segunda-feira, 27 de março de 2023

Hitler e os bem pensantes II

 

Para Hitler os negros tornaram-se porcos apenas quando os missionários os vestem, quando andam nus são perfeitamente limpos (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 25). Também Hitler crítica as missões por terem desvirtuado os africanos.

 

Uma delegação finlandesa, depois da guerra com os russos abordou Hitler para ser um protectorado alemão (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 37). Quando Hitler visitou a Finlândia, o marechal Mannerheim, o herói da liberdade finlandesa, ficou feliz com esta visita, e o Presidente da República Ryti também se mostrou acolhedor (p. 59). O general Dietl não é apenas popular na Alemanha, mas também na Finlândia (p. 118).

 

Hitler queria que se fizessem na Holanda duas escolas políticas, uma para rapazes, outra para raparigas (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, p. 40).

 

A relação de Hitler com o cristianismo revela-se de forma paulatina ao longo das conversas. A sua relação com o cristianismo aproxima-o do Maio do 68 e da sua concepção simplista, tanto do cristianismo, como do paganismo. Hitler não queria a formação de igrejas unitárias para vastas porções do território russo a ocupar (PICKER, Henry, Conversazioni di Hitler a Tavola, Res Gestae, Milano, 2015, pp. 43, 243). Hitler opunha-se aos clérigos filo-semitas (p. 51). Não queria visitar a Espanha nunca (p. 60), onde não é possível uma revolução nacional como na Alemanha e na Itália por causa do poder da Igreja Católica (p. 61). A Espanha não é fascista (p. 72). Mas recusa a ideia de que os espanhóis são preguiçosos, viu-os trabalhar (p. 74). Se os italianos e os espanhóis querem ser católicos é problema deles (p. 231). Os padres e os monárquicos são os piores inimigos do despertar germânico (p. 62). Instituiu o cargo de «bispo do Reich» para trazer luz ao problema da Igreja Evangélica (p. 63). Os construtores navais da era cristã esqueceram-se das formas naturais dos peixes quando faziam navios, ao contrário dos antigos (p. 115). O Império Romano foi vencido, não pelos germanos ou os hunos, mas pelo cristianismo (p. 144), tese de Gibbon revistada. Mostra simpatia pelo Juliano, o Apóstata (p. 144), que ocorre entre a extrema direita e o Maio de 68. Para a perseguição contra os cristãos toma como exemplo o imperador Juliano (p. 12). Se o papado sobreviveu apesar das premissas absurdas do cristianismo, foi por mérito da grandiosa organização da Igreja (p. 159). O cristianismo falhou por não ter transferido o seu princípio metafísico no plano material (p. 78 – não se percebe bem o que quer dizer com isto, mas vale como crítica). O cristianismo é fanático e intolerante (p. 164). A Igreja lutou sempre contra a livre investigação e ainda hoje em dia se vê nas escolas o absurdo de ensinar a teoria da evolução e o Génesis ao mesmo tempo (p. 222). Se a Igreja tivesse praticado a lei do amor, não teria resistido muito tempo, foi através da tortura e na fogueira que fez o seu poder (p. 238). Não se percebe se estes momentos de brutalidade lhe provocam admiração, ou não. Tem como modelo de estilo as conversas entre Frederico II e Voltaire, que admirava (p. 223). E só se pode rir perante a pretensão de um santo católico como Santo António, de mortificar a carne (p. 198). De entre a oposição ao nazismo inclui o catolicismo político (p. 165). Pensa que há uma íntima colaboração entre a Igreja Católica e os assassinos de Heydrich (p. 245). Como muitos do Maio de 68 admira a responsabilidade colectiva das famílias no Japão, em que toda família responde pelos crimes de um dos seus membros (p. 175). O Japão teve a sorte, como aconteceu com o maometanismo, de ter uma religião de Estado não corrompida pelo cristianismo (p. 234). É a favor de energias renováveis como a do vento, e da produção local de energia (p. 179). Quer expulsar os judeus e os cristãos da vida política alemã (p. 196). Depois da Guerra tomará medidas que tornarão praticamente impossível aos jovens serem conquistados pela Igreja Católica (p. 236). Como o Maio de 68 diz que a burguesia é vil (p. 196), nenhuma classe é mais obtusa que a burguesia (p. 205). Não se deve dar valor excessivo à vida individual (p. 229). E coloca-se em oposição à Igreja e à nobreza (p. 200). Se não temos nada a ver com as crenças do paganismo romano e grego, os seus monumentos são um testemunho arquitectónico (p. 227). Como os do Maio de 687 queixa-se de que o cristianismo retira a alegria do belo (p. 229). Hitler achava que um dia no futuro todos terão direito de serem felizes cada um a seu modo, como o mundo antigo tinha conhecido, em que ninguém obrigava os outros a converterem-se aos próprios deuses (p. 233). Como o Maio de 68 não gosta das academias (p. 253), e não gosta dos purismos da língua (p. 250) e defende que a língua alemã se enriquece com a vinda de palavras de outras línguas (p. 251). A libertação de preconceitos é um dos argumentos de Hitler (p. 291).

 

Quando lhe propõem que sejam transferidas para a Alemanha obras de arte que nasceram na Alemanha e estão no museu de Cracóvia, Hitler está contra porque diz que, se assim fosse, abria-se um precedente sem fim (ROUSSILLON, Sylvain, L’Épopée Coloniale Allemande, Via Romana, Le Chesnay, 2021, p. 256): precisamente o que defende o Museu Britânico.

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