Pobreza da literatura I
A nossa época gosta da ênfase
e do exagero. Por isso, diz-se, sem perceber muito bem porquê, que a cultura é fundamental
e que o que é importante é a criatividade, e que vivemos numa época de grande
riqueza cultural.
Imodéstias à parte,
necessidades de compensação desamparadas, frases devidamente sequestradas,
sejamos crescidos e vejamos qual o verdadeiro ponto da situação da literatura.
Não vou falar da posição
do escritor na nossa época, porque sofre do desprestígio geral do que
antigamente se chamava de intelectuais. Os clérigos valem pouco hoje em dia,
porque todos quiseram ser clérigos. O que qualquer um pode ser todos acham que
vale pouco. Mas isso deixo para outras aventuras.
Falemos de literatura, só
de literatura. É ela hoje em dia tão rica quanto isso?
A minha ideia é
precisamente a contrária. E se quisermos uma demonstração clara teremos de a
fazer por partes. O que vejo é uma pobreza de formas, uma pobreza de temas e
uma pobreza de fontes.
Pobreza de formas. Ainda
no século XIX Byron ou Hugo eram grande sucesso de vendas. A poesia fazia tanto
ou mais brado que a prosa, tudo dependia do momento. A poesia não se vende hoje
em dia. Lê-se pouco e por isso faz-se menos ou mais clandestinamente.
De entre prosa e poesia,
em vez de assistirmos à pujança de ambas, a poesia anda coxa. Mas anda coxa
também nas suas formas. Desapareceu a poesia épica, a narrativa, a dramática, o
epitalâmio, o panegirico. Apenas resta, de entre todas as formas poéticas, a poesia
lírica. Estreitamento de forma, ainda aqui.
Dentro da poesia lírica
sobra alguma e pouca poesia sentimental, mas apenas floresce uma poesia
existencial ou de marca amorosa. Pouco mais.
A estreiteza da poesia é compensada
pelo alargamento da prosa? Não. Despareceram a prosa artística (que Norden bem
estudou) como a da História, a retórica judicial, a política, as memórias como
exercício de prosa de arte. O que sobra como prosa de arte é apenas a ficção.
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