terça-feira, 16 de agosto de 2022

Onde está a nobreza?

 


 

 

Desapareceu, parece. É ridículo invocá-la, parece. Já não existe, as antecâmaras estão certas disso.

Mas o que diz a criadagem nas proximidades dos salões só se ouve porque estão próximos deles. E estão-lhes próximos, não porque deles tenha senhorio, mas porque está lá para servir. Todas as certezas da criadagem são assim sempre de segunda mão, que nem sempre é a mais hábil.

Desapareceu a nobreza? Não. A nossa época admite-a, exige-a mesmo. Mas no estranho e no colectivo.

Que o herói asiático ou africano tenha sangue nobre salienta-se muitas vezes, tantas quanto seria ridículo referir se fosse europeu. Mandela tem sangue real, aqueloutro na Índia tem sangue brâmane. O político que na Europa se ri da nobreza baixa os olhos perante o nobre hindu, porque se sabe de baixa casta.

No colectivo é essencial. Os povos são nobres, têm uma história antiga, os seus feitos maravilhosos. Falássemos de um indivíduo seria snob, presunção, ridículo. Mas todos os dias ouvimos elogios à nobreza dos costumes, da postura, das atitudes de povos.

Se bem virmos o teste é sempre o mesmo. Domina o pequeno burguês e impõe ao mundo a sua ideologia. A nobreza é sempre a dos outros, e nisso tem razão porque é dela desprovido. A nobreza não é de uma pessoa individual, porque sabe que como indivíduo não a tem.

O pequeno burguês põe a nobreza onde a vê: longe de si, no que é justiça. Onde erra é quando olha à sua volta e só vê pequenos burgueses caso sejam europeus. O que tem de comum o seu erro e o seu acerto é apelar à abertura, a sua e a dos outros pequenos burgueses, o que bem precisa. Nasceu fechado sobre si mesmo, sem nobreza, e não acredita que uma pessoa só, como ele a possa ter. O que mais uma vez é no que tem razão que justamente o faz triste. Tem toda a razão para achar que vive num mundo absurdo. É o da sua visão.

 

Alexandre Brandão da Veiga

 

 

 

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