A auto-referência
Em pelo menos três áreas
a auto-referência cria desconforto. Na ética, na gramática, na lógica.
O auto-insulto, ou o auto-elogio
têm estatutos muito diversos da referência aos outros. Podemos ser justos ou
injustos ao insultar ou elogiar outra pessoa. Podemos sê-lo igualmente quando o
fazemos em relação a nós mesmos. Mas quando alguém diz que é modesto ou diz que
é o pior dos homens, há algo de bizarro que nos invade. De uma forma ou de
outra, a auto-referência cheira a narcisismo.
Na gramática, pelo menos nas
línguas indo-europeias, tão ricas em flexões verbais, o pronome «eu» tem sempre
histórias estranhas. Se a própria flexão verbal indica a pessoa e o número (e
na voz passiva em muitos casos igualmente o género), para que serve um pronome «eu»
no nominativo? A auto-referência cheira a inutilidade.
Na lógica a auto-referência
é porta de entrada para os paradoxos. Nem sempre gera paradoxos, e nem todos os
paradoxos nascem da auto-referência, mas sempre que entramos no seu terreno sabemos
que é savana perigosa. Na lógica cheira a paradoxo.
Narcisismo, inutilidade e
paradoxos são sempre os perigos da auto-referência. Mas isto sou eu a dizê-lo. E
que sei eu disso?
Alexandre Brandão da Veiga
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