quarta-feira, 4 de julho de 2018

Pobreza da literatura II






Novo estreitamento. Mas o problema é que este estreitamento é duplo. É que sobrando praticamente apenas a prosa de ficção, também esta está reduzida. O conto mantém alguma tradição nos países anglo-saxónicos, mas quase desapareceu nos outros todos. E o que se faz não se vende. Por seu turno, o romance quase desapareceu. Ao que o leitor me diz: mas hoje em dia publicam-se tantos romances….

Não. Publicam-se muitos livros que se chamam a si mesmo romances. Mas não o são. O romance resulta do cruzamento da épica antiga, com o cristianismo. O herói da época não muda, não há «metanoia». O romance integra esta «metanoia», conceito cristão, na épica anterior.  Do romance de cavalaria, ao romance burguês ou aristocrático do século XIX e parte do século XX há um fio que muitos romancistas (até Thomas Mann, pelo menos) têm como bem consciente. O romance tem a dimensão da épica, mesmo se nem sempre a sua grandeza. A nossa época apenas produz novelas a que presunçosamente chama de romance. Confessa assim a medida da sua impotência… e má fé.

Em suma, a pobreza da forma reduz a poesia a quase nada, e de entre esta a lírica restricta, e na prosa sobra apenas a ficção e sob forma de novela. Nãos e pode dizer que seja época de grande expansão literária.


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