas da identidade e da prudência são apenas filhos de extremistas. E os que quiserem ser verdadeiros liberais sabem que tarefa têm: integrar no seu pensamento a identidade e a prudência, para estas não ficarem órfãs, ou filhas de outros extremistas.

 

 

Alexandre Brandão da Veiga

 

 

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