Hitler e os bem pensantes IV
Num documentário soviético sobre a vitória
russa sobre os nazis em 1941 viam-se padres ortodoxos a exortar a pessoas e
procissões na rua (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res
Gestae, Milano, 2015, p. 113). Isto mostra a força do cristianismo ainda nos
anos 1940, mas também a vontade de Estaline manipular o sentimento religioso
dos russos.
Hitler está contra a oposição entre o
soldado e o técnico; mas sem a técnica não se vencem guerras (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 116).
Hitler defende o método experimental
(PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano,
2015, p. 120).
Hitler está contra a intervenção exagerada
da polícia, é melhor corrigir os desvios com o exemplo (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 121). Defende a autonomia
dos municípios e das províncias e está contra políticas de hegemonia de umas em
relação a outras (pp. 168, 174).
Hitler faz pouco dos nobres porque estão
preocupados com a árvore genealógica das suas futuras mulheres (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 124). É uma observação
curiosa, porque revela, fora das suas intenções, a importância que é dada ao
sangue feminino na nobreza europeia. Mas ao mesmo tempo reconhece que a perda
de algumas centenas de homens não é problema para a sobrevivência de uma raça,
como se viu após a Guerra dos Trinta Anos em que aumentou a poligamia, mas a
perda de mulheres sim (p. 211).
Há muitas circunstâncias em que não se
pode obrigar as mulheres a ficarem com os seus maridos, como os que as
maltratam assediam ou deixam as suas mulheres morrer à fome (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 218). E é importante dar
bons salários às mulheres (p. 219).
Hitler tem discurso anti-colonialista,
quer a independência do Egipto (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a
Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 126). Sempre foi contra a colonização
pela Alemanha para o Sul e o Ocidente, quer dirigir-se para Leste, como
prometeu no «Mein Kampf» (ROUSSILLON, Sylvain, L’Épopée Coloniale Allemande,
Via Romana, Le Chesnay, 2021, p. 242). A Alemanha, quando do armistício de
1940, teria podido exigir a devolução do Togo e dos Camarões e não o fez, a
única tentativa séria de implantação ultramarina será a da Nova Suábia (p.
243).
Otto
von Hentig em 1937 negoceia com os sionistas a transferência de judeus para a
Palestina, mas tanto Hitler como os ingleses mostram-se reticentes (ROUSSILLON,
Sylvain, L’Épopée Coloniale Allemande, Via Romana, Le Chesnay, 2021, pp.
244-245).
O camponês, depois de cumpridos os seus
deveres em relação ao Estado, tem o direito de fazer o que quiser da sua
produção (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae,
Milano, 2015, p. 122).
Hitler censura a tendência para retirar
autonomia aos funcionários públicos, estes devem ter uma missão e ter liberdade
na forma de a cumprir (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 142). No fundo, a gestão por objectivos.
É fundamental que a escola permita que o mais
pobre dos rapazes possa aceder a todas as posições sociais (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 145). Um rapaz não deve
ser obrigado a seguir a profissão do pai, mas seguir a sua inclinação e as suas
capacidades (p. 146).
Os juristas não querem reconhecer o valor
da aplicação prática do direito, mas os delinquentes conhecem-na muito bem
(PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano,
2015, p. 148). Quem se dedica a uma profissão jurídica ou é deficiente, ou
torna-se com o tempo (p. 154). O desprezo em relação aos juristas de Lutero
mantem-se presente em Hitler. Os juristas são cosmopolitas como os
delinquentes, mas sem ter a habilidade dos últimos (p. 171).
Se Hitler defendia a propriedade privada,
era contra as sociedade anónimas e o anonimato do capital (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 150).
O povo alemão não é apenas o resultado da
civilização antiga e do cristianismo, a estes deve-se juntar um outro factor: a
força política, como o foi o império carolíngio (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 155).
Com eleições livres corre-se o risco de
escolher um idiota, como acontecia com a eleição de alguns imperadores alemães
(PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano,
2015, p. 158). O Führer deve ser escolhido por eleições e investido de poderes
absolutos (p. 160), a sua eleição não deve ter lugar sob os olhos do povo, mas
a porta fechada como o papa (p. 161), e o Novo Führer deve separar
completamente o poder executivo do legislativo (p. 161).
A comparação entre o Reich e o império
britânico aparece em Hitler: o Reich vai permitir ao jovem alemão fazer
tirocínio num vasto império, como o inglês o pode fazer já (PICKER, Henry, Conversazioni
di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 190).
O sentido fanático de pertença ao Reich e
da unidade do Reich (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 191) aproxima-o dos fundamentalistas islâmicos.
O próprio Hitler admira a URSS por ser
mais totalitária e apenas permitir acesso em cadeia às estações de rádio e não
acesso livre como na Alemanha (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a
Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 192).
O que Hitler admira na Igreja Romana é o
seu sentido de festa (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola,
Res Gestae, Milano, 2015, p. 195). Perante os esforços de Lutero para conduzir
a Igreja à contemplação mística numa Igreja já totalmente secularizada, os
jesuítas fizeram apelo aos sentidos (p. 221).
A justiça deve ser rápida, ao delito deve
seguir-se imediatamente a pena se se quer que a coisas funcionem (PICKER,
Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p.
172). Deve agir-se com rapidez e brutalidade (p. 173).
Já que os árabes não querem os judeus na
Palestina o melhor é levá-los para África dizia Hitler ainda em 15 de Maio de
1942 (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano,
2015, p. 206, cf. p. 12 em que se refere Madagáscar).
O protestantismo não hesitou em queimar as
bruxas, enquanto episódios do género não se encontram na História italiana
(PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano,
2015, p. 221).
Hitler ficava muito feliz quando era
contraditado com palavras apropriadas (PICKER, Henry, Conversazioni di
Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 12).
Alexandre Brandão da Veiga
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